domingo, 3 de agosto de 2014

Desemprego: o fim do calvário e o princípio de outra coisa qualquer

Passaram mais de três anos, e muito poucas entrevistas depois (apesar dos muitos currículos enviados) e estou de volta ao mercado de trabalho. Estar desempregado não é fácil, e não o é unicamente por um motivo: a falta de dinheiro. Não fosse o problema do dinheiro, e esta sociedade assentou as suas bases na escravatura do dinheiro e do trabalho em prol de outrem, e quem não o tem, ou vai pedir, ou rouba, ou monta uma tenda num qualquer terreno baldio e planta para comer. Não tendo dinheiro, as pessoas não têm direito a nenhuma dignidade, principalmente se tiverem carro e casa, se não tiverem ainda podem receber um qualquer apoio da segurança social. Como eu tinha um carro e uma casa, em caso de fome, a segurança social manda-me comer os faróis do carro, ou as grades da varanda; deve ser por isso que quem tem uma casa e/ou um carro não tem apoios neste país depois de ter sido roubado na duração e valor do subsídio de desemprego para o qual descontou durante mais de uma década.

Mas sejamos honestos, não fosse esse pequeno "pormaior" e estar desempregado seria melhor coisa do mundo! Temos tempo, e é sempre importante termos tempo, apercebe-mo-nos até da mudança das estações; é tão desagradável quando em pleno inverno, saímos de casa de noite, e é à noite que regressamos e nem sequer vemos o sol. E é assim que se desperdiça toda um vida inutilmente. Sim claro, a trabalhar em prol de outrem, para ter o tal dinheiro para termos direito a poder existir. 
E temos todo o tempo do mundo. Em três anos relvei as extensas áreas em volta da minha casa, plantei, trabalhei e tenho agora um espaço aprazível. Se estivesse a trabalhar nunca que o conseguiria ter feito ao fim-de-semana, e se fosse a pagar, pagaria rios de dinheiro pelo trabalho que eu mesmo fiz.

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Mas é a falta do dinheiro que nos complica a vida. É pela falta de emprego e consequente falta de dinheiro que nos obriga, por um lado a conter e diminuir as despesas - cancelam-se serviços supérfluos por exemplo, pois "quem não tem dinheiro não tem vícios" - e por outro a perceber o que podemos fazer para o arranjar. E é então que se vende um monte de coisas que já não precisamos, fazem-se biscates, e faz-se, eu pelo menos fiz, o que fosse preciso para ganhar uns tostões; sim claro, nada ilegal, até porque roubar é ilegal! Isto apesar de ironicamente "toda a propriedade privada vir de um roubo".

Até que três ou quatro entrevistas depois, e tendo resistido ao alerta deste governo de canalhas que nos incentivava a emigrar para baixar o desemprego, lá conseguimos quase o milagre de conseguir um emprego. Um dia antes de começar, a minha ansiedade é tal, que acho que tenho a mesma motivação de um condenado à morte no dia anterior à execução. Sempre fui ansioso e masoquista a sofrer por antecipação, não é agora com esta idade que as coisas irão mudar. Inicia-se uma nova fase, novas coisas virão.

1 comentário:

  1. Vai correr bem :)
    Também fico muito ansiosa em tudo que é novo!!!

    Eu também não tenho apoios de lado nenhum, só e apenas de familiares em dia de festa.

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