Não há tanto tempo assim, os médicos - não sei se nesse tempo já eram pela "verdade" ou não! - recomendavam que se fumasse. Ou a propaganda dizia que sim "recomendado pelos médicos", talvez como hoje os cremes são recomendados pelos "dermatologistas". Mas coloquemos por isso as coisas sempre em perspectiva e decidamos ousar pensar sempre pela nossa cabeça. Ir à procura daquilo que se possa aproximar da verdade e não por aquilo que a propaganda nos dá a comer. Sempre!
"A ditadura perfeita terá a aparência da democracia, uma prisão sem muros na qual os prisioneiros não sonharão sequer com a fuga. Um sistema de escravatura onde, graças ao consumo e ao divertimento, os escravos terão amor à sua escravidão."
sábado, 27 de maio de 2023
Há uma Baixíssima Tolerância ao Sofrimento
Foi difícil para si, enquanto psiquiatra, admitir numa entrevista que esteve deprimido?
Falei nisso com a maior das naturalidades numa entrevista há mais de 20 anos. Se bem me lembro, o assunto surgiu quando estava a explicar a necessidade de destrinçar a tristeza da depressão e no problema que se tem vindo a agravar de medicalizarmos a tristeza, um sentimento que não é agradável, mas que é natural. Só que, nessa altura, não havia redes sociais, por isso não teve as mesmas repercussões que agora, quando voltei a falar no assunto numa entrevista à Fátima Campos Ferreira, no programa “Primeira Pessoa”, na RTP. Houve colegas meus e amigos que ficaram assustados. Disseram-me que corria o risco de perder doentes e que a minha clínica privada, provavelmente, ia falecer. (risos) Fiquei a pensar que, se calhar, juntei à naturalidade a ingenuidade. Eles podiam ter razão.
E tinham?
Não. Tive mais procura e ainda hoje há pessoas que marcam consulta e depois, quando chegam ao consultório, dizem: “acho que o senhor vai perceber melhor a maneira como me sinto”.
O facto de ter passado por essa experiência aproximou-o mais dos seus doentes?
Sim. Não é uma experiência nada agradável. Dispensava bem ter estado deprimido. Mas que me deu uma visão diferente das coisas, deu. Acontece a pessoa na consulta tentar explicar-me o que sente, a apatia, a dificuldade em “arrancar” de manhã e eu simplesmente dizer: “às vezes, até abrir a persiana custa, não é?” A pessoa fica surpreendida e diz: “É exatamente isso!” Mas, afinal, antes de tudo o resto, qual é o grande objetivo da psiquiatria e da psicologia? É fazer com que o outro se sinta compreendido. É por isso que fico preocupado quando oiço cada vez mais as pessoas dizerem que foram a um psiquiatra que os medicou, marcou consulta para daí a três ou quatro meses e que lhes deu o nome de um psicólogo porque eles precisam de falar da sua vida. Se a psiquiatria só confia na medicação e deixa a relação com o doente para os psicólogos, fica terrivelmente empobrecida. As pessoas precisam de sentir-se ouvidas. Mas vamos ser justos. Não estou a falar só da psiquiatria. A primeira linha da psiquiatria são os médicos de medicina geral e familiar, que têm às vezes uns miseráveis minutos para falar com as pessoas, que têm listas de utentes de 1900 pessoas, etc.
A saúde mental é o parente pobre do SNS? Há vários médicos e psicólogos a dizer que a situação é muito preocupante porque o sistema público não consegue responder às necessidades que são cada vez maiores.
