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domingo, 12 de dezembro de 2021

Por Isso é Que o Trump Nunca Teve um Blog ou Não Há Ócio Que Não Dê em Negócio

https://www.pikist.com/

Depois de quase sete anos de outra coisa qualquer,  2021, que está agora a acabar (e parece que ainda foi ontem que tantos suspiravam em 2020 por um novo ano que findasse com a pandemia, e ainda tanta pandemia temos pela frente) tem sido um ano de mudanças para mim.

Nem que seja só nas rotinas. 

Sempre que algo acaba há necessariamente algo que muda, nem que seja nas rotinas. Todas essas rotinas de levantar e rumar a um determinado destino e estar 8h com determinadas pessoas e passamos a ter outras rotinas, nem que seja deixar de ter rotinas e ficar um pouco mais na cama ou fazer uma sesta depois de almoço. E tão bem que me soube fazê-la durante uns meses. 

Há um ditado que diz "põe-te a dormir que depois comes do sono". Como quem diz "não te mexas e espera que as coisas venham ter contigo".

Mas a verdade é que as coisas acabaram mesmo por vir ter comigo, sem eu mexer uma palha. E, de um dia para o outro, ainda que mais ou menos temporariamente, a minha vida deixou de ter quase todo o tempo livre para fazer o que me apetecesse, para passar a trabalhar de segunda a sábado. Acabou-se o bem bom do ócio para vender o meu tempo livre. 

E basicamente é isto. Ultimamente a minha vida resume-se a trabalhar e treinos de ténis-de-mesa, duas vezes por semana, quase sempre sem tempo, mas, principalmente, sem vontade, daquela falta de vontade tantas vezes transformada em "dores de cabeça", para parar um pouco e escrever aqui no diário, as minhas lamentações. Porque escrever um texto, por pequeno que seja, exige bem mais do que partilhar uma frase no Twitter. E por isso é que o Trump escrevia uns 25 tweets por dia mas nunca teve um blogue (e eu até tenho três).

sábado, 5 de janeiro de 2019

Os Salários que o Correio da Manhã Oferece

Esta semana, apesar do desemprego ter caído para níveis históricos (o mais baixo dos últimos dez anos) o escarro jornalístico mais vendido no país, veio de novo com a notícia que os portugueses não querem não sei quantos milhares de empregos e que há não sei quantos mil que recebem subsídio de desemprego:




E de repente lembrei-me dos salários que o Correio da Manhã oferecia há não muito tempo (2013). A notícia correu pelas redes sociais:



Depois de, em Janeiro, ter anunciado através do Facebook que seria a nova correspondente da Correio da Manhã TV e do CM Jornal de Vila Real, cabe-me utilizar a mesma via para atualizar a informação. Decidi não continuar no projeto.

Para que não restem dúvidas, depois de ter assinado contrato e de ter tido as melhores críticas na formação da empresa, fui informada que, além de ser, na altura, a única pessoa no país que iria desenvolver uma espécie de “one woman show” (repórter de imagem, editora de imagem, jornalista de tv, jornalista de imprensa e fotógrafa,) para as áreas de Vila Real e Bragança, e que “sobre folgas falamos lá para 2017”, também seria a única pessoa no país a utilizar viatura própria e a ter de suportar com o meu ordenado - de 680 euros, a recibos verdes – os gastos associados ao desgaste do carro. Ou seja, a Cofina propôs-me o trabalho de cinco profissionais pelo preço de um – 680 euros é o que vai pagar aos restantes colaboradores, contratados no mesmo sistema, mas “apenas” com uma das funções – e o pagamento de 18 cêntimos por quilómetro, quando paga, em média, 30 cêntimos por quilómetro aos colaboradores freelancer.

Não se preocupem, contudo, os futuros espectadores do novo canal, pois a empresa já arranjou novos colaboradores para os dois distritos. Quase fizeram tão bom negócio como teriam feito comigo. Um dos profissionais vai receber à peça e ao outro, além da avença mensal, vai ser pago apenas o combustível.

Resta-nos a esperança de que, com o que vai poupar com os jornalistas no terreno, o canal tenha capital suficiente para primar pela qualidade e pela diferença, para se poder assumir, como afirma, o novo canal líder generalista. Nós, espectadores, críticos e empresas de medição de sondagens, cá estaremos para o comprovar.


