segunda-feira, 31 de março de 2014

Vai viajar?

Hoje na Farmácia, um mês depois, para aviar a segunda dose da vacina da hepatite B. Nova pessoa a atender-me mas a mesma pergunta:

- Vai viajar? 
- Não, infelizmente não.

Que gente mais cusca! Será que se eu pedir preservativos também me perguntam: 

- Vai foder? Com quem? Homem ou mulher? A dois ou em grupo?

freeimages.com

Enfim.... Mas voltando à vacina. Ao que parece, quem vai para "fora" está a tomá-la. Mas ainda assim isto deixa-me intrigado. Se o vírus só se transmite por relação sexual desprotegida e por contacto sanguínio, por que raio quem vai viajar tem de a tomar? Será que não existem preservativos no estrangeiro? E depois tendo uma relação sexual desprotegida podem-se apanhar dezenas de doenças diferentes, incluindo a SIDA que não tem vacina, e que deve ser um pouco mais chata que a hepatite B não?

Segunda dúvida, alguém decide viajar e resolve ou é aconselhado a fazer a vacina. Como é que faz, se para ficar totalmente imunizado tem de fazer três tomas espaçadas meio ano? 

domingo, 30 de março de 2014

A entrevista

Eu tenho um indicador infalível, que mede a frequência com que sou chamado para entrevistas de emprego: a barba. Há umas semanas até tinha comentado com a minha amiga parisiense, que até estava a pensar em fazer um trança na barba tal era o seu tamanho! Mas nem de propósito - e só mesmo para me contrariar! - poucos dias depois, recebo um telefonema para ir a uma entrevista, precisamente no mesmo dia em que havia enviado o curriculum! No próprio dia? Mas esta gente pensa o quê? Que um desemprego não tem vida própria? Que a sua vida é estar em casa, de pernas abertas, à espera que o telefone toque? Acho que nem é preciso ter formação em recrutamento, acho que bastaria um pouco de senso comum, para se saber que não é assim que se fazem as coisas.

"Não, hoje vai ser impossível deslocar-me para uma entrevista" respondi. Mas nem que fosse para o melhor emprego-escravo do mundo! Lá se agendou para o dia seguinte (depois do fim-de-semana). Posto isto, lá tive de pegar na tesoura e cortar a barba, para não pensarem que sou judeu, talibã, ou sabe-se lá mais o quê! Cortar, é mesmo só cortar, não é rapar, que eu não sou cá nenhum cara-rapada higienizado! Nos últimos vinte anos, creio mesmo que só por uma vez meti uma lâmina na cara toda, e por culpa de uma gaija. Claro, sempre as gaijas! "Queria ver como ficas com a cara toda limpinha." e pronto, um gaijo apaixonado lá acede a tudo e mais alguma coisa! Mas foi uma vez sem exemplo! 

"A barba cresce rápido" foi o que pensei, e na verdade até acho que o corte me ficou bem!

A primeira tesourada

Depois de ter ficado com um ar mais - alinhado? - começou a ansiedade com a entrevista. Eu já fui a muitas entrevistas, e já rodei muito bem todos esses esquemas recrutador/recrutado e a forma como me comportar, e o que estão à espera, e como me vender da melhor forma. Mas toda esta ansiedade anormal, creio que teria a ver com o facto de estar há demasiado tempo desempregado, e as oportunidades são poucas ou nenhumas. 

A entrevista em si não sei como correu, pois só eles saberão o que acharam de mim. Prendi o cabelo (algo que nunca faço, nem nas entrevistas!) e lá fui eu. Terá sido das entrevistas mais informais a que fui... O "patrão"  começou por me tratar por tu, apesar de não ter andado comigo na escola, mas também não devíamos fazer grande diferença de idade. Era um homem e uma mulher, colocaram as cartas na mesa, e eu mostrei o jogo que tinha, e sem fazer bluff. Acho que se calhar fui demasiado humilde, e isso não é bom. Na volta acho que já estou destreinado das entrevistas, tão poucas são as que tenho dado! Por outro lado eles também sabiam muito bem de onde vinha. Demasiado bem até. 