Estive pouco tempo no SNS. Fui muito mais um professor universitário do que um médico e depois um psiquiatra em funções. Mas não é preciso ter 40 anos de SNS para saber que houve sempre um olhar parcimonioso em relação à saúde mental. Aquilo que nós [profissionais de saúde mental] ambicionamos é que a pessoa, ao sentir-se entendida, consiga dar mais uns passinhos na perceção do que está a acontecer consigo. Que fatores externos estão a contribuir para o “burnout”, para a depressão, para a ansiedade, etc. Esse é o primeiro passo para modificar as coisas. Algumas coisas estão completamente fora do nosso controlo, mas outras estão. E, portanto, temos de mudar de vida. Não podemos pedir isso às “pastilhas”. A Organização Mundial de Saúde tem vindo a passar a mensagem de que tem de haver uma abordagem holística da saúde da pessoa no seu todo. Hoje não passa pela cabeça de ninguém dizer que há doenças exclusivamente físicas ou exclusivamente psicológicas. E sabemos, cada vez mais, que as pessoas com depressão têm o sistema imunológico mais fragilizado. Mas, voltando ao SNS, mesmo que um colega de medicina geral e familiar decida encaminhar um doente para uma consulta de psiquiatria, isso pode significar meses de espera, o que é completamente inaceitável.
Houve sempre um olhar parcimonioso em relação à saúde mental.
Essa abordagem holística tarda em ser implementada?
O que é trágico é que quando surgiu a pandemia cavou-se um fosso ainda maior entre os recursos dados a uma medicina considerada mais “respeitável” e a saúde mental. Recentemente, o professor Miguel Xavier, que é o diretor do Programa Nacional de Saúde Mental, disse que é necessário duplicar o orçamento para a saúde mental. Ele reforçou que é preciso, no mínimo, duplicar os psicólogos nos cuidados de saúde primários. O bastonário da Ordem dos Psicólogos entoa a mesma canção há anos e anos. Depois, tivemos o professor Caldas de Almeida [ex-coordenador nacional para a saúde mental] a dizer numa entrevista ao Expresso que as questões da saúde mental também estão ligadas às questões sociais. Os pobres não sofrem da mesma maneira. E também referiu que aqueles que ainda não eram pobres estão a sofrer horrores. E é verdade. A classe média e média baixa, de repente, começou a ver-se deslizar para situações que eram impensáveis. No fundo, é a velha questão do fosso que existe entre os que têm muito e os que têm pouco.
Quando é que a tristeza deixa de ser normal?
Quando “enquista”, se prolonga e sobretudo nos impede de fazermos a nossa vida normal e de conseguirmos ter momentos de prazer. Aí é preciso parar e avaliar. Há situações em que o que é preocupante é não ficar triste. Por exemplo, alguém que amávamos deixou-nos ou morreu, o nosso negócio foi à falência... Viver essa tristeza não significa que fiquemos paralisados por ela. A pouco e pouco, a pessoa que perdemos mantém-se viva dentro de nós, mas não nos impede de seguirmos caminho. Se, pelo contrário, passamos a estar obsessivamente colados a essa imagem psicológica interna e estamos paralisados naquilo que é o nosso quotidiano, a probabilidade de estarmos a começar a lidar com um plano inclinado para uma depressão é muito grande.
Há agora, depois da pandemia, uma maior literacia sobre saúde mental?
Há uma iliteracia que se desenha sobre um pano de fundo de iliteracia global. Neste momento, ainda se junta um outro condimento que torna a situação mais complicada, que o facto de termos o “doutor Google” à disposição. As pessoas vão para a internet angustiadas porque têm medo de ter esta ou aquela doença, a informação que lá consta está longe de ser toda de boa qualidade e depois há uma tendência para ir buscar as piores hipóteses. Uma coisa que acontece muito é as pessoas chegarem ao meu consultório já com o diagnóstico feito. O mais clássico é a doença bipolar. A pessoa chega e diz que acha que já sabe o que tem. Diz: “Acho que sou bipolar porque tenho dias em que estou bem disposto e outros em que estou mal disposto”. Isto não tem nada a ver com ser bipolar. A iliteracia, de mão dada com a incapacidade de triar informação, num mundo que está cheio de notícias falsas, é algo que é muito complicado.
