"A ditadura perfeita terá a aparência da democracia, uma prisão sem muros na qual os prisioneiros não sonharão sequer com a fuga. Um sistema de escravatura onde, graças ao consumo e ao divertimento, os escravos terão amor à sua escravidão."
quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024
A Maldição do Skincare
domingo, 18 de fevereiro de 2024
Achei Mas Não Quis Ver
Estávamos como que meio entediados. Talvez mais ela do que eu, porque é da geração-estímulos-constantes. E vai daí lembramo-nos, ou melhor, ela lembrou-se de procurar pessoas do passado no telecrã. Procura este e aquele, e até encontrou um ex colega de trabalho, mas, já agora, já que estamos numa de procurar, vê se encontras aí a senhora minha ex...
E quem procura acha...
Não é de agora que, de vez em quando, pergunto-me o que terá sido feito da vida dela. E não é só dela, é de quase todas as pessoas que me foram próximas e que, por este ou aquele motivo, acabaram por seguir outros caminhos, bem distantes dos meus.
Soube que casou, que teve filhos, e que, ao que parece (como a larga maioria das pessoas que casa) que se terá divorciado e, provavelmente passou a estar com outra(s) pesssoa(s), tal como eu fui estando ao longo destes anos todos.
Mas e da vida profissional, o que terá feito? Uma das frustrações na altura era, depois de ter sido a primeira pessoa da família a ir para a universidade, não estar a conseguir encontrar uma oportunidade de trabalhar na área em que se formou. É verdade que nunca baixou os braços, ia-se mexendo bem (e respondendo aos anúncios que eu lhe selecionava de jornais como Expresso, que comprava quase especificamente para o efeito) e antes até foi trabalhando e estudando, mas simplesmente as coisas não estavam a acontecer.
Quem procura acha e a minha colega achou-a.
A profissão dela agora tem um nome todo pomposo, em estrangeiro e tudo que é para parecer mais moderno, e ainda por cima porque hoje em dia ninguém sabe inglês nem nada e assim impressiona mais, e ao que parece ela é chefia em empresa da área que estudou. E fiquei, sinceramente, contente que tenha atingido os seus objetivos profissionais.
A minha colega achou-a e vinha já para me mostrar mas eu não quis ver. Ainda deu para ver que tinha o cabelo curto (quer-me parecer que a única fase da sua vida em que teve os cabelos compridos foi enquanto namorou comigo) mas eu não quis ver mais do que esse vislumbre distante. Talvez porque vê-la agora num telecrã seria matar definitivamente a pessoa que eu conheci há quase trinta anos...
Meses depois destas linhas que estavam aqui guardadas nos rascunhos (e eu devo confessar que tenho mais de 400 rascunhos guardados!) a minha colega recebeu novamente uma notificação da senhora em questão - sim, porque passou a seguir o seu perfil privado - e ainda que me tenha mostrado novamente a alguma distância, a verdade é que aquilo depois acabou por mexer comigo, mais do que deveria.
Eu certamente não sou o Florentino Ariza nem ela é Fermina Daza, as personagens de Amor em Tempos de Cólera, que esperaram 51 anos para se acertar definitivamente, isto depois dela ter sido uma cabra e ter casado com outro.
As coisas não se esquecem, estão simplesmente adormecidas e, por vezes, basta uma pequena ignição para trazer de novo tudo à tona. Nesse mesmo dia fui para casa, no carro, a remoer novamente esse passado já tão distante. E, de noite, e logo eu que quase nunca me consigo lembrar dos meus sonhos, acordei por volta das 4 e meia de um sonho, e apercebi-me que antes tinha estado a sonhar com ela, de novo, com os mesmos longos cabelos...
Ainda assim, se me perguntassem (e acho que a minha colega perguntou e acho também que outra pessoa próxima já me perguntou): se quisesses reencontrar alguém do passado, que ex namorada seria?
Bom, seguramente, não seria uma ex-namorada.
Seria certamente uma outra pessoa...
... que eu cá sei.
Dia dos Namorados do Poliamor
Esta semana que passou tivemos novamente a praga do dia dos namorados que, ainda por cima, calhou na mesma semana da outra praga que é o Carnaval.
