domingo, 10 de agosto de 2014

Feira cada vez mais capitalista e menos medieval

Há muito tempo, que todos os anos que me desloco à romaria que é feira medieval de Santa Maria da Feira. Fruto da proximidade geográfica (30Km), sempre lá fui, quase religiosamente, acompanhado ou até sozinho, muitas vezes vários dias até, dos dez dias que fazem parte do evento e que se realiza sempre no início de agosto.

Mas cada vez mais sinto o encanto a desvanecer-se. Muito tem mudado desde que a feira se voltou a realizar, e arrastou atrás de si, um verdadeiro roteiro de feiras medievais espalhadas por todos os cantos do país. No início, a coisa era mais rigorosa, começando a "viagem medieval" logo na questão do dinheiro. As transações dentro do recinto da feira eram feitas com o recurso a dinheiro da época, ou seja, tínhamos de trocar os Escudos e depois os Euros, por este dinheiro "oficial" da feira. O próprio rigor era maior, a forma como os vendedores estavam, e a ausência de bugiganças eletrónicas à vista. Hoje em dia parece-me que o rigor se virou para a exploração do visitante.


Aproveitando a onda da desculpa da crise, que é desculpa para tudo e mais alguma coisa, principalmente no toca a explorar as pessoas, a organização camarária, dez anos depois de entradas gratuitas, decidiu passar a cobrar entradas, através e bilhetes diários ou pulseiras que dão direito a estar lá todos os dias do evento. Se no primeiro ano, se falou num valor simbólico, a verdade é que, lentamente esse valor tem aumentado todos os anos. Mas o que me parece é que, ironicamente, apesar do visitante pagar cada vez mais, o que a feira tem para oferecer em troca, é cada vez menos.

Certa vez em conversa com alguém lá da câmara, disseram-me que era impressão minha, que houvessem agora menos barracas de vendedores. "Temos uma lista de espera muito extensa". Pois é, mas não pude deixar de reparar, que uma conhecida minha, que todos os anos por lá estava com a sua loja, este ano, como já me tinha dito há uns meses, este ano não iria lá estar, e naquele mesmo espaço, este ano não estava lá ninguém. Onde é que está então a "extensa lista de espera" de pessoas a aproveitar uma vaga?

E não é só impressão minha, de facto, há menos gente a vender que há uns quantos anos, em que estava tudo muito aproveitado, não havendo quase espaços livres. Acho que até para as bruxas o negócio não vai bem, pois são cada vez menos as tendas de adivinhação que por lá se vêem!


O que eu acho é que, se é para se cobrar uma entrada - além de cobrarem os parques de estacionamento, as entradas em vários eventos dentro do recinto e da entrada no castelo - acho que o evento teria de oferecer mais e melhor, e não o oposto. E é lógico que, se uma família tem de pagar para deixar o carro, tem de pagar os vários bilhetes de entrada no recinto, tem de pagar para visitar o castelo ou para ver um ou outro espetáculo, e têm ainda de comer, parece-me lógico que a carteira comece a ficar curta para fazer compras. É verdade que por lá encontramos coisas que não encontramos em mais lado nenhum, mas infelizmente para quem vende, as pessoas consolam mais os olhos; do que desembolsam os patacos da carteira.

E uma feira não é nada mais nada menos que trocas comerciais, hoje como outrora, mercadores, que vinham de todos os lados para vender ou trocar os seus produtos. E parece-me parvo, colocar portagens para o livre acesso das pessoas, limitando assim os tostões que poderiam gastar.

Acho que ninguém tem dúvidas que esta é a verdadeira feira medieval do país, quer pela dimensão, como até pela duração mas acho que a organização não vai pelo caminho certo. Às vezes as pessoas não se contentam em colher um ovo de ouro que a galinha põe todos os dias, e levados pela ganância, decidem então matar a galinha na esperança de enriquecer ainda mais, e isso sinceramente pode não ser muito inteligente.

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