O facto de o SNS não estar a dar resposta, pode estar a contribuir para em Portugal haver um elevado consumo de psicofármacos?
Sim, mas não é a única razão. Nesta sociedade há uma tolerância baixíssima aos sentimentos negativos, ao sofrimento. Existe uma enorme nostalgia da “pastilha” que resolve tudo. Há pessoas que nos vêm consultar que ficam completamente desiludidas se não levarem uma receita. Mas o mais importante é do lado dos médicos. A consulta de medicina geral foi completamente espartilhada em termos temporais. Há uma sobrecarga de variáveis que os médicos têm de controlar, de campos de computador para preencher, etc. Começaram a surgir queixas dos dois lados da secretária – dos médicos e dos doentes. Os utentes dizem: o médico nem olhou para mim na consulta, esteve sempre a olhar para o computador. O que é verdade. E os próprios médicos também se queixam porque isto compromete a relação médico-doente, que é a base de tudo. As pessoas não se sentem ouvidas e muito menos escutadas, e do outro lado da secretária os profissionais de saúde sentem uma pressão brutal para apresentar números. Neste tipo de situação e com esta pressão, é muito mais simples receitar medicamentos. Mas há mais um fator. A indústria farmacêutica também exerce pressão sobre os médicos. Não vamos iludir-nos. Sempre exerceu. Mas, na minha opinião, o que mais contribui para os números recorde no consumo de psicofármacos é o facto de não haver as condições ideais para consulta. Não há tempo para falar com as pessoas.
No primeiro semestre de 2022, os portugueses compraram 10,9 milhões de embalagens de ansiolíticos, sedativos e antidepressivos. Estando tanta gente medicada, que implicações isto tem tanto para os próprios como para nós, enquanto sociedade?
Em primeiro lugar, isso não é um bom sinal em termos de sociedade. Uma das coisas que esta sociedade não tem sido capaz de impedir é o isolamento progressivo de cada vez mais pessoas. O que é terrível para a saúde mental. Por outro lado, o facto de haver mais pessoas que estão medicadas, traduz-se em riscos. Nós, sobretudo depois de uma boa jantarada, estamos sempre a pensar se aparece a brigada de trânsito. Se a brigada aparecer e, além de dosear o álcool, for dosear ansiolíticos, antidepressivos, etc.…, apanhamos todos um susto enorme. Há, ao volante ou a atravessar a rua, milhares e milhares de pessoas cujos reflexos estão lentificados porque estão medicadas. E, além disso, grande parte desses medicamentos provocam dependência. Aparecem-nos pessoas que dizem que tomam aquela medicação há 15 ou 20 anos. Aquela “pastilha” já faz parte da sua rotina. Outras dizem: sinto-me embotado em termos de sensibilidade ou, quando tomam medicações mais pesadas, dizem que se sentem embrutecidos, a cabeça não funciona com a clareza que desejavam, etc. Haverá sempre pessoas que têm de ser medicadas, algumas sem fim à vista. Mas o que temos neste momento são pessoas que, por vezes, são medicadas quando não deviam ser. A melhor maneira de abordar a situação, pelo menos naquela altura, não é essa. Na verdade, muitas vezes o que as pessoas sentem é um enorme vazio dentro de si. Uma rede social de apoio, por exemplo, é algo com um efeito terapêutico brutal para as pessoas. Nomeadamente para os mais velhos, mas não só.
De que é que as pessoas se queixam no seu consultório?
Se a brigada de trânsito aparecer e, além do álcool, dosear ansiolíticos e antidepressivos, apanhamos todos um susto enorme.
Há um desencanto nas pessoas com aquilo que as rodeia.