"É muito difícil encontrar alguém com a sua experiência", disseram-me. "Pois, mas não me tem valido de muito" respondi. Podemos ter grande experiência, mas se não existem ofertas na área, de que é que isso nos vale? "Quanto é que achas que vales?" "Nada adianta dizer-lhe quanto valho, pois o que interessa mesmo é saber quanto têm para me oferecer" respondi. 

Passaram quatro dias, e apesar de ter ficado claramente com a ideia que seria um dos candidatos mais fortes que eles tinham, o telefone não tocou. Quer-me parecer que esta entrevista não valeu o corte que dei na barba, se bem que serviu para me motivar um pouco, e só isso já terá valido os 70Km que gastei em gasóleo.

"É muito difícil encontrar alguém com a sua experiência". Eu começo a ter grande experiência é como desempregado, isso sim. Não haverá por aí um nicho de mercado para gente muito experiente em desemprego?

Lost - Banda sonora - Delicate

Décimo sétimo episódio "In tranlation". A figura central deste episódio é Jin, que conjuntamente com Sun, (sua esposa) formam o casal de coreanos que sobreviveu e está na ilha, sem perceber patavina do que todos os outros sobreviventes falam. Ficamos a saber através de imagens do seu passado que Jin nasceu numa pequena aldeia piscatória mas é ambicioso e conquistou o coração da filha de um grande empresário rico. Este deixo-a casar com a sua filha, mas coloca-o a trabalhar para si e rapidamente promove-o para ele faça os trabalhos sujos que precisa. 

Entretanto na ilha, Michael, construiu uma jangada para tentar escapar dali, mas esta acaba incendiada e suspeita de imediato de Jin pois já andavam pegados. Sawyer, que também já tinha comprado o seu lugar na jangada, vendendo-o por algo que Michael precisava (claro!), encontra Jin, esmurra-o e leva-o para a praia para servir de bode expiatório. Michael chega, começa a interrogá-lo e agride-o. Sun intervém, e pela primeira vez em público fala em inglês para defender o marido, e diz que não foi ele que incendiou a jangada, "ele tem muitos defeitos mas não é mentiroso". Todos ficam surpreendidos com a revelação, incluindo Jin, o seu próprio marido, que não fazia ideia que ela falava inglês.

Sun procura Jin para conversar sobre o que aconteceu, mas este, que está a juntar as suas coisas para se mudar, não lhe liga, mas ela pergunta (enquanto ele vira costas) "- Quando deixámos de comunicar?" Então em inglês (que ele não entende) diz "Eu ia deixar-te! Eu ia fugir. Mas tu fizeste-me mudar de ideias.Tu fizeste-me pensar que ainda me amavas". Em coreano diz-lhe "Eu quero voltar ao início. Não podemos começar outra vez?" "É demasiado tarde" responde Jin.

À noite, Locke, o homem das naifas e caçador de javalis, joga gamão com Walt, o filho de Michael, e pergunta-lhe, por que é que ele incendiou a jangada do pai. Este responde que não se quer mudar novamente, e que gosta de estar ali. Lock diz que também gosta de estar ali. 

Começa um novo dia, e Jin aparece com canas de bambu e diz a Michael "boat". O Episódio acaba ao som de "Delicate" que ouvimos pelos ouvidos de Hurley, que ouve a música no leitor de CD portátil, enquanto Sun, aparece na praia, em bikini, soltando o cobertor que a tapava, porque Jin a obrigava sempre a tapar o corpo, apesar do calor.



E entretanto acabam-se as pilhas a Hurley!

Delicate - Damien Rice - 2002

sexta-feira, 28 de março de 2014

Lost - Banda Sonora - I Shall Not Walk Alone

Oitavo episódio, "Confidence man". A personagem central deste episódio é Sawyer, o mauzão, que só pensa em si mesmo, e em tirar partido das situações em proveito próprio. É a personagem que mais tempo passa em tronco nu - para gáudio das senhoras claro! - mas é um mauzão que gosta de ler! Neste episódio estava a ler Watership dawn de Richard Adams. "It's about bunnies" diz ele para Kate. 

