Os dias passam muito rápido e num abrir e fechar de olhos, já passou um ano desde que voltei a trabalhar. O destino havia de me reservar uma empresa com um nome de banda de Gothic Metal, mas o mais importante, haveria de me reservar também o ambiente mais surreal que alguma vez encontrei numa empresa. Acho que surreal é mesmo o adjetivo!
Os primeiros meses não foram propriamente fáceis e se calhar por culpa própria. Mais do que as mil-e-uma-coisas diferentes que tive de aprender, creio que foi mais a ansiedade, o nervosismo e o medo de falhar que me complicaram a vida. Foi muito tempo desempregado, e a sociedade e a merda dos políticos que nos infernizam a vida estigmatizam-nos, e vendem a ideia que os desempregados umas sanguessugas mandrionas, uns verdadeiros criminosos que nada querem fazer, quando os verdadeiros criminosos são os políticos que nos roubam o dinheiro que descontamos muitos anos, para o termos disponível quando ficamos desempregados contra a nossa vontade.
Eu acho que sei bem o que valho, principalmente como pessoa, mas também no local de trabalho. Mas é normal que comecemos a duvidar das nossas capacidades. Foi muito tempo fora da realidade laboral, há toda aquela inércia, o voltar para a rotina, o conhecer um novo ambiente, novos colegas, novos desafios, acho que é normal passar-se por esses período de ansiedade. Bom, em boa verdade talvez eu tenha ficado um bocado ansioso de mais.
Mas aos poucos as coisas foram entrando nos eixos. Começamos a ficar mais confiantes, mais autónomos, no fundo começamos a conhecer os cantos à casa e o trabalho de todos os dias deixa de ter segredos para nós, e começamo-nos a sentir parte da equipa.
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Depois não tenho chefes, nem chefinhos, coordenador ou team leader ou outro qualquer anglicismo com nome pomposo que até parece uma coisa importante. Não tenho ninguém a foder-me o juízo constantemente. Tenho patrões e é a eles que respondo. Por vezes passam-se dias que o patrão nem vem ver o que ando a fazer. E eu gosto disso. Sei o que tenho para fazer, como fazer, sou responsável pelo meu trabalho e ele tem de aparecer bem feito.
Depois o ambiente. Por vezes acho que é verdadeiramente surreal. Infelizmente não vos posso contar algumas das peripécias, pois certamente deve existir um qualquer código ético-deontológico do trabalho que não permite que violemos o sigilo laboral. Afinal, o que se passa no trabalho, deve ficar no trabalho certo? Mais ou menos como qualquer cavalheiro que nunca revela nada acerca das senhoras com quem confraternize!
E foi um ano em que ainda não tive de enfrentar o meu - eufemisticamente - a minha antipatia a meter-me dentro de um avião. E no fundo esse foi o meu principal motivo de ansiedade. Mas não tive de ir dar uma voltazita ali a África ou ao Brasil. Um ano depois, talvez esteja agora mais preparado a enfiar-me nessa máquina voadora, para voluntariamente, a lazer e não a trabalho, experimentar a coisa. Quem sabe?
Foi um longo calvário de desemprego. Os únicos vestígios que ficaram é um moreno, não castanho escuro, mas quase dourado na minha pele, verdadeiramente de fazer inveja! Um ano sem fazer praia, e a minha pele outrora branca, típica de quem tem cabelos loiros e olhos claros, ainda apresenta agora um moreno permanente de três anos de desemprego, mas de quem nunca ficou dentro de casa e aproveitou o sol. Afinal o sol quando nasce é para todos, mesmo para os desempregados.
Um ano passou-se num ápice e na verdade gosto muito de trabalhar lá e não nada há dinheiro que pague sentirmo-nos bem no local de trabalho. Nesta sociedade somos obrigados a trabalhar para ter o que comer. E é o sítio onde passamos mais tempo, então, que seja ao menos um local onde nos sintamos minimamente confortáveis. Nem sempre é possível, eu tive essa sorte.
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