Há de tudo. Uma das queixas que mais tem aumentado é o desencanto com o que as rodeia. As pessoas dizem-me: ontem desliguei a televisão porque passaram horas a cobrir isto ou aquilo. Estamos numa situação política muito pouco agradável. Há problemas que, obviamente, têm de ser abordados, investigados e esclarecidos. Mas é uma espécie de telenovela que está a anos-luz das preocupações reais da população. Neste momento, o português médio está preocupado com o desemprego. A precariedade laboral é terrível. Há pessoas que dizem que não sabem se para o mês que vem ainda têm emprego. Também existe uma preocupação com as condições de vida e o receio do que o futuro pode trazer. Uma pessoa cuja prestação da casa aumentou 80 ou 90 euros e, ao mesmo tempo, leu que no primeiro trimestre os bancos lucraram mais de 950 milhões de euros, como é que se sente? Daí o desencanto. As pessoas estão céticas e, muitas vezes, de uma forma injusta acabam por meter tudo no mesmo saco. Dizem-me que deixaram de acreditar nos políticos. Quando se ouve as pessoas dizer “é tudo igual”, é muito mau. Agora, indo mesmo para a clínica, sem surpresa, aquilo que eu tenho encontrado mais são síndromes depressivo-ansiosos.
As questões económicas são determinantes para a saúde mental?
O agravar do fosso entre pobres e ricos não só tem consequências em termos sociais, porque as pessoas ficam revoltadas, mas tem obviamente consequências ao nível da saúde mental. Há artigos a dizer que em Portugal pode demorar quatro gerações para sair da pobreza e chegar à classe média. Quatro gerações? Isto é obsceno! As políticas de saúde, cada vez mais, têm de ser multidisciplinares. Não podem estar concentradas só no Ministério da Saúde. A Segurança Social, o Ministério da Educação e a própria arquitetura das cidades, que se tornaram selvas de concreto, têm de estar envolvidos.
Ainda existe um estigma sobre a doença mental. Haver figuras públicas a admitirem que tiveram uma depressão ou que têm transtorno obsessivo-compulsivo, por exemplo, contribui para diminuir o estigma?
Contribui. Pessoas com prestígio social, cujas intervenções são seguidas por muita gente, que são bem-sucedidas na vida (seja lá o que isso signifique), ao admitirem que sofrem disto ou daquilo, faz com que as outras pessoas percebam que não é impossível obter determinadas coisas nesta sociedade mesmo tendo este problema.
domingo, 14 de maio de 2023
Empatia com Casal Desconhecido
Quando me telefonou gostei logo dela. Que vozinha de menina e que doçura, simpatia e que educação. Ficou combinado passarem cá por casa por volta da hora de jantar. E que idade teria aquela voz? Vinte e cinco, quarenta? Não, é um casal com idade para ser meus pais e, nota-se, com um certo nível cultural e, se calhar até, certo nível económico também.
Confidenciou-me que quando chegaram e me viram que disse ao marido que eu era parecido com ele há uns anos. Também ele usava cabelos compridos pelo fundo das costas, ainda que ele andasse de moto e eu, se aos vinte anos gostava da ideia, a verdade é que, e ainda bem, desisti da ideia por ser extremamente perigoso.
Eu sei que falo de mais. Deveria ser mais reservado. Não me deveria expor tanto. Mas não vai ser agora quase com cinquenta anos que conseguirei mudar. Culpem o meu mapa astral.
E conversa vai e conversa vem, e já com o marido presente (que não interessa saber porque se ausentou e chegou com um punhado de magnórios) acabo a falar aqui da aldeia. Todos gostam deste sossego que eu também gosto e que não trocaria um T4 na Foz pela minha caverna, mas, menciono o problema da poluição da central a gás.
Fala-se de política. Do filho da puta do Salazar e das recentes simpatias fascistas. Das dificuldades dos tempos dos meus pais e avós. De como a minha mãe ia para a escola quase descalça de inverno com o gelo que fazia. Da miséria e da fome que havia. De como Portugal era uma espécie de Coreia do Norte e de como ficamos atrasados. Dos 2/3 que as pessoas que faziam os terrenos tinham que dar ao senhorio. De como agora os terrenos estão todos a mato e silvas porque já não há escravos a trabalhar por uma codea de broa e uma malga de vinho.