Escusado será escrever (porque quem aqui me lê já conhece a minha opinião) que, por todos os motivos e mais alguns, acho o Dia dos Namorados uma verdadeira palermice e uma enorme falta de gosto e de originalidade. Cinquenta dias após a hipocrisia do Natal temos mais um dia dedicado ao comércio, para faturar prendinhas e jantares a rodos. É como se todos os casais do mundo fizessem anos nesse mesmo dia, tivessem que trocar prendas, ir jantar fora e dar a trancada da misericórdia.
Mas porque me interesso por todas as formas diferentes que as pessoas têm de se relacionar, ocorreu-me a pergunta: e como funcionará nas relações poliamorosas? Como é o lado prático da coisa?
Para não complicar muito, vamos supor que eu tenho duas namoradas. Uma dessas namoradas tem outros dois namorados e a outra tem mais. Mas, como é lógico, estes três namorados das minhas namoradas também têm outras namoradas e, certamente também quererão jantar com elas... Muito facilmente temos dez ou vinte pessoas a namorar umas com as outras!
E depois como é faz? Não dá para marcar dois ou três jantares na mesma noite com várias pessoas, primeiro porque não haveria tempo e depois porque só se janta uma vez! Então quê, marca-se um jantar para todos, estilo jantar da empresa? Acaba também por ser chato, porque depois eu quereria ficar junto das minhas duas namoradas, mas os namorados delas também quererão o mesmo. E depois da troca de prendas e do jantar? Faz-se uma orgia para todos ficarem satisfeitos? Mas e se algumas pessoas estão numa cena de sexo exclusivo só com uma pessoa, como é que é?
Ou é como nas famílias por altura do Natal e Passagem de Ano em que este ano passo o Dia dos Namorados com a namorada A e depois para o ano troco e passo com a namorada B?
Admiro estas novas formas de amar mas, talvez por ser um gajo muito prático, intriga-me sobre como será que se faz a gestão destas pequenas coisa numa sociedade que está organizada de forma diferente e que, parece que o tempo é cada vez menor.
O Problema deste País São os Ricos
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024
Bem-Vindos ao Tecnofeudalismo
domingo, 11 de fevereiro de 2024
Conversas Improváveis (80) - Quando a Geringonça do PSD-CH€GA Vier Isso Acaba
Há uns meses uma amiga perguntou-me se tinha interesse em ir ver um determinado concerto em meados deste ano. Como não sou muito de fazer fretes digo que não, mas, se precisar de companhia, é uma questão a ver-se, ainda que até lá, em meio ano, muita coisa possa acontecer!
"Daqui até Maio tem tempo... De qualquer forma é preciso arranjar bilhete. Isso é que não vai ser fácil. Deve ser o caos no site, como habitual. Vou ver...
Sim, está tudo em crise mas há uma classe média que esgota tudo que é evento!
Deixa lá. Quando vier a geringonça PSD-CH€GA isso acaba".
quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024
Conversas Improváveis (79) - Como se Cura uma Neura?
No refeitório da empresa noto que uma colega, em silêncio, está metida nos seus pensamentos e pergunto:
Que se passa Marisa? Estás bem?
Estou com a neura.
- Estás com a neura?
Sim!
- "Como se cura uma neura?", pergunta a Juliette.
"Fácil", respondo eu. "Com um vibrador"!
domingo, 4 de fevereiro de 2024
Danças Comigo Novamente?
Entretanto lá nos vieram cumprimentar: o diretor geral austríaco, o alemão responsável da logística, o húngaro cara-pálida com cabelo à Tintin, que, agora que penso nem sei bem o que é que ele faz na empresa!, bem como a sul americana de aspeto doce que está em Paris e que o meu colega acha que tem uma voz sexy. Todos vestidos de forma muito descontraída.
E depois lá veio ela, que vive na Madeira. Não creio que eu tenha sido inconveniente, quando lhe disse: "deu um belo corte de cabelo" e, como é óbvio, ela não estava à espera de ouvi-lo. Na verdade nem foi assim um corte de cabelo tão grande. ela simplesmente escadeou o cabelo e dá a sensação de ter ficado com um pouco mais de volume. Mas eu acho que as mulheres gostam que reparemos nelas. Bom, e foi só isso.
