Estávamos como que meio entediados. Talvez mais ela do que eu, porque é da geração-estímulos-constantes. E vai daí lembramo-nos, ou melhor, ela lembrou-se de procurar pessoas do passado no telecrã. Procura este e aquele, e até encontrou um ex colega de trabalho, mas, já agora, já que estamos numa de procurar, vê se encontras aí a senhora minha ex...
E quem procura acha...
Não é de agora que, de vez em quando, pergunto-me o que terá sido feito da vida dela. E não é só dela, é de quase todas as pessoas que me foram próximas e que, por este ou aquele motivo, acabaram por seguir outros caminhos, bem distantes dos meus.
Soube que casou, que teve filhos, e que, ao que parece (como a larga maioria das pessoas que casa) que se terá divorciado e, provavelmente passou a estar com outra(s) pesssoa(s), tal como eu fui estando ao longo destes anos todos.
Mas e da vida profissional, o que terá feito? Uma das frustrações na altura era, depois de ter sido a primeira pessoa da família a ir para a universidade, não estar a conseguir encontrar uma oportunidade de trabalhar na área em que se formou. É verdade que nunca baixou os braços, ia-se mexendo bem (e respondendo aos anúncios que eu lhe selecionava de jornais como Expresso, que comprava quase especificamente para o efeito) e antes até foi trabalhando e estudando, mas simplesmente as coisas não estavam a acontecer.
Quem procura acha e a minha colega achou-a.
A profissão dela agora tem um nome todo pomposo, em estrangeiro e tudo que é para parecer mais moderno, e ainda por cima porque hoje em dia ninguém sabe inglês nem nada e assim impressiona mais, e ao que parece ela é chefia em empresa da área que estudou. E fiquei, sinceramente, contente que tenha atingido os seus objetivos profissionais.
A minha colega achou-a e vinha já para me mostrar mas eu não quis ver. Ainda deu para ver que tinha o cabelo curto (quer-me parecer que a única fase da sua vida em que teve os cabelos compridos foi enquanto namorou comigo) mas eu não quis ver mais do que esse vislumbre distante. Talvez porque vê-la agora num telecrã seria matar definitivamente a pessoa que eu conheci há quase trinta anos...
Meses depois destas linhas que estavam aqui guardadas nos rascunhos (e eu devo confessar que tenho mais de 400 rascunhos guardados!) a minha colega recebeu novamente uma notificação da senhora em questão - sim, porque passou a seguir o seu perfil privado - e ainda que me tenha mostrado novamente a alguma distância, a verdade é que aquilo depois acabou por mexer comigo, mais do que deveria.
Eu certamente não sou o Florentino Ariza nem ela é Fermina Daza, as personagens de Amor em Tempos de Cólera, que esperaram 51 anos para se acertar definitivamente, isto depois dela ter sido uma cabra e ter casado com outro.
As coisas não se esquecem, estão simplesmente adormecidas e, por vezes, basta uma pequena ignição para trazer de novo tudo à tona. Nesse mesmo dia fui para casa, no carro, a remoer novamente esse passado já tão distante. E, de noite, e logo eu que quase nunca me consigo lembrar dos meus sonhos, acordei por volta das 4 e meia de um sonho, e apercebi-me que antes tinha estado a sonhar com ela, de novo, com os mesmos longos cabelos...
Ainda assim, se me perguntassem (e acho que a minha colega perguntou e acho também que outra pessoa próxima já me perguntou): se quisesses reencontrar alguém do passado, que ex namorada seria?
Bom, seguramente, não seria uma ex-namorada.
Seria certamente uma outra pessoa...
... que eu cá sei.
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