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segunda-feira, 28 de julho de 2025

As Pessoas de Direita Não Fodem?

 


As urgências dos hospitais continuam fechadas e as grávidas continuam a parir em ambulâncias, mas o tema discutido toda a semana - enquanto os filhos da puta dos israelitas matam os palestinianos à fome e os bebés com tiros na cabeça - foi a exclusão da sexualidade das aulas de cidadania. 

No jornal O Público li este excelente título:

"Deus, pátria e família. Sexo não"

De imediato surgiu-me outro excelente título?

"As pessoas de direita não fodem"?

E depois lembrei-me quando a Natália Correia, em 1982, que era deputada pelo PSD, num debate na assembleia da República sobre a despenalização do aborto, em resposta ao deputado João Morgado do CDS, sobe à tribuna para lhe dar uma resposta em forma de poema e em que, segundo se lê sobre o sucedido, as gargalhadas foram tantas que foi preciso proceder à interrupção dos trabalhos. 

Já que o coito - diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o órgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.

(Natália Correia - 3 de Abril de 1982 )

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Direito de Resposta - Bloco de Esquerda

Depois de publicar aqui o meu desabafo sobre a retirada das taxas moderadoras sobre o aborto, decidi enviar o mesmo texto para os partidos de esquerda que aprovaram o diploma na Assembleia da República. No site do PS deu erro, enviei para o PCP, BE e VERDES. Recebi uma só uma só resposta, vinda do Bloco de Esquerda. Percebi melhor a questão de fundo, mas acho que também terão percebido a minha sensação de injustiça. É sempre bom quando alguém tenta ao menos ouvir o que temos para dizer. Aqui deixo o e-mail que recebi em resposta, até para servir de contraditório face ao meu texto:


Caro xxxxxx xxxxx,

Tomo a liberdade de lhe responder uma vez que enviou o seu texto para o Bloco de Esquerda.

Compreendo a sensação de injustiça. Contudo, a abolição das taxas moderadoras no aborto, não tem nada a ver com o valor pecuniário. Tem a ver com a reserva da privacidade num momento que certamente não é fácil, nem para as mulheres, nem para os homens.

Todos os atos médicos relativos à saúde reprodutiva são isentos de taxas moderadoras (planeamento familiar, gravidez e maternidade, crianças). Qualquer mulher que, estando grávida, se dirija a um centro de saúde, marca a consulta com o seu médico, mas não paga taxa moderadora. Ninguém sabe o que se passa dentro do consultório médico nem tem de saber. Ora se uma mulher se dirige a um serviço de saúde reprodutiva de um centro de saúde ou hospital (onde tem de ir para proceder à IVG) e paga taxa moderadora é comprometido o anonimato do ato, porque fica registado, nos serviços administrativos, para todos saberem, que aquela mulher fez um aborto. Porque de todos os atos da saúde reprodutiva esse passaria a ser  único a pagar taxas moderadoras. E esse é um ato que respeita unicamente à mulher e ao médico.

Por fim, ainda que comece por dizer que as mulheres não engravidam sozinhas, termina a sua exposição num desabafo que visa unicamente as mulheres. Aproveito para relembra-lo que não são apenas as mulheres que engravidam irresponsavelmente mas também os homens, pois como muito bem refere não se engravida sozinha. Mas infelizmente, na maior parte dos casos, até é a mulher, que sozinha tem de tomar a decisão e arcar com as consequências psicológicas, emocionais e físicas do ato. Já basta isso. Não tem de ser apontada a dedo, sofrer perseguições e tudo o que se pode esperar destas situações (especialmente nos meios mais pequenos).

No que respeita ao pagamento de taxas moderadoras para doentes crónicos, estamos absolutamente de acordo. O Bloco de Esquerda sempre se bateu por essa isenção, sempre se bateu contra o aumento das taxas moderadoras ocorridas na última legislatura e defende que o acesso à saúde em iguais condições para todos os cidadãos e cidadãs é obrigação do Estado. Aproveito para informá-lo que enquanto doente crónico tem direito a isenção de taxas moderadoras em todos os atos médicos que respeitem à sua doença. ou seja, se por exemplo tiver diabetes é isento de taxas moderadoras nas consultas relativas aos diabetes mas não, por exemplo, relativa a uma gripe ou qualquer outra condição

Aproveito para saudar a iniciativa de entrar em contacto e fazer-se ouvir.