De facto é inadmissível como é que há portugueses a recusar-se a pagar para trabalhar. É o fim do mundo e merece destaque de primeira página!

sábado, 18 de março de 2017

Queres vir dar uma volta de bicicleta?

Desde sempre que me lembro de andar de bicicleta. Há uma fotografia minha, a agarrar na primeira bicicleta que tive, e que foi o meu pai que a montou com as próprias mãos. Só tinha três anos de idade nessa fotografia. Antes disso lembro-me do triciclo e da trotinete. E toda a gente pensava que eu me ia matar com a trotinete, quando pegava nela e ia a toda a velocidade monte abaixo. 

Andei muito de bicicleta em criança, quando a rua de minha casa ainda era em terra. E andei mais ainda na adolescência, quando o piso já era de um asfalto manhoso, cheio de sulcos. Era uma simples camada fina de espiche por cima da brita, e montado em cima da bicicleta sentia-se uma leve trepidação. 

Chegou a vida adulta, e trouxe os passeios frequentes com o melhor amigo e com a namorada, não raras vezes na companhia de ambos. Muitos anos passaram entretanto. Foi-se o amigo, foi-se a namorada. Ficou a minha vontade de continuar a andar de bicicleta. 


Um outro companheiro haveria de chegar depois: o desemprego. O desemprego fez de mim uma pessoa muito rica, não em dinheiro obviamente, mas em tempo. E para aproveitarmos a vida, nem que sejam só as pequenas coisas da vida, é preciso tempo. E há tanta coisa bela na vida, se as pessoas conseguissem ver. Sim, nem que fosse só um grilo a cantar. E juntos, eu e o desemprego, divertimo-nos imenso. E com tanto tempo livre que o desemprego me deu, pegava na bicicleta e andava por aí, a conhecer coisas, na minha própria aldeia, coisas que eu nem sabia que existiam. Por vezes pedalava como um desvairado pela aldeia toda. Era também para as pessoas verem. Afinal eu ainda não estava numa cadeira de rodas, eu estava muito bem até, obrigado. 


E agora tenho, de novo, duas bicicletas. Uma de montanha (por que é que os carro são "todo-terreno" e as bicicletas são de "montanha"?) e outra dobrável. A desculpa que eu dou a mim mesmo é que me vai dar muito jeito, para meter na mala, e até na hora de almoço do trabalho, poder ir dar uma volta. Se quiser até a posso deixar lá no trabalho. Também posso sair, e ir até ao mar. Afinal, eu trabalho a menos de 10Km do mar. Posso, um dia de vez em quando, sair do trabalho, e ir até ao mar. Pegar na bicicleta que se dobra e desdobra facilmente, e ir pedalar um pouco. Apanhar a maresia. Talvez me faça bem, talvez me limpe o diabito que por vezes carrego comigo. 

Dou a mim todas estas desculpas, que nem serão propriamente desculpas. Até porque, eu não tenho por hábito comprar coisas para depois as encostar sem lhes dar utilidade. Mas não terei eu comprado uma segunda bicicleta, e as duas até caberão dentro na carroça, para um dia destes perguntar a alguém: queres vir dar uma volta de bicicleta?

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Vídeo: O último emprego na Terra

De acordo com os cientistas, nos próximos trinta anos, as máquinas podem ocupar 50% dos empregos a nível mundial. No vídeo imaginemos um mundo completamente automatizado. 


quarta-feira, 19 de agosto de 2015

O abraço que lhe devia ter oferecido

Dois dias longe de casa a passear, ora sozinho, ora acompanhado por amigos na maior parte do tempo, e um dos momentos que mais me marcou, foi já pouco antes de os deixar em Coimbra e regressar ao leito da minha querida almofada.

Antes da visita à mata, já lá tinha entrado para pedir um mapa com os diferentes percursos, mas foi ao fim da tarde antes de vir embora, que lá voltei aquela loja daquele palácio para dar uma vista de olhos nos artigos que por lá tinham à venda, quando no fundo até já sabia o que iria comprar, mas foi com o meu jeito sempre tão natural de fazer conversa que fiquei a saber um pouco mais sobre a pessoa que estava por trás do balcão.