Mas, para dizer a verdade, a nossa vontade nem era muita de ir ao jantar. Os meus colegas até tinham cenas lá da religião deles e, no meu caso é sempre chato nem poder ir a casa e tomar banho. Tenho que me limitar a trazer uma muda de roupa e a lavar-me como um gato e a fazer tempo por ali até à hora combinada do jantar. E depois porque são sempre situações forçadas em que está sempre implícita uma certa dose de hipocrisia e subserviência. Desta vez até fiquei a fazer companhia à colega que fica sozinha na empresa na sua última hora de trabalho (porque assim preferiu) e, passado mais um bocado, também chegaram os meus colegas mais novos.
De tarde os 'cães grandes' foram fazer um passeio pela cidade, enquanto que nós, os cães pequenos, ficamos a trabalhar. É a eterna luta de classes, como bem diria Marx. Mas a hora chegou e lá fomos nós a pé até ao restaurante que fica a poucas centenas de metros da nossa loja.
Chegados ao restaurante, a nossa colega que fica até mais tarde e que reporta diretamente à menina que deu um corte de cabelo (e não ao nosso chefe cá do Porto) colou-se e ficou sentada em frente dela. Tudo certo. Elas falam imenso durante todos os dias mas nunca estão juntas Nós os três fomos para a outra ponta da mesa. Ao meu lado esquerdo não ficou ninguém, e em frente também não, o que deu imenso jeito porque ali ficou uma bela travessa de comida e era só abastecer para o meu prato! Os meus colegas ao meu lado direito e, na diagonal em frente, o alemão (de quem ouço falar todos os dias) e, ao seu lado, o tal carinha de bebé húngaro com cabelo à Tintim e o meu chefe anfitrião a meio com o restante pessoal.
Fui falando com os colegas, mantendo-me outro tempo mais calado. Até que, mais à frente fui começando a falar com o alemão até porque, como seria normal, falou-se um pouco do trabalho e todos trabalhamos para o mesmo. O S. deve ter uns cinquenta e tal, cabelos brancos, compridos e apanhados num rabo de cavalo, olhos arianos azuis, óculos e uma barriga de trigémeos porque, como se sabe pelos estudos científicos mais recentes, a cerveja não faz engordar. E já me tinham dito que se calhar gostaria de conversar com ele.
Disse-lhe que, normalmente, não sou calado e falo até de mais. Mas que não me sinto muito confortável com o inglês. Que entendo mais ou menos bem mas, porque não pratico e não falo em inglês com ninguém (ao contrário, por exemplo, do meu colega que fala muitas vezes com ele e outros estrangeiros) acabo depois por não me sentir confortável porque não sou extremamente fluente. Ao que ele me disse que na Alemanha têm uma expressão que é qualquer coisa como isto "learning by doing", aprender fazendo. Disse-lhe também, em jeito de curiosidade que há uma frase em alemão que ainda hoje me lembro da primeira namorada dizer: "es regnet heute", e ele confirmou "that's correct, it´s raining today"!
O S. é muito sequioso. Os copos bem grandes de cerveja desapareciam quase tão rapidamente quando chegavam à mesa. Já o húngaro de cabelo à Tintim preferia copos mais pequenos. (se calhar deveria ter avisado antes que não percebo nada de cervejas, e nem sei a diferença entre cerveja, finos ou grossos!).
Acho até que conversa começou por ai. Foi o quebrar do gelo. Comecei por lhe dizer que sou um metaleiro estranho, porque não bebo bebidas alcoólicas, nem fumo ou tomo café. Nem fumas uma ervita?, perguntou-me! Não, nem isso!
E a partir daí lá fomos conversando, maioritariamente sobre heavy metal. Ele é um metaleiro da velha guarda, que gosta muito de Slayer, mas falou-me também de Ozzy Osborne bem como de outras bandas, e também gosta bastante de Nirvana (que não é metal). Falou-me de quando foi ver um concerto de AC/DC exclusivo para mil pessoas e em que era preciso apresentar o passaporte e conferir com o número do bilhete e que ficou a um metro da banda. Mas agora não tem ido muito a festivais porque, e até ele, alemão, com um salário bem diferente do meu, acha que está tudo demasiado caro.
Apesar do cansaço, e também do sono, até acabou por ser uma noite agradável. Quase se fez ali uma amizade circunstancial. O alemão sugeriu-me uma banda alemã de punk rock: Broilers.