Há uns meses atrás visitei pela primeira o Palácio do Freixo no Porto. Há sítios especiais, que passamos por eles todos os dias, mas que curiosamente, e vá lá saber-se porquê, acabamos por nunca entrar para fazer uma visita. Talvez estivesse escrito que teria de ser naquele dia cinzento e de alguma chuva miudinha intermitente.
Entrei e dirigi-me à receção para perguntar se poderia visitar o palácio e se o poderia fotografar, ainda que num outro dia, pois a luz daquele dia não estava muito propícia a grandes fotografias. Muito simpaticamente disseram-me que sim, que poderia estar totalmente à vontade.
Já depois de visitar e admirar o restauro das divisões interiores, interpelo um outro funcionário, creio que para saber como fazer para visitar o jardim, e ele acolhe-me de imediato com um: "Essa T-shirt é muito fixe"! e simpaticamente se mostrou extremamente solícito. Eu simplesmente sorri, totalmente desarmado por aquele comentário inesperado. Confesso que gosto mesmo de pessoas simpáticas, mas nem preciso que me elogiem a indumentária, basta só serem simpáticas!
Entretanto esta semana fui escolher um novo CD para meter no leitor do carro, pois já lá andava há muito tempo com o Velvet Darkness They Fear e então escolhi o Gothic Kabbalah da banda sueca Therion. E sim, estamos precisamente a falar do álbum que estava estampado na camisola aquando da visita ao palácio.
"She's the wisdom, she's the truth: The Eternal Sophia
Perennial, beyond the time, she is the one
You're the river, you're the womb
The perennial
(The) Sophia...
Sophia..."
"Sophia, I believe in you, your light...
Shine inside my soul, I feel the sun from above
Sophia, I believe in you, your light is so bright
Shine inside my soul, I feel the sun from above"
E a felicidade para mim é isto: são breves momentos. Tirando situações especiais, ninguém é estupidamente feliz o tempo todo, nem triste o tempo todo. "Olá, 'tá tudo bem"? Não, nunca está tudo bem, mas também não pode estar tudo mal. A felicidade não se atinge só com o abraço mágico de duas almas que se reencontram, não há nada comparável, mas esses momentos são únicos na vida e dificilmente se repetem. Nem têm de ser grandes conquistas ou o atingir de grandes objetivos, porque mal são atingidos já são passado e a vida tem de continuar e precisa de novas motivações.
Para mim momentos de felicidade podem ser pequenos nadas. Por vezes bastam só coisas insignificantes, como umas linhas dum livro que se está a ler, ou pode até ser uma coisa tão simples como ver como uma árvore quase morta nos recompensa com a sua beleza, só por a termos salvo de uma morte certa junto ao caixote do lixo. Como pode ser o regresso da ave que todos os anos vem passar o inverno connosco. Pode ser qualquer coisa insignificante, como uma simples música que subitamente tem o condão de mudar o nosso humor... Por vezes esses pequenos nadas são o suficiente para me deixar feliz, ainda que só por alguns momentos.. E às vezes até pode nem acontecer nada. Podemos não ter um único motivo para sorrir, mas de repente somos invadidos por uma imensa felicidade. Claro que depois voltamos ao estado normal, mas já valeu a pena, pois pode estar tudo errado, mas por breves momentos fomos felizes sem qualquer motivo.
Suponho que não é só a mim que isso acontece... a não ser que eu seja um caso de psiquiatria. E a avaliar pelas figurinhas que fiz, se alguém visse, acharia certamente que sim!
Mas o funcionário tinha razão. A camisola é realmente muito fixe - por isso é que a comprei certo?! - mas a música é ainda melhor. Se calhar ele até conhecia, mas acho que não, porque nem comentou nada sobre a banda. Se calhar só achou mesmo que a T-shirt é muito fixe!