segunda-feira, 22 de junho de 2020

A Ponte Despiu-se de Pessoas


Esta imagem terá duas horas. Poderia dizer que a ponte Dom Luís despiu-se de pessoas. Só para mim. Os miúdos que se penduram no tabuleiro para se mandarem lá para baixo, quinze metros até ao rio, também ficaram sem audiência. Mas quando passei junto ao rio a pé e com a bicicleta pela mão na Ribeira, por um passeio muito estreito, entre as mesas encostadas ao muro de granito e os restaurantes, cafés ou lojas de recordações, senti a dificuldade que aquelas pessoas podem estar a viver. Um senhor mais velho abordou-me em inglês e eu estava a levá-lo a sério antes de ter visto o emblema do FC Porto no casaco e antes dele me dizer que precisa de dinheiro para comer. Não dei nem darei mais. Conheço bem alguns pedintes profissionais. Há uns vinte anos conheci umas crianças que andavam a pedir em Santa Catarina e percebi que eram os pais que, quais proxenetas exploravam as crianças, porque qualquer pessoa sente mais pena das crianças do que dos adultos. Ganhamos resistência a este tipo de coisa e podemos estar a dizer não a quem até precisa mesmo, mas ninguém gosta de ser enganado e paga o justo pelo pecador. 

Está tudo errado nesta sociedade mas não se culpe a pandemia, até porque a pandemia só apareceu graças aos hábitos absurdos que levamos a sociedade global e consumista. 

12 comentários:

  1. Sabe bem termos o Porto só para nós, temos que desfrutar!
    Resta saber se teremos dinheiro para pagar este luxo...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Tive essa discussão com a minha colega de trabalho. Ela diz que nem tem vontade de passear pelo Porto porque não vê pessoas, os turistas de todas as nacionalidades que a faziam sentir noutra cidade qualquer de outro país.
      Já eu sou mais crítico, que a cidade perder identidade e que não há qualidade de vida, especialmente para quem vive na cidade (que não é o nosso caso, somos de outros dois concelhos). Mas também não gostava do Porto antes deste turismo todo. O Porto que fechava às sete da noite e que a partir dessa hora não se via viva alma. O Porto das casas a cair de velhas, tuas mal iluminadas, cheiro a mijo e em que só se viam putas à noite. Mas também acho que não precisávamos de ir de um extremo ao outro.

      Eliminar
  2. Conheço bem essa sensação do Porto depois do fecho dos serviços, uma outra cidade oculta pelo burburinho emergia e sim era assustadora.
    Sim, havia becos assustadores, sujos e mal cheiroso, casas fechadas à espera de cair de vez.
    Mas havia também as vendedoras do Bulhão conhecidas de sempre, os cafés que com gente que conhecíamos, o restaurante onde se comia isto ou aquilo melhor que em qualquer outro lado.
    Depois veio o turismo, algumas casas foram recuperadas e ficaram muito bem, mas já não sabemos quem mora lá "este fim de semana".
    As devedoras do bulhão já deixaram de ter o cuidado com os clientes de sempre, porque a carteira do turista é bem mais farta e não volta para reclamar.
    Os típicos restaurantes fecharam e deram lugar a cadeias internacionais, onde comes o mesmo que em qualquer cidade do mundo, mas já não sabes onde podes comer alguma coisas realmente especial daqui, a identidade do Porto perdeu-se nesta cosmopolização da cidade.
    E apesar da animação trazida pelos turistas, a "outra cidade" continua por cá, não aparece depois das 7h, porque os turistas continuam a animar as ruas depois dos serviços fecharam, mas agora que estes se foram embora e os serviços estiveram fechados, fica novamente visível essa cidade assustadora e agora mais triste, porque as referencias já ser perderam...



