Mister Stoyle era um rico que já fora pobre. Nos seis anos decorridos entre o dia que fugira de casa do pai e da avó, em Nashville, e o dia em que fora adotado pela ovelha ranhosa da família, o tio Tom, da Califórnia, Jo Stoyle aprendera - ao que suponha - tudo o que se podia aprender sobre a pobreza . Ficara-lhe desses anos um ódio inveterado às circunstâncias da pobreza, e, ao mesmo tempo, um enextirpável desprezo por todos os que, por demasiadamente estúpidos, fracos ou sem sorte, não tinham logrado sair do inferno em que caíram ou nasceram. Os pobres eram-lhe odiosos, não apenas por constituírem uma ameaça potencial à sua posição na sociedade, não apenas por os seus infortúnios reclamarem uma simpatia que não estava disposto a dar, mas também por lhe lembrarem o que sofrera no passado e, ao mesmo tempo, porque o facto de ainda serem pobres era prova suficiente, a um tempo, da sua desprezibilidade e da superioridade dele, Jo. E, já que sofrera o que eles sofriam agora, era apenas justo que continuassem a sofrer o que ele tinha sofrido. Além do mais, visto como a continuação da pobreza, provava a desprezibilidade dessa gente, era justo que ele, agora rico, os tratasse como às criaturas desprezíveis que mostravam ser. Era esta a lógica das emoções de Mister Stoyte. E vinha agora Bill Propter censurá-la, dizendo ao agente que não deviam aproveitar-se da superabundância do trabalho para para baixar os salários: que, pelo contrário, deviam aumentá-los - imaginem! - numa época em que os vagabundos pululavam no Estado como uma praga de gafanhotos... E não era tudo: que deviam construir-lhes acomodações, cabanas como as que ele próprio - aquele idiota! - lhes construíra: cabanas de dois quartos, que custavam seiscentos e setecentos dólares, para gente dessa laia, as suas mulheres e aquelas crianças nauseabundas, tão sórdidas que ele nem nos hospital as receberia - a menos que estivessem realmente a morrer de apendicite ou coisa que o valha, pois, nesse caso, naturalmente, não podia rejeitá-las. Mas fosse como fosse, onde diabo tinha Bill Propter a cabeça? E esta não era a primeira vez que ele tentava intrometer-se.
Também o cisne morre / Aldous Huxley / 1939
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