Da revolta que sinto quando ouço alguém dizer que "precisávamos era de outro Salazar". O Portugal fascista não foi o "Conta-me Como Foi" do centro de Lisboa. A ditadura salazarista, principalmente nas aldeias, foi fome e miséria. Foi racionamento. Era preciso enterrar os cereais para não levarem as "sobras de Portugal".
Até que a senhora me diz: "ele foi perseguido pela PIDE porque os pais eram de esquerda. E ele ainda hoje tem traumas do que passou"...
sábado, 13 de maio de 2023
A Alternativa Política de Direita ao PS é uma Anedota
domingo, 7 de maio de 2023
Para Reduzir as Emissões a Primeira Coisa a Fazer é Cortar as dos Ricos
*artigo publicado hoje no El País
O mundo imaginado por este professor do Instituto de Ciência e Tecnologia Ambiental da Universidade Autónoma de Barcelona e do Centro de Justiça Global e Meio Ambiente de Oslo é pós-capitalista. Especialista em desigualdade global, economia política, pós-desenvolvimento e economia ecológica, acaba de publicar Less is more na Espanha. Como o decrescimento salvará o mundo (Capitão Swing), um dos livros do ano de 2020 segundo o Financial Times.
Nela afirma que o capitalismo, com sua exigência de expansão perpétua, está devastando o mundo e que a única solução que levará a uma mudança significativa e imediata é o decrescimento. Expressa-se timidamente, as entrevistas não são do seu agrado (não são do seu agrado).
Muitos ouvem diminuir e começam a tremer. Você diz que desistir do crescimento não é o mesmo que desistir do progresso.
Sabemos que as principais causas do bem-estar humano são o acesso à saúde pública, à educação pública e à segurança económica por meio de uma renda vitalícia. São as coisas que importam. E para alcançá-los não precisamos crescer.
Neste mundo que você imagina, como escolheríamos quais são as coisas que importam?
Através de mais democracia, de mais discussões democráticas. Por meio de uma assembleia de cidadãos, por exemplo. Houve assembleias cidadãs na França ou na Espanha [a primeira Assembleia Cidadã pelo Clima ocorreu há um ano] que compartilharam os princípios do decrescimento.
Você afirma que o crescentismo nos impede de pensar de outra maneira. Usa as palavras de Gramsci: "Quando uma ideologia se torna tão normalizada, é difícil refletir sobre ela."
Neste momento estamos bloqueados, esvaziamos nossa capacidade intelectual. Assumimos que o crescimento resolverá nossos problemas, é difícil pensarmos de outra forma. Gostaria de sublinhar que quando falamos de formas de produção que se organizam através da acumulação de capital, muitas vezes estamos a falar do consumo das elites. Estima-se que os milionários emitam 72% de tudo o que podemos realmente poluir para cumprir os Acordos de Paris. Essa questão, toda ela, é sobre desigualdade.
Você discutiu a desigualdade no seu livro anterior, The Divide. Que medida acha mais urgente para reduzi-la?
Precisamos reduzir o poder de compra dos ricos. As duas políticas que ajudam a conseguir isso são: aumentar o imposto sobre a riqueza e estabelecer uma relação entre renda máxima e mínima. De 10 para 1, ou de 5 para 1… Isso já deveria estar em conversações. Num mundo onde temos que reduzir as emissões, devemos reduzi-las primeiro para os ricos, para que todos beneficiem. Mas o que os políticos tentam em todas as ocasiões é transferir o custo para os pobres.
Quando você começou a falar sobre o decrescimento como uma possibilidade?