Com os melhores cumprimentos,  

Sandra Cunha
Deputada do Bloco de Esquerda


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

IVG e as Taxas Moderadoras

Ouvi falar de novo das Taxas Moderadoras na Interrupção Voluntária na Gravidez esta semana na rádio, aquando da nova votação na Assembleia da República no sentido de obrigar, o ainda em exercício Presidente da República, a promulgar a lei que voltará a permitir que as mulheres não tenham de pagar para realizar um ato médio, nomeadamente para que possam abortar livremente quantas vezes quiserem sem terem de pagar qualquer importância, ainda que essa importância de 7,75€ seja a dividir por dois, visto que ninguém engravida sozinha. 

Mas antes de expor os meus argumentos gostaria de deixar uma declaração de intenções a quem quer que possa ler este texto:

Primeiro. Sinto-me completamente à vontade, pois nenhum dos deputados que alapam o cu na Assembleia da República me representa, visto não ter votado em nenhum dos partidos que obtiveram representação parlamentar. Acrescento ainda, para que não haja dúvidas: nunca votei num partido de direita.

Segundo. Sou completamente favorável a que a Saúde seja gratuita para todos, sem que ninguém tenha de pagar para se tratar, pois entendo que a Saúde não é um negócio, mas sim uma obrigação do Estado. Acho que é principalmente para isso que pagamos impostos e não, por exemplo, para pagar as dívidas de bancos ou outras empresas privadas. 

Terceiro. Sou totalmente favorável à atual lei do aborto.


Posto isto dizer que é revoltante para mim, ver os deputados dos partidos de esquerda, em uníssono, venham legislar no sentido de que as mulheres possam voltar a abortar sem terem de pagar taxas moderadoras. Não é para mim o valor que está em causa, nem tenho nada contra as mulheres que querem abortar, mas uma questão de moral, de um sinal que se dá, de prioridades muito invertidas. Olho para outros os casos, desde logo o meu e vejo a enorme discriminação que pessoas como eu são alvo. 

A minha primeira pergunta é: - Por que é que eu, doente crónico, portador de duas doenças auto-imunes, que nada fez através do seu comportamento para as ter, tenho de pagar taxas moderadoras - que moderam afinal o quê? - como é que se modera uma doença genética conseguem-me explicar como se eu fosse muito burro?  - e se tenho de pagar as frequentes consultas das inúmeras especialidades em que tenho de ser seguido; e se tenho de pagar as inúmeras análises e exames a que frequentemente estou sujeito, pergunto: porque raio uma mulher, que tem preservativos gratuitos nos centros de saúde, que tem consultas de planeamento familiar em que são dadas pílulas contracetivas igualmente de forma gratuita, e que ainda têm, em caso de algum imprevisto ocorrer, a pílula do dia seguinte nas farmácias para solucionar o "problema", e se ainda assim conseguem engravidar, por clara irresponsabilidade, expliquem-me então por que é que para vós, é esse o maior ato de justiça e de prioridade nas taxas moderadoras? É só por uma questão ideológica ou é só mesmo para chatear o Presidente da República e os partidos de direita agora que têm uma maioria no parlamento? Porque se é então estamos muito mal. 

O que daqui posso entender é que: para os deputados dos partidos de esquerda, que votaram favoravelmente este diploma, é que afinal o aborto é um método contracetivo. A mensagem que passam é: façam sexo à vontade, não se dêem ao trabalho de usar métodos contracetivos, que em último caso vão abortar ao hospital de borla! Estão os hospitais públicos, pagos com os impostos de todos nós, ali de pernas abertas para passar a mão pela cabeça das mulheres irresponsáveis, que engravidam uma, duas, três quantas vezes for preciso num ano! 

Doentes crónicos que têm doenças para toda a vida: Sim! Que paguem consultas, que paguem análises, que paguem exames, afinal são culpados por terem nascido com uma (ou duas) doença que não tem cura.

Mulheres que fodem irresponsavelmente, que engravidam por culpa exclusivamente própria, porque têm à sua disposição contracetivos gratuitos nos centros de saúde: Não! Coitadinhas, não podem pagar os 7,75€ de taxa moderadora que é a dividir por dois, por si e pelo homem que consigo engravidou.

Só pode mesmo haver algo de muito de errado com as prioridades dos nossos excelentíssimos deputados.