De vez em quando lá me vem alguém com o mito: "ao menos no tempo de Salazar não havia corrupção". Não sei se é ingenuidade, se é o poder na negação (agora chamado de negacionismo) ou se é mesmo burrice. E para que, da próxima vez que me vierem com essa tanga de que no tempo da ditadura fascista-católica, que apesar das pessoas não terem liberdade, serem presas e mortas arbitrariamente, mas que, ao menos, era tudo gente muito séria, aqui deixo o testemunho do historiador Fernando Rosas na revista Sábado de 18 Novembro de 2020:
"Os pedidos de cunhas e de empregos ao Presidente do ConselhoOs pobres pediam-lhe dinheiro, mas as elites (médicos, engenheiros, deputados, juízes, militares, empresários, padres e condes) queriam colocações em bancos, aumentos, cargos e comendas. Durante 36 anos, o ditador acedeu a centenas de cunhas".
!Acarta, datada de 16 de junho de 1960, começava de forma pungente: “Já não é a primeira vez que, em desespero de causa, recorro à bondade de Vossa Excelência.” Maria do Céu Taborda Barreto escrevia a Oliveira Salazar a partir da rua das Pedrinhas, em Vila Real. Mãe de sete filhos, “todos rapazes, que vão dos 5 aos 20 anos”, lamentava-se que as contas domésticas tinham mais despesas do que receitas. Estas resumiam-se ao ordenado do marido – 5.700 escudos (€2.140, usando os coeficientes de desvalorização da moeda), como engenheiro e diretor de Urbanização de Vila Real – e a “uma quintinha no Douro, que tão depressa dá 12 pipas, como dá 20”.
O Caso do Acidente
Mathilde Bornhöft (viúva alemã a viver em Portugal havia 30 anos) teve um desastre com vítimas em 1951, foi presa e teve de pagar caução de 20 contos. Em 1953 o juiz absolveu-a de culpa, foi “mandada em paz”, mas não conseguia reaver a caução, que terá sido roubada num desfalque que houve no tribunal do Torel. Dizia que precisava do dinheiro para manter a sua empresa familiar. O caso resolveu-se em menos de uma semana".
O governo de Salazar além de representar a fome, a repressão e a morte, representou também o caciquismo, o favor, a cunha, o compadrio, a corrupção, tanto a pequenina, envergonhada como a corrupção ao mais alto nível, Que se acabe pois, de uma vez por todas, com este mito e esta enorme mentira.
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