Cheguei a pensar em voltar de comboio para o Porto. Mas apanhar três transportes até chegar, já noite dentro, ao sítio onde teria de deixar o veículo estacionado, seria mesmo estar a pedi-las, com tantos imponderáveis não devidamente programados. E bem que eu gosto de ter as coisas minimamente alinhavadas. Cheguei também a pensar em meter a bicicleta na mala e levar a carroça. Mas no fundo só iria a fazer peso, porque com tanta ocupação quase de certeza que nem teria tido tempo para ir dar uma voltinha de bicicleta, sem falar que depois de caminhar quatro ou cinco horas, a vontade já poderia nem ser muita.
Mas se tivesse voltado de comboio por certo que não me teria rebentado um pneu. Se tivesse levado a carroça também estou em crer que não, pelo menos não daquela forma completamente estúpida.
Mas se tivesse voltado de comboio por certo que não me teria rebentado um pneu. Se tivesse levado a carroça também estou em crer que não, pelo menos não daquela forma completamente estúpida.
E se aqueles dois idiotas, que estacionaram à minha volta, bloqueando-me completamente e impedindo-me de sair do parque - mas pensavam o quê? que o meu cavalo preto levanta voo? - e se eles não o tivessem feito, seguramente que depois, tudo o que veio a acontecer não teria acontecido. Mas se eu também não tivesse decidido mudar o local de estacionamento, pouco antes de seguir com as cem pessoas da caminhada, também depois não teria como ser bloqueado por aqueles dois idiotas, do VW verde e do BMW preto e ter de ir ao restaurante, com as duas matrículas apontadas na folha aos quadriculados, para que perguntassem ao microfone, se algum dos dois idiotas estava presente na sala.
Eu havia chegado bem cedo. Tenho esse terrível defeito para comum português, de chegar sempre cedo, bem antes da hora marcada. Só posso ser mesmo um anormal, num país onde a norma é chegar sempre atrasado. E os dois autocