Depois de meses a fio sempre a chover, aproveitei o sol e domingo passado fui dar a primeira volta de bicicleta do ano mas não foi com a segunda bicicleta que entretanto comprei porque precisa de uma afinaçãozinha no travão. O inverno é sempre uma boa altura para comprar uma bicicleta usada a bom preço e todos os dias são colocadas centenas à venda porque é quando as pessoas descobrem que têm ali um mono parado sem utilização.
Decidi rumar à ponte Dom Luís e daí virar à esquerda e ir até à praia de Avintes. A ponte continua em obras. Estas supostamente deveriam ter acabado em outubro passado mas a verdade é que a ponte ainda continua um verdadeiro estaleiro por onde as pessoas têm que passar numa espécie de gincana para conseguir chegar à outra margem. Duas mulheres que falavam espanhol vão à minha frente e eu sigo-as silenciosamente. De repente quando dão pela minha presença quase se assustam e querem-me deixar passar, como se fosse possível. Não é, porque naquele corredor de tábulas em forma de túnel uma bicicleta não consegue passar sequer por uma pessoa e o remédio é esperar pacientemente.
Mal se sai da ponte sobe-se umas centenas de metros e chegado lá ao alto avista-se para a ponte do Infante. Encostei a bicicleta, tirei o telemóvel da mochila e quando me preparava para enquadrar o cenário a bicicleta tomba com o peso da mochila num dos punhos do guiador.
Sigo viagem e fotografo os lábios do A-Rosa Alba ancorado metros à frente e lá vou pedalando tranquilamente vendo os turistas passarem nos barcos. Na praia de Avintes onde pintaram uma ciclovia constato a falta de educação ou falta de civismo ou falta sei lá do quê dos portugueses. Têm um enorme passeio junto ao rio para caminhar mas não. Fixe mesmo é caminhar todos a par pela ciclovia!
Não consigo mesmo compreender tal como não entendo como é que alguém que conduz um Renault Megane de 2016 e vira para uma rua cheia de boas moradias pode atirar, mesmo à minha frente, lixo pela janela. Não consigo mesmo compreender. E depois ainda há gente a reclamar das aulas de cidadania. É verdade que muito evoluímos desde os tempos da ditadura mas ainda nos falta melhorar tanto!
Chego até ao fim do percurso sempre junto ao rio Douro e inverto o sentido. Rumo de novo até à Ponte D. Luis e depois seguir pela Marina do Freixo até Gramido.
Coloco a bicicleta no reboque e reparo que não tenho a garrafa da água. Que estranho, tenho quase a certeza que o tinha trazido, como é possível que não esteja aqui? A verdade é que o suporte está partido, e tenho que comprar um novo, para não correr o risco de perder a garrafa. Preparo-me para entrar para o carro, quem sabe para ler um pouco do livro "Anatomia de um regicídio" que ando agora a ler enquanto refastelado no carro apanharia os últimos raios de sol do dia.
Vou à mochila, procuro e volto a procurar mas não tenho a chave. Não pode ser! Como é possível ter perdido a chave do carro? Não adianta, vou ter que chatear os meus pais que aquela hora deveriam estar entretidos com os programas deprimentes da tarde da televisão e pedir-lhes se me fazem o favor de me virem trazer a chave do jipe.
Naquela meia hora pude refletir e passar em revista todos os meus passos.
Fechei o carro e saí com a chave e sei que a coloquei dentro do bolso da mochila. Então, onde é que a poderei ter perdido? Pensa. Claro! No único ponto onde abri a mochila! No local onde tirei o telemóvel e quis fotografar. E agora tinha percebido o porquê do bidão não estar na bicicleta. Tudo fazia sentido.
Os meus pais iriam chegar e eu já sabia como proceder. Eles levariam o meu jipe que estava com o reboque da bicicleta e eu ficaria com o Toyota Scarlet e iria a pé procurar a chave perdida. Frustrada a procura restava talvez participar o extravio.
E assim foi. Estacionei o carro a umas centenas de metros da ponte e já mais agasalhado comecei a caminhar em passo apressado até ao local do crime. Estava agora a poucos metros, aproximei-me, olhei para o chão e ali estava a garrafa de água caída... procuro em volta rapidamente mas nada. A chave não estava ali. Como seria possível? O que é que levaria alguém a apanhar uma chave de um carro?
Já desanimado levanto a cabeça para cima e dou de caras com ela! Estava ali à minha frente, pendurada na parede! De facto alguém apanhou a chave do chão mas deu-se ao cuidado de a pendurar talvez para melhor chamar a atenção da pessoa que a perdeu, neste caso eu.
Aqui fica o meu obrigado a essa pessoa.
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