Os primeiros são os movimentos anticolonialistas dos anos 30, embora então não o chamassem de decrescimento. Eles clamavam por um movimento económico que não exigia crescimento perpétuo e, portanto, colonialismo. A palavra decrescimento só surgiu em 2009 e estava de mãos dadas com a economia ecológica. Agora, a crise económica acelerou e a ideia vem ganhando apelo. Ficou claro que os países ricos não conseguirão descarbonizar rápido o suficiente para cumprir os Acordos de Paris. Quanto mais perseguimos o crescimento, mais difícil é não crescer acima do nível necessário para atingirmos uma redução de 1,5 grau globalmente. Alguns países tiveram sucesso – Suécia, Dinamarca, Reino Unido – mas numa velocidade que não chega nem perto do necessário.
O que teríamos que fazer para conseguir isso?
É essencial que os setores menos necessários reduzam seu tamanho: empresas de cruzeiros, moda rápida, enormes quintas, iates fretados... Assim reduziríamos a procura de energia. Devemos escolher quais setores queremos reduzir. Temos que ousar pensar o contrário.
E o que devemos fazer em relação ao PIB? Não serviria mais como um indicador.
Deveríamos pensar no que valorizamos: a vivenda, a redução da desigualdade, a melhoria da qualidade do solo, a redução da extração de água... Quantificaríamos esses objetivos sociais e ecológicos em vez do crescimento económico na esperança de que isso, magicamente , resolver nossos problemas.
Um dos problemas é que as gerações futuras não têm voz ou voto. Muitos não se importam.
Há estudos empíricos que mostram que a maioria das pessoas importa-se com eles e deseja compartilhar a Terra com eles. Os que não se preocupam com o futuro são apenas uma pequena proporção, cerca de 25%. Quando tivermos mais poder de decisão, alcançaremos mais equidade.
O que teria que acontecer para países como a China concordarem em embarcar neste navio? É difícil imaginar um declínio global.
Está claro que as nações ricas usam muito mais energia per capita do que a China. Acordos internacionais seriam essenciais. Começam a haver movimentos nessa direção. Por exemplo, o tratado de não proliferação de combustíveis fósseis, que está sobre a mesa e que incentiva os países a chegarem a um acordo para reduzir gradualmente o uso desses combustíveis. Muitos países o apoiam. É um exemplo do tipo de coisas de que precisamos.
Quais países devem puxar o movimento?
Espanha, entre outros. Vai perder 1,3 milhão de hectares de grãos por causa da seca, as projeções climáticas são terríveis. Devemos mobilizar a UE para fechar acordos e evitar esse futuro distópico.
Neste momento estão a ser aprovados regulamentos que representam uma mudança em relação à etapa neoliberal: medidas para reduzir o custo da casa, impostos bancários... Em que ponto você diria que estamos?
Parece que estamos a entrar uma virada. Muitos mitos e certezas começam a cair, as pessoas começam a desejar um mundo diferente, com potencial revolucionário. É difícil dizer onde isso nos levará. Depende da força dos movimentos sociais.
As Redes Sociais Não São Uma Representatividade da Sociedade
Pequena sondagem no Twitter para aquilatar das crenças das pessoas.
Não estranhamente os resultados são o inversos dos últimos censos. Mais de 80% afirma não ter religião ou é ateu ou agnóstico (tal como eu, que não pude votar).
Só que as redes sociais são pequenos guetos. As pessoas que votaram, a grande maioria, suponho, são pessoas que me seguem, logo, terão formas de pensar parecidas com a minha.
E, não podemos partir desses guetos e depois extrapolar e achar que isso representa toda a sociedade.
É verdade que eu digo, e é a minha convicção, que o cristianismo se irá extinguir, no médio prazo. Mas ainda demorará uns anitos até isso acontecer.
O Planeta Está Todo Fodido, Mas, Enfim, Esqueçamos Isso!
Jornalismo da Treta Deixa-me Arrasado
"Marcelo arrasa Galamba".
"Rainha Letízia arrasa em look..."
"Cristina Ferreira arrasa em look...."
Há demasiada terraplanagem no jornalismo da treta. E depois ainda dizem que o vocabulário está a diminuir cada vez mais. Isto é de uma pessoa fica arrasada.