E mal saí da porta, depois de lhe ter desejado muita sorte e que tudo de bom lhe aconteça no futuro, que eu e a amiga que estava comigo - que também não gosta nada de conversar - olhámos um para o outro e comentámos: "ela estava mesmo triste".


freeimages.com

Nos poucos minutos que estivemos à conversa, aproveitando o facto de não estar por lá mais ninguém, aquela pessoa ficou a saber um pouquinho sobre mim, que estive desempregado bastante tempo e como até tive alguma sorte de encontrar algo aceitável atendendo à realidade bem negra que o país atravessa. E talvez por se ter sentido identificada com algumas das coisas que ouviu - a irmã até tem a mesma doença que eu  - foi então que aquela pessoa que estava ali atrás do balcão, e que é paga para vender e não para falar da sua vida pessoal, acabou mesmo por desabar um pouco, e nos mostrar como este país trata as pessoas que tentam viver dignamente.

São estas realidades destas pessoas, estes dramas pessoais - "tenho muitas coisas nas minhas costas" disse-nos - que a corja de políticos deveria estar empenhada, primeiro em ouvir, e depois em ajudar e melhorar as condições de vida das pessoas, e não em fazer precisamente o contrário, espezinhando os que pouco ou nada têm, e dificultar cada vez mais a vida a quem quer trabalhar, e protegendo e metendo tudo no cu dos patrões e dos mais ricos, para que eles multipliquem ainda mais o muito que já têm. E quem não estiver bem que se ponha, pode sempre imigrar, pois assim sempre ajuda a baixar os números do desemprego, e quando todos os desempregados e todos os precários deste país imigrarem, dá-se o milagre do pleno emprego.

Além do flagelo do desemprego, que eu mesmo senti na pele, há depois o não menor drama daqueles que têm emprego mas são verdadeiramente escravizados. trabalhando muitas vezes mais de oito horas por dia, a troco de pouco mais que nada. Foi o que nos contou esta pessoa, que além de ganhar o salário mínimo a recibos verdes, o que significa que lhe sobra muito pouco depois do que lhe roubam em impostos, e ainda tem de trabalhar bem mais que oito horas por dia. Mais do que vergonhoso, estas situações são verdadeiramente revoltantes. 

No dia de ontem, quem entra e vê esta pessoa que estava ali a trabalhar naquele palácio, tentando mostrar a sua melhor cara, sempre simpática para quem chega, está longe de imaginar quão difícil é a sua vida. Naquele dia em que lá estive e ela me mostrou a sua melhor cara e simpatia para me vender o ser vivo que resolvi trazer como recordação daquele passeio, ficamos a saber que ela tinha uma prima que ia a enterrar naquele dia, e que nem sequer pôde estar presente porque "nem sequer podemos faltar ao trabalho" pois é vítima dos falsos recibos verdes, que deveriam ser combatidos, mas que é o próprio Estado na pele dos políticos corruptos que continuam a perpetuá-los. 

Há muito que deixei de acreditar que conseguiria mudar o mundo, mas sinceramente o que eu acho que ao menos deveria ter feito, era ter-lhe oferecido um abraço sentido.

domingo, 2 de agosto de 2015

Um ano de outra coisa qualquer...

Os dias passam muito rápido e num abrir e fechar de olhos, já passou um ano desde que voltei a trabalhar. O destino havia de me reservar uma empresa com um nome de banda de Gothic Metal, mas o mais importante, haveria de me reservar também o ambiente mais surreal que alguma vez encontrei numa empresa. Acho que surreal é mesmo o adjetivo!

Os primeiros meses não foram propriamente fáceis e se calhar por culpa própria. Mais do que as mil-e-uma-coisas diferentes que tive de aprender, creio que foi mais a ansiedade, o nervosismo e o medo de falhar que me complicaram a vida. Foi muito tempo desempregado, e a sociedade e a merda dos políticos que nos infernizam a vida estigmatizam-nos, e vendem a ideia que os desempregados umas sanguessugas mandrionas, uns verdadeiros criminosos que nada querem fazer, quando os verdadeiros criminosos são os políticos que nos roubam o dinheiro que descontamos muitos anos, para o termos disponível quando ficamos desempregados contra a nossa vontade. 