Depois de ficarmos a conhecer um pouco do seu passado, que em certa forma justifica a pessoa em que se tornou, o episódio acaba quando Sayid diz a Kate que tem de sair dali, depois de ter feito algo (torturado Sawyer) que tinha prometido não mais fazer. E se não consegue manter uma promessa, então não é digno de estar ali com eles. Diz a Kate que espera voltar a vê-la, beija-lhe a mão (um verdadeiro cavalheiro) e faz-se à vida, caminhando sozinho pela praia em busca do desconhecido ao som de "I shall not walk alone". 



I Shall not walk alone - The Blind Boys of Alabama (música de Ben Harper)

A verdadeira crise: a falta de tempo

Em tempos de crise, fala-se muito da falta de emprego, da falta de dinheiro, principalmente devido aos roubos do governo nos salários, reformas, subsídios de desemprego, abonos de família, em todos os direitos adquiridos, mas afinal, para o mesmo governo, o grave problema das pessoas é:

O tempo! 

Ou melhor, a falta de tempo! Só ainda não percebi por que é que a canalha fascista do governo, não teve a brilhante ideia de fazer uma qualquer lei qualquer, para que os dias deixem de ter só 24H, e passem, sei lá, de um dia para o outro, a ter umas cinquenta horas! De imediato resolvia-se o problema da falta de tempo, e ficávamos todos, de novo ricos - não?

Já no ano passado, o governo, na pele do ministro ex-deputado-lambreta, afirmava convictamente, que, o problema da queda da natalidade, tinha unicamente a ver, com o facto das pessoas não terem tempo para foder. 


Não era falta de tesão dos homens, ou as dores de cabeça crónicas das mulheres, ou a falta de condições financeiras. Não, isso são tudo desculpas esfarrapadas, o grave problema dos casais portugueses que querem ter filhos e não podem, é unicamente a falta de tempo para pinar!

Outra voz que já falou na falta de tempo, foi a alma caridosa, a verdadeira benemérita da treta do Banco Alimentar. Quando questionada sobre o problema das crianças que chegam à escola sem pequeno-almoço, refere que é tudo uma questão de falta de tempo dos pais! 


Esta semana ficamos também a saber pelo governo, que o problema da quebra do consumo interno em Portugal, não são as dificuldades económicas, nada disso, mais uma vez o problema é a falta de tempo para comprar! Aliás, isto está muito bem visto, o governo roubou-me no valor do subsídio de desemprego, e na duração do mesmo, e para o qual descontei durante onze anos, mas o problema de eu não fazer mais compras, não se deve ao facto deles me terem roubado, o problema deve-se a eu não ter tempo para fazer compras! 

Vai daí e abrem-se os centros comerciais durante 24h por dia, e assim, como que por milagre económico, quem não tem dinheiro, passará todo o tempo do mundo para o poder fazer. Isto é verdadeiramente brilhante! Os parolos que passam a vida enfiados nas estufas dos centros comerciais agradecem. O Belmiro e o Santos continuarão a ser ainda mais ricos, poderão explorar ainda mais trabalhadores-escravos, e continuarão a pagar os seus impostos na Holanda. O comércio tradicional, esse, terá agora todo o tempo do mundo para encerrar portas.

domingo, 23 de março de 2014

Lost - A série de uma vida

Acabei mesmo agora de rever o primeiro episódio da série Lost /Perdidos, quatro anos depois da série ter acabado. Creio que estaríamos em Março de 2005 (a série estreou em setembro de 2004 nos Estados Unidos) quando a RTP começou a passar uma publicidade anunciando a série. Nunca tinha ouvido falar, não fazia ideia do sucesso que estava a ter, nem dos prémios que havia ganho logo na primeira temporada. Nessa altura, ainda não tinha, nem televisão por cabo, nem internet em casa. Mas mal ouvi a publicidade, captou a minha atenção, e algo me dizia que deveria ver o primeiro episódio para ver o que achava.


