O livro "Ana Karenina" de Tolstoi começa com esta frase conhecida: "Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira".
Não acho que tenhamos sido infelizes, talvez desafortunados à nossa maneira. Desde pequeno que o fardo da vida nunca me foi propriamente leve, mas, agora, revela-se um bocadinho insustentável.
Quando os timorenses fugiram dos indonésios para as montanhas, lembro de passar uma reportagem na televisão, de um jornalista que os acompanhou e de ser noite cerrada e todos caminharem em silêncio e, de repente, há uma criança que cai mas resiste a chorar, não fosse poder ser ouvida pelo inimigo.
Não é bem habituarmo-nos aos fortes revezes da vida, ou talvez seja, como o marinheiro que se habitua a lidar com o mar revolto, ou então, talvez seja uma espécie de dessensibilização, como aquela criança que cai e sabe que não pode chorar. Dessensibilização não no sentido de nos tornar insensíveis, mas a nos calejar e preparar para não sentir tanta dor.