Eu acho que sei bem o que valho, principalmente como pessoa, mas também no local de trabalho. Mas é normal que comecemos a duvidar das nossas capacidades. Foi muito tempo fora da realidade laboral, há toda aquela inércia, o voltar para a rotina, o conhecer um novo ambiente, novos colegas, novos desafios, acho que é normal passar-se por esses período de ansiedade. Bom, em boa verdade talvez eu tenha ficado um bocado ansioso de mais.

Mas aos poucos as coisas foram entrando nos eixos. Começamos a ficar mais confiantes, mais autónomos, no fundo começamos a conhecer os cantos à casa e o trabalho de todos os dias deixa de ter segredos para nós, e começamo-nos a sentir parte da equipa. 


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Depois não tenho chefes, nem chefinhos, coordenador ou team leader ou outro qualquer anglicismo com nome pomposo que até parece uma coisa importante. Não tenho ninguém a foder-me o juízo constantemente. Tenho patrões e é a eles que respondo. Por vezes passam-se dias que o patrão nem vem ver o que ando a fazer. E eu gosto disso. Sei o que tenho para fazer, como fazer, sou responsável pelo meu trabalho e ele tem de aparecer bem feito. 

Depois o ambiente. Por vezes acho que é verdadeiramente surreal. Infelizmente não vos posso contar algumas das peripécias, pois certamente deve existir um qualquer código ético-deontológico do trabalho que não permite que violemos o sigilo laboral. Afinal, o que se passa no trabalho, deve ficar no trabalho certo? Mais ou menos como qualquer cavalheiro que nunca revela nada acerca das senhoras com quem confraternize!

E foi um ano em que ainda não tive de enfrentar o meu - eufemisticamente - a minha antipatia a meter-me dentro de um avião. E no fundo esse foi o meu principal motivo de ansiedade. Mas não tive de ir dar uma voltazita ali a África ou ao Brasil. Um ano depois, talvez esteja agora mais preparado a enfiar-me nessa máquina voadora, para voluntariamente, a lazer e não a trabalho, experimentar a coisa. Quem sabe?

Foi um longo calvário de desemprego. Os únicos vestígios que ficaram é um moreno, não castanho escuro, mas quase dourado na minha pele, verdadeiramente de fazer inveja! Um ano sem fazer praia, e a minha pele outrora branca, típica de quem tem cabelos loiros e olhos claros, ainda apresenta agora um moreno permanente de três anos de desemprego, mas de quem nunca ficou dentro de casa e aproveitou o sol. Afinal o sol quando nasce é para todos, mesmo para os desempregados. 

Um ano passou-se num ápice e na verdade gosto muito de trabalhar lá e não nada há dinheiro que pague sentirmo-nos bem no local de trabalho. Nesta sociedade somos obrigados a trabalhar para ter o que comer. E é o sítio onde passamos mais tempo, então, que seja ao menos um local onde nos sintamos minimamente confortáveis. Nem sempre é possível, eu tive essa sorte. 

domingo, 3 de agosto de 2014

Desemprego: o fim do calvário e o princípio de outra coisa qualquer

Passaram mais de três anos, e muito poucas entrevistas depois (apesar dos muitos currículos enviados) e estou de volta ao mercado de trabalho. Estar desempregado não é fácil, e não o é unicamente por um motivo: a falta de dinheiro. Não fosse o problema do dinheiro, e esta sociedade assentou as suas bases na escravatura do dinheiro e do trabalho em prol de outrem, e quem não o tem, ou vai pedir, ou rouba, ou monta uma tenda num qualquer terreno baldio e planta para comer. Não tendo dinheiro, as pessoas não têm direito a nenhuma dignidade, principalmente se tiverem carro e casa, se não tiverem ainda podem receber um qualquer apoio da segurança social. Como eu tinha um carro e uma casa, em caso de fome, a segurança social manda-me comer os faróis do carro, ou as grades da varanda; deve ser por isso que quem tem uma casa e/ou um carro não tem apoios neste país depois de ter sido roubado na duração e valor do subsídio de desemprego para o qual descontou durante mais de uma década.

