segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

A propaganda da natalidade

Há uma coisa que me intriga, que é facto dos políticos, na sua grande generalidade, virem constantemente falar do tremendo problema português, que é a taxa de natalidade. Mais intrigante ainda, é ouvir deste primeiro-ministro, que não mede esforços em tornar insuportável a vida das pessoas, afirmando mesmo que, quem não está bem que emigre, vir com uma enorme lata, dizer que temos é de fazer mais filhos. Vamos quê? Exportar bebés? 

As pessoas não têm emprego, mal têm para sobreviver, não têm quaisquer apoios para os filhos, quer para as despesas quer tempo para os educar, e a solução passaria então por pôr as famílias a ter ranchos de filhos. Claro, como a comida não chega para dois, vai sobrar se for dividida por quatro ou cinco. 
  
Por volta de 1500, num dos períodos mais prósperos da nação, Portugal tinha pouco mais de um milhão de habitantes. Há cem anos atrás Portugal tinha cinco milhões de pessoas, e num século apenas a população duplicou! Cinco séculos depois, no mesmo bocado de terra, temos hoje dez vezes mais pessoas. E dizem-nos os políticos que o problema do país está na pouca natalidade! Pois eu diria que foi precisamente o contrário!

Portugal tem cerca de dois milhões de pobres, é uma em cada cinco pessoas. Não há trabalho, e os empregos que há, na maioria são precários, com salários muito baixos - "alguém os há-de aceitar" - e sem condições de trabalho. E eu pergunto, se em vez de sermos dez milhões, se fôssemos vinte ou trinta milhões, estaríamos melhor de vida, ou simplesmente haveria mais pobres e mais gente para explorar como mão-obra-escrava para os gatunos deste país? 

E é só por isso que os políticos estão preocupados com a taxa natalidade. Não há pobres suficientes no país, é preciso fabricar mais fornadas de contribuintes para pagarem mais impostos, é preciso ter mais escravos, só que infelizmente os escravos portugueses ainda não se produzem em fábricas chinesas como os tapetes de Arraiolos. Lá chegaremos a esse admirável mundo novo. Mas por enquanto, ainda é necessário dizer às pessoas para fabricarem mais escravos, voluntariamente, mas da maneira tradicional.

O primeiro-ministro do governo que amontoou mais bebés nas creches, que meteu trinta alunos numa sala de aula, que encerrou hospitais metendo mais doentes em enfermarias, que encerrou maternidades, juntas de freguesia e tribunais, vem-nos dizer, façam mais bebés, que quantos mais formos, melhor. O país não tem recursos para albergar dez, mas se formos mais, seremos mais prósperos. 

E para quem será melhor um aumento da natalidade? Querem-nos mesmo convencer que ter o planeta a abarrotar de gente pelas costuras é melhor? Em cinquenta anos a população mundial mais que duplicou.Mais gente é melhor para quem? É melhor sim, para os mais ricos, para os bancos e para as grandes empresas, que precisam de mais exércitos de novos escravos consumidores para aumentarem a tão falada produtividade. Mas só é mesmo melhor para esses ladrões. 

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