quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

IVG e as Taxas Moderadoras

Ouvi falar de novo das Taxas Moderadoras na Interrupção Voluntária na Gravidez esta semana na rádio, aquando da nova votação na Assembleia da República no sentido de obrigar, o ainda em exercício Presidente da República, a promulgar a lei que voltará a permitir que as mulheres não tenham de pagar para realizar um ato médio, nomeadamente para que possam abortar livremente quantas vezes quiserem sem terem de pagar qualquer importância, ainda que essa importância de 7,75€ seja a dividir por dois, visto que ninguém engravida sozinha. 

Mas antes de expor os meus argumentos gostaria de deixar uma declaração de intenções a quem quer que possa ler este texto:

Primeiro. Sinto-me completamente à vontade, pois nenhum dos deputados que alapam o cu na Assembleia da República me representa, visto não ter votado em nenhum dos partidos que obtiveram representação parlamentar. Acrescento ainda, para que não haja dúvidas: nunca votei num partido de direita.

Segundo. Sou completamente favorável a que a Saúde seja gratuita para todos, sem que ninguém tenha de pagar para se tratar, pois entendo que a Saúde não é um negócio, mas sim uma obrigação do Estado. Acho que é principalmente para isso que pagamos impostos e não, por exemplo, para pagar as dívidas de bancos ou outras empresas privadas. 

Terceiro. Sou totalmente favorável à atual lei do aborto.


Posto isto dizer que é revoltante para mim, ver os deputados dos partidos de esquerda, em uníssono, venham legislar no sentido de que as mulheres possam voltar a abortar sem terem de pagar taxas moderadoras. Não é para mim o valor que está em causa, nem tenho nada contra as mulheres que querem abortar, mas uma questão de moral, de um sinal que se dá, de prioridades muito invertidas. Olho para outros os casos, desde logo o meu e vejo a enorme discriminação que pessoas como eu são alvo. 

A minha primeira pergunta é: - Por que é que eu, doente crónico, portador de duas doenças auto-imunes, que nada fez através do seu comportamento para as ter, tenho de pagar taxas moderadoras - que moderam afinal o quê? - como é que se modera uma doença genética conseguem-me explicar como se eu fosse muito burro?  - e se tenho de pagar as frequentes consultas das inúmeras especialidades em que tenho de ser seguido; e se tenho de pagar as inúmeras análises e exames a que frequentemente estou sujeito, pergunto: porque raio uma mulher, que tem preservativos gratuitos nos centros de saúde, que tem consultas de planeamento familiar em que são dadas pílulas contracetivas igualmente de forma gratuita, e que ainda têm, em caso de algum imprevisto ocorrer, a pílula do dia seguinte nas farmácias para solucionar o "problema", e se ainda assim conseguem engravidar, por clara irresponsabilidade, expliquem-me então por que é que para vós, é esse o maior ato de justiça e de prioridade nas taxas moderadoras? É só por uma questão ideológica ou é só mesmo para chatear o Presidente da República e os partidos de direita agora que têm uma maioria no parlamento? Porque se é então estamos muito mal. 

O que daqui posso entender é que: para os deputados dos partidos de esquerda, que votaram favoravelmente este diploma, é que afinal o aborto é um método contracetivo. A mensagem que passam é: façam sexo à vontade, não se dêem ao trabalho de usar métodos contracetivos, que em último caso vão abortar ao hospital de borla! Estão os hospitais públicos, pagos com os impostos de todos nós, ali de pernas abertas para passar a mão pela cabeça das mulheres irresponsáveis, que engravidam uma, duas, três quantas vezes for preciso num ano! 

Doentes crónicos que têm doenças para toda a vida: Sim! Que paguem consultas, que paguem análises, que paguem exames, afinal são culpados por terem nascido com uma (ou duas) doença que não tem cura.

Mulheres que fodem irresponsavelmente, que engravidam por culpa exclusivamente própria, porque têm à sua disposição contracetivos gratuitos nos centros de saúde: Não! Coitadinhas, não podem pagar os 7,75€ de taxa moderadora que é a dividir por dois, por si e pelo homem que consigo engravidou.

Só pode mesmo haver algo de muito de errado com as prioridades dos nossos excelentíssimos deputados. 

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