Mas sejamos honestos, não fosse esse pequeno "pormaior" e estar desempregado seria melhor coisa do mundo! Temos tempo, e é sempre importante termos tempo, apercebe-mo-nos até da mudança das estações; é tão desagradável quando em pleno inverno, saímos de casa de noite, e é à noite que regressamos e nem sequer vemos o sol. E é assim que se desperdiça toda um vida inutilmente. Sim claro, a trabalhar em prol de outrem, para ter o tal dinheiro para termos direito a poder existir. 
E temos todo o tempo do mundo. Em três anos relvei as extensas áreas em volta da minha casa, plantei, trabalhei e tenho agora um espaço aprazível. Se estivesse a trabalhar nunca que o conseguiria ter feito ao fim-de-semana, e se fosse a pagar, pagaria rios de dinheiro pelo trabalho que eu mesmo fiz.

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Mas é a falta do dinheiro que nos complica a vida. É pela falta de emprego e consequente falta de dinheiro que nos obriga, por um lado a conter e diminuir as despesas - cancelam-se serviços supérfluos por exemplo, pois "quem não tem dinheiro não tem vícios" - e por outro a perceber o que podemos fazer para o arranjar. E é então que se vende um monte de coisas que já não precisamos, fazem-se biscates, e faz-se, eu pelo menos fiz, o que fosse preciso para ganhar uns tostões; sim claro, nada ilegal, até porque roubar é ilegal! Isto apesar de ironicamente "toda a propriedade privada vir de um roubo".

Até que três ou quatro entrevistas depois, e tendo resistido ao alerta deste governo de canalhas que nos incentivava a emigrar para baixar o desemprego, lá conseguimos quase o milagre de conseguir um emprego. Um dia antes de começar, a minha ansiedade é tal, que acho que tenho a mesma motivação de um condenado à morte no dia anterior à execução. Sempre fui ansioso e masoquista a sofrer por antecipação, não é agora com esta idade que as coisas irão mudar. Inicia-se uma nova fase, novas coisas virão.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

E não querem também uma fotografia do pénis?

Estava aqui a consultar a miséria das ofertas de trabalho que vão aparecendo, e em duas ou três ofertas seguidas, colocam nos requisitos algo que me deixou de imediato intrigado: "enviar CV detalhado com fotografia". 



Não estando eu a procurar trabalho, nem como modelo fotográfico, nem de passerelle, em que ter uma carita loroca, além da altura, parece que ajuda, não entendo muito bem, como é que estes idiotas conseguem fazer uma espécie de rastreio dos candidatos pelas fotografias recebidas. 

Gostava que alguém, destas áreas do pessoal, da psicologia, ou como agora lhe chamam, dos "recursos humanos" - como se uma pessoa fosse alguma máquina de fazer rolhas para ser um recurso! - me explicassem quais os indicadores que uma cara pode transmitir a uma pessoa que faça o trabalho de recrutamento!

-Será que pela cara se consegue diferenciar a experiência e as capacidades do candidato? Isso vê-se onde?No penteado? Formato do nariz? No tamanho das suiças? Será que a cara do candidato está para o recrutador, como as linhas das mãos para quem supostamente adivinha o futuro pela quiromancia? 

E já agora uma foto dos genitais não? Certo imperador romano passeava-se pelos banhos públicos e observava atentamente os pénis dos homens, e ficou conhecido na história por promover aqueles que tivessem o badalo maior! 

domingo, 24 de novembro de 2013

Ser desempregado em Portugal

Escrever sobre a realidade do desemprego é um tema que, infelizmente, uma grande parte da população portuguesa recentemente se tornou especialista. Estamos a falar de milhões de especialistas forçados porque esse flagelo lhes bateu à porta, e não daqueles especialistas em multi-temas, que os noticiários das televisões pagam a peso de ouro para opinarem sobre-tudo-e-mais-alguma-coisa, e explicarem as notícias às pessoas como se estas fossem criancinhas de cinco anos, ou como se fossem uns atrasados mentais. 

