sábado, 26 de janeiro de 2019

"O que eu gosto em si é a sua alegria e otimismo"

Em poucos minutos a conversa estava já incontrolável, o que comigo não é nada difícil de acontecer. Eu pareço uma espécie de soldado com a metralhadora descontrolada a disparar palavras por todos os lados. Acho que no entanto deixei espaço para a ouvir, ainda por cima ela é daquelas pessoas que tem um timbre de voz que dá gosto ouvir. Há pessoas assim, que ainda não conheço pessoalmente mas já gosto da sua voz. Ela foi um desses casos.

E assim do nada disparo inesperadamente:
- Já viu como tenho as mãos?
"Já tinha reparado, mas não disse nada."
Ela já tinha reparado... Recentemente é pelo menos já a segunda pessoa que me diz que "já tinha reparado". E se calhar, agora que penso, já não há mesmo como não reparar. Mas não interessa, porque fui eu que fiz questão de lhe mostrar! Na verdade, pensando bem, acho que agora passo a vida a mostrar as minhas mãos às pessoas.

Foto emprestada da net
E já agora, faço aqui um parêntesis para me dirigir às duas leitoras que comentaram na publicação "As últimas palavras que me escreveste". Da mesma forma que vos disse na altura, que, só quem está à vontade com o seu passado é que fala abertamente dele, também só quando aceitamos uma doença ou uma deficiência é que, alegremente, até fazemos reclame dela. Porque se querem saber, durante muito tempo eu escondi as mãos, e logo eu, que sempre falei muito com elas... E ter de passar a escondê-las não era fácil. 

Muito bem. Ela tinha então já reparado nas minhas mãos...
Mas o mais engraçado foi que, minutos depois, sem nada que o fizesse prever, e com todo o à vontade do mundo, aquela mulher, que nada sabe de mim e com quem só tinha estado uma meia dúzia de vezes, talvez uns dois ou três minutos de cada vez, o tempo suficiente para pegar numa encomenda e colocá-la na mala do carro, e a quem eu sempre, respeitosamente, estendi a mão, de repente, com enorme à vontade (defeito profissional?) pega-me nas mãos e lentamente começa a massajá-las...

Ainda conversamos mais uns quantos minutos, até que a chuva fez questão de nos interromper, e também de me lembrar que tinha de ir trabalhar. Coloquei-lhe a encomenda na mala do carro, mas desta vez não lhe estendi a mão. Disse-lhe-lhe:
- Olhe, vou-lhe dar dois beijos! 
"Também já tinha pensado nisso", respondeu-me! 

Cada um foi à sua vida e eu fiquei a reviver aquele encontro meio surreal. Retive uma frase que ela me disse:
"O que eu gosto em si é a sua alegria e otimismo"...

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