O problema existe quando o ódio foi posto no nosso coração pela ação direta de um "desarrumador". Quando nos vemos afetados pelo furto, pela tortura, pela mentira, pela traição, pelo assassínio. Nesses casos, o único que nos pode tirar o ódio é o próprio agressor. Assim indica a Lei do Amor. A pessoa que provoca um desequilíbrio na ordem cósmica, é a única que pode restaurá-la. Na maioria das vezes não é suficiente uma vida para se conseguir isso. Por isso, a natureza permite a reencarnação, para dar oportunidade aos "desarrumadores" de arranjarem as suas confusõezinhas. Quando há ódio entre duas pessoas, a vida reuni-las-à tantas vezes quantas fores necessárias até este desaparecer. Nascerão uma vez e outra, perto um do outro, até aprenderem a amar-se. E virá um dia, depois de quatorze mil vidas, em que terão aprendido o suficiente sobre a Lei do Amor para que lhes seja permitido conhecer a sua alma gémea. Esta é a melhor recompensa que um ser humano pode esperar da vida. E podem ter a certeza que caberá a todos, mas a seu devido tempo. É isto que a minha querida Azucena não percebe. O momento de conhecer Rodrigo já lhe tinha chegado , mas não o de viver a seu lado, pois, antes, ela tem de adquirir maior domínio sobre as suas emoções, e ele liquidaar dívidas pendentes. Antes deve pôr algumas coisas no seu lugar, se pretende unir-se para sempre com ela, e Azucena vai ter de o ajudar. Esperemos que tudo corra bem para benefício de encarnados e desencarnados. Mas eu sei que vai ser muitíssimo difícil. Para triunfar na sua missão, Azucena precisa de muita ajuda.
Eu, como seu Anjo-da-Guarda que sou, tenho a obrigação de socorrê-la. Ela, como minha protegida, tem de se abandonar e seguir as minhas instruções. E aí é que está o busílis. Não faz caso nenhum de mim. Estou há cinco minutos a dizer-lhe que tem de desativar o campo áurico de proteção de sua casa para Rodrigo poder entrar e até parece que estou a falar para uma parede. Está tão emocionada com a ideia de o conhecer que não tem ouvidos para as minhas sugestões. Vamos lá ver se o pobre noivo não fica muito estragado ao pretender atravessar a porta. Qual quê? Ainda bem que por mim não foi. Sussurrei-lhe milhares de vezes o que ela tem de fazer. E nada! O que mais me preocupa é que, se não é de ouvir nem de executar esta ordem tão simples, o que será quando realmente depender da minha cooperação para salvar a sua vida! Enfim, seja o que Deus quiser!
A Lei do Amor / Laura Esquivel / 1997
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