Há três anos e meio escrevi aqui :
"A ditadura perfeita terá a aparência da democracia, uma prisão sem muros na qual os prisioneiros não sonharão sequer com a fuga. Um sistema de escravatura onde, graças ao consumo e ao divertimento, os escravos terão amor à sua escravidão."
domingo, 27 de fevereiro de 2022
Largos Dias Têm Três Anos ou O que Tem de Ser Tem Muita Força
sábado, 26 de fevereiro de 2022
Regresso ao Teatro Dois Anos Depois
Contam-se pelos dedos as vezes que fui o teatro. Acho que não é por mais nada, é tão simplesmente por não ter sido habituado a ir. Não ter nas minhas relações (que sempre foram muito poucas) pessoas que me convidassem ou incentivassem a ir. Mas a verdade é que comecei a ir mesmo sozinho.
Tinha ido a última vez ver "Boudoir" uma peça inspirada em Filosofia na Alcova do Marquês de Sade, protagonizada por Maria João Abreu. Entretanto meteu-se uma pandemia pelo meio. Mas a verdade é que, mesmo durante a pandemia quis ir ao teatro ver "Catarina e a Beleza de Matar Fascista", mas por causa dos constrangimentos da própria pandemia, de constantes adiamentos e até de infeções entre os atores, acabei por não conseguir ver.
Mas entretanto lá regressei de novo ao teatro. Foi no sábado passado. Tinha visto na newsletter da cidade de Matosinhos e desde logo fiquei com ideia em ir. É verdade que fazer 80Km num sábado à noite, sozinho, pode ser um pouco dissuasor. Mas contra isso decidi logo comprar o bilhete on-line. Assim, já não me poderia arrepender mais tarde.
E lá fui ver "Nossa Senhora da Açoteia", encenada e interpretada por Luís Vicente, que cresci a ver e a rir-me quando fazia de Átila em Duarte e Companhia.
Como facilmente se percebe eu não sou conhecedor de teatro. Mas sei dizer se gostei ou não. E a verdade é que gostei bastante. A peça alterna momentos trágicos e cómicos. E é bastante educativa. Revela bem como era a vida miserável em Portugal, nomeadamente no Algarve, na década de sessenta pouco depois de ter começado a guerra colonial. Miserável e ingrata, principalmente para as mulheres.
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022
A Invenção Recente do Dia dos Namorados e o Namoro à Bicha!
O dia de S. Valentim (ou dos namorados) começa a estar na moda. Mas deve ser importação, já que não encontrei, até agora referência de tradições portuguesas dedicadas à efeméride. Cheira a aquisição recente e consumística, estudada pelo marketing e estranha a hábitos e cheiros da terra do quinteiro.
Não quer isto dizer que não haja, entre nós, tradições, usos e costumes de namoro e casamento. Basta lembrar o namoro à bicha, na romaria do Senhor de Matosinhos, onde o sinal de bom estatuto - ao menos da moça que atraía os pretendentes - era dado pela quantidade de namoros que viessem oferecer-se-lhe. Os pais, babados, ate diziam: "A minha filha tem tantos namorados!", contando-os e comparando-a com as vizinhas. Práticas, convenhamos, interessantíssimas, já que, evidentemente quem não apresentasse bons cabedais e sólidas propriedades poucas hipóteses teria de conquistar a amada. Por onde andariam paixões e arroubos nesta sociedade tão pragmática em matéria de casamento? Não sei responder-lhes. A maior (e única) subversão do costume era dada pelos estudantes que, disfarçados de pretendentes ricos, se infiltravam nas carreiras e iam prometer mundos e fundos, pondo as cabeças de raparigas e pais a fazerem contas à riqueza, antes de descobrirem a marosca.
O casamento surge igualmente rodeado de crenças. Por exemplo: a aliança de ouro era usada há mais de 3000 anos nas cerimónias nupciais egípcias, sob a forma de ricos anéis decorados, mas o facto de se usar no dedo anelar esquerdo é romano. De tal dedo, uma veia dirigia-se diretamente ao coração (ideia poética para romanos, noutros aspetos tão sensaborões).
Superstições existiam várias: marcar o enxoval com o monograma do nome do noivo dava azar, maior se a noiva visse o noivo, no dia do casamento, antes da cerimónia. Assim como pôr o véu, ainda que para simples prova. O sapato velho atado ao carro dos noivos é resquício de tempos em que a mulher se sujeitava ao poder masculino. O sapato, símbolo da autoridade paterna, significava a transferência desta para o noivo. Também noutras épocas havia o arroz ou milho em abundância. Atiravam-no aos noivos para lhes augurar que tivessem filhos. O arroz é símbolo oriental, significando possa a vossa despensa estar sempre bem provida. Agora à guisa de compensação atiram confetis ou papelinhos porque o arroz está caro. As fores de laranjeira - símbolo de pureza - têm origem árabe; de Israel provém a simbologia de lealdade e amor dada por uma peça de roupa de cor azul, usada pela noiva.
sábado, 5 de fevereiro de 2022
Não Tenho Medo da Estrada... O Vento Levar-nos-à
"Não tenho medo da estrada...
E tudo vai ficar bem lá
O vento levar-nos-à...
" Le Vent Nous Portera" - Noir Désir (2001)