    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu sou muito crítico desta horda de turistas que invadiu as cidades portuguesas. Não porque achasse que iria durar pouco tempo como muitos previam, mas porque não é vida para ninguém, especialmente para as pessoas que trabalham ou fazem a sua vida no Porto (e eu trabalhei 10 anos na Areosa).
      O disparar do preço das casas, o aumento caótico do trânsito em que a hora de ponta passou a ser o dia todo, o aumento dos preços e basta ver quanto aumentou o passeiozinho de barco pelas pontes! e toda a descaracterização que a cidade sofreu. Por toda a Europa havia mensagens de "Tourists Go Home" porque a vida das pessoas nas cidades com grande afluência de turistas piorou. Ganharam uns, poucos, os que têm restaurantes, cafés e lojas, e todos aqueles particulares que tinham uma casa para pôr no alojamento local mas perderam todos os outros.

      Eliminar
  3. Mas sou uma optimista, por isso desfruto da cidade desafogada
    Desfruto da atenção das vendedoras do Bulhão, da simpatia do comercio de rua, na esperança de mostrar que o turismo não é a única saída, porque acho que cada um deve dar o contributo que pode para construir essa alternativa.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu posso estar redondamente enganado, mas acho que isto é só uma pausa no que tínhamos. Tudo voltará ao que era. A pandemia não iluminou a cabeças das pessoas e, como alguns dizem, as pessoas verão o mundo com outros outros e será uma oportunidade de criarmos um mundo melhor. Acho que passada a pandemia lá regressará a vida como antes, com turistas, desejosos de colocar fotos das suas viagens no Instagram, e passado este tempo de recolhimento a sociedade continuará a sua escalada de decadência. Como tal, aproveitemos este pequeno intervalo em que os turistas se foram todos embora!

      Eliminar
  4. :) Tenho um carinho muito especial pela cidade do Porto. Tento fazer uma escapadinha regular uma vez por ano, e não é que logo este ano, tinha pensado em estar por aí para comer umas sardinhas no São João ?
    Mas haja saúde que há mais marés que marinheiros.
    E talvez para o ano nos seja permitido desfrutar da boa disposição e do carinho do povo portuense, que eu tanto gosto.
    Tenho pena mas vão ter de gramar com mais uma família no Airbnb a passear pela vossa cidade, jardins maravilhosos, nos vossos transportes públicos, ... sim porque prometo não empatar o trânsito na horas de ponta, vou respeitar quem trabalha :)
    Uma boa noite de São João.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu não incluo o turismo dos portugueses, aliás, até acho um bocado parvo a grande maioria das pessoas por vezes não conhecer bem a sua própria cidade ou o seu próprio país, e sintam sempre o pelo de ir visitar qualquer coisa num país distante. Ninguém está contra o turismo, que gera emprego e riqueza mas sim contra o exagero que se tornou e que se virou contra a própria população que vive nas cidades um pouco por todo o país.
      Quando cá vieres reserva o dia 24 de Junho para ir à festa dos Bugios e Mourisqueiros que se realiza em Sobrado (Valongo) coisa única no país, e podes ainda ir ver a regata de barcos rabelos no rio Douro que por norma se realiza de tarde ;)

      Eliminar
  5. Obrigada pela dica. Costumava apanhar estas dicas na Comunidade do Porto (Google +) e adorei em 2018 estar por aí nas festas do Sr. de Matosinhos. Aquelas árvores cobertas de trabalhos em croché, algo que nunca tinha visto. O nosso país está recheado de cultura e tem muito para explorar. Riquezas históricas (por vezes com pouca manutenção) às quais dou muito valor. Um resto de bom dia.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Que engraçado, eu também estive nessa comunidade Porto do Google+!
      E é verdade, o nosso país é muito rico em história apesar de muitas vezes quem manda não cuidar devidamente do património. Cabe aos portugueses conhecer melhor o seu próprio país!

      Eliminar
  6. Eu sei :) e desde então eu continuo a seguir os seus blogs com muito interesse, gosto como e do que partilha.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Isso é muito curioso! Mas fico sempre contente que haja alguém que passe por cá e, apesar das alarvidades que por vezes escrevo, vá ficando :)

      Eliminar