Há uns meses partilharam comigo um artigo sobre algumas verdades inconvenientes acerca das relações modernas, e logo no primeiro ponto referia que, quem menos se interessa é quem manda. E é verdade. E estou em crer que isso é tão válido não só para as relações de afeto (amor, sexo ou seja lá qual for o interesse), como para tudo o resto no que à socialização entre humanos diz respeito.
Dificilmente numa relação as coisas estão equilibradas, até porque não há duas pessoas iguais, que demonstrem, gostem ou amem da mesma forma. E começa logo pelo início, e já Eça dizia que "há sempre um que ama e outro que se deixa amar". E quem menos se interessa manda sempre. E manda, porque passa sempre a mensagem, ainda que teoricamente, que não precisa tanto do outro, e que o outro estará mais preso, mais dependente.
O mesmo se passa até no sexo. Um dos dois pode estar sempre pronto para ir aos treinos e gostar de transpirar bastante, mas se o outro não está para aí virado, tem duas alternativas, ou vai treinar e suar sozinho, ou azar, não treina de todo. Mas quem não se interessa, não manda só na frequência dos treinos, manda até no tipo de exercício. Se alguém se lembra de fazer um exercício diferente, mais exigente ou diferente do habitual, ou convidando por exemplo outras pessoas que gostem do mesmo desporto para se juntarem à prática desportiva, rapidamente os planos podem ir por água abaixo se o outro acha que isso já é inovação desportiva a mais.
Também nas amizades manda quem não se interessa tanto.Também nestas situações há sempre duas opções, ou andar atrás dos outros, comprando vontades, quase como quem mendiga uma amizade que já só funciona num sentido, ou então invertem-se as coisas.
Mas tudo tem um reverso da medalha, quantas vezes a caça vira-se contra o caçador? Quantas vezes, quem não se interessava, depois já torce as orelhas. Ignorar os olhinhos que a gordinha do liceu fazia, e depois, anos mais tarde passar por ela, boa com'o milho... ah pois! Pode-se sempre correr atrás, mas por certo irá-se descobrir que já anda a treinar com outro qualquer!
Também quem não se interessa e corta-se sistematicamente aos treinos, pode ir mandando, mas só até um dia, em que fica com as trouxas à porta, ou então, ir continuando a mandar, mas com um belo enfeite na cabeça! E assim ficam todos felizes, quem pensa que manda pela indiferença, quem se deixa mandar e as faz pela calada, e claro, a terceira pessoa que aproveita o desinteresse dos outros em benefício próprio.
Mas olhando para esta história do (aparente) desinteresse, no fundo, hoje em dia parece que andamos todos a jogar, quer-se uma coisa mas dá-se a entender que não, há que se fazer de difícil. E agora todos querem ser aquele que se interessa menos. Eu devo ser uma espécie em vias de extinção. Quando tenho interesse acho que dou sinais evidentes disso mesmo, tal como quando não o tenho. E ainda faço pior, quando gosto acho que o demonstro. Quanto aos que menos se interessam, esses também só mandam até um dia.
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