A série ia passar aos domingos à tarde, por volta das 15h, e acabei mesmo por poder assistir ao primeiro episódio, apesar de alguma resistência por parte da pessoa que estava comigo nesse dia. Fiz bem em querer saciar a curiosidade e ver esse primeiro episódio, pois seria o primeiro de muitos, de seis séries, que acompanharia fielmente durante seis anos.


Eu nunca fui um ávido consumidor de séries, tal como também nunca fui um ávido consumidor de discos de música, como aquelas pessoas que sacam dezenas de CD por semana, só para dizerem que conhecem. Os prazeres para mim sempre foram para serem degustados com calma, e sou assim com tudo, talvez seja mesmo por isso que nunca fui grande adepto de rapidinhas. Daí que, quando realmente gosto de algo, gosto mesmo!


Estranhamente, apesar do enorme sucesso que Lost teve por todo o mundo, eu nunca encontrei muitas pessoas com quem conversar sobre a série, e estou em crer que a explicação tem a ver com a enorme exigência de fidelidade que a série reclamava, porque esta não é a típica história de novela, que basta ver o primeiro episódio para se saber como vai acabar. Pelo contrário, mesmo quem via todos os episódios, por vezes, acabava por ficar baralhado com o que acabava de ver, agora imaginemos que se perdia uns episódios pelo meio! Estou em crer até, e posso estar redondamente enganado, mas a ideia que tenho, é que em Portugal a coisa não terá feito assim tanto furor. Baseio-me só pela curta amostragem das pessoas com quem me relacionava, pois quando andava com uma camisola da série, e a maior parte das perguntas que me faziam era "Isso são os números do Totoloto"?


Lost para mim não foi uma daquelas paixões assolapadas, daquelas que passado meio ano, e umas quantas trancadas depois, acabam à porta de outra paixão assolapada. Lost para mim foi uma espécie de droga, e a minha dose era sempre o próximo episódio.


Se aparentemente o enredo é algo tão banal, como a história queda de um avião, e a forma que os sobreviventes arranjam para superar as adversidades, rapidamente o espectador vai ser descobrir que esse é mesmo só o ponto de partida. Será confrontado constantemente com inúmeros mistérios, com a descoberta da vida que aquelas personagens tinham antes do acidente, e como aproveitam esta nova vida na ilha para começar de novo. Será interessante ver como alguns se destacarão de imediato como líderes naturais, muitas vezes em confrontos entre si, e analisar as relações que se irão estabelecer entre desconhecidos.


Além da trama prender o espectador do início ao fim da série, no meu caso houve ainda uma identificação com algumas situações, e a identificação com as escolhas de uma personagem, e damos por nós completamente embrenhados numa teia emocional, em que mais parece que somos nós mesmos que estamos a vivenciar aqueles acontecimentos. E perante todas aquelas questões morais, é normal, que nós mesmos nos questionemos "e se fôssemos nós"?


Mas um dia a série tem de acabar. E mesmo sabendo que terá de acabar, quando se vive tão intensamente a coisa, quando nos damos conta que se acabou a droga, que não haverá mais nenhum episódio, que se acabou de vez, para sempre, fica então a sensação de vazio.


Há uns tempos, ainda tinha televisão, vi um documentário francês sobre séries, e descobri que não sou só eu que sofri desse mal! Muitas outras pessoas, um pouco por todo o mundo, quando acaba uma série que seguiram fielmente durante anos, ficam com essa sensação de perda, de vazio. Eu por exemplo, fiquei vários anos até ter vontade de voltar a ver outra série.


E bastou-me por estes dias, ver um pequeno vídeo sugerido pelo Youtube sobre Lost, para de imediato ficar com uma certa nostalgia da série, e por isso mesmo, hoje, peguei na primeira série (comprei as séries todas para alguma coisa!) e vou rever tudo de novo. Não vai preencher o vazio, mas será bom, a esta distância, relembrar de novo, a série de uma vida.