Mas sobre este tema, creio que já me posso considerar um verdadeiro especialista. Quase dez anos depois, a empresa onde trabalhava e que prestava serviço à maior multi-nacional da sua área tecnológica fechou. Não fechou porque faltasse trabalho, porque na verdade esse nunca faltou, mas fruto da volatilidade de um mercado concorrencial em constante mudança e em consequência da crise mundial iniciada em 2008 essa multi-nacional resolveu cancelar o contrato de prestação de serviços, e apesar da empresa trabalhar para outras marcas, a administração foi, aparentemente, forçada a encerrar portas.


Foi a segunda vez que me vi na situação de desemprego forçado. A primeira vez tinha sido uma década antes, mas após alguns currículos enviados e a presença em várias entrevistas, pude quase dar-me ao luxo de escolher qual a empresa que mais me convinha. Mas dez anos depois depois o cenário é um bocadinho diferente. 

Rapidamente descobri que afinal, ser-se desempregado era agora um crime! Descontei durante mais de dez anos para a (In)segurança (Anti-)Social, que deveria ser uma espécie de seguro para o caso de ficar desempregado contra a minha vontade, entidade que deveria proteger os seus segurados, mas afinal agora só tinha direito a ser roubado nos meus direitos, mas pior, o criminoso era eu! 

Um desempregado nesta anedota de país é agora tratado como um arguido, com termo de identidade e residência. Ah pois! Descontei, fui valentemente roubado no valor do subsídio e na duração do mesmo, mas fui brindado com apresentações quinzenais na Junta de Freguesia, mais ou menos como um criminoso que tem de se deslocar à polícia. E se faltasse duas vezes à apresentaçãozinha, de imediato ficava sem subsídio para o qual descontei e era meu por direito, pois eram assim as leis quando tinha começado a descontar, e não me parece lá muito correto que o governo, só porque andou a gastar o que não tinha, arranje formas de fugir às suas obrigações, roubando os trabalhadores.

Depois existe o IEFP, vulgarmente conhecido como o centro de emprego. Para quem não é especialista em desemprego, eu explico. O centro de emprego é, basicamente a entidade que serve para cortar o subsídio de desemprego nada mais! Pelo menos aqui na minha área de residência é assim. Não, não é nada um organismo público que ajuda o empregado a voltar à vida ativa, quer conseguindo ofertas de trabalho na sua área ou formações, esqueçam isso! O centro de emprego é uma espécie de alarme que dispara quando a Junta de Freguesia comunica a violação da liberdade condicional do desempregado.

Estive com subsídio de desemprego durante ano e meio, e depois mais meio de "subsídio subsequente". Quantas vezes fui chamado por eles? Nenhuma! Zero! Durante todo este tempo tive de lá ir uma única vez porque faltei a uma apresentação. Lá, a gaija, passou-me um novo papel para entregar na Junta, pôs a sua melhor cara ameaçadora e disse-me "Para a próxima fica sem subsídiozinho"! E foi esta a minha relação com o centro de emprego de Gondomar durante os dois anos que estive a receber dinheiro do Estado. 

Agora, de vez em quando, lembram-se de mim e enviam-me uma carta. "Já está a trabalhar? Não está? Então se quiser continuar inscrito no centro de emprego devolva esta cartinha no espaço de dias senão a sua inscrição é cancela" e sai automaticamente das estatísticas, e assim o INE já pode dizer que o desemprego está a descer, acrescento eu!

Estar desempregado em Portugal é isto, é ser-se criminoso aos olhos dos governos que as pessoas elegem para, supostamente as representar e defender, e é ainda ser olhado de lado pelos outros, os que ainda têm sorte de estar a trabalhar, como se fossem entidades divinas imaculadas e que podem julgar a vida dos outros.

Certo dia encontrei um ex-colega de trabalho e em conversa ele dizia-me que, apesar de estar desempregado há pouco tempo, de vez em quando quando ia ao café, ouvia uns comentários do género "anda para aí muita gente à boa vida sem querer trabalhar" e ele achava que essas bocas seriam para ele. 
Perguntei-lhe - mas sentes-te estigmatizado? Por acaso não fizeste os teus descontos durante todos os anos que trabalhaste e não ficaste desempregado contra a tua vontade?" 
"Sim" respondeu-me ele".
- Então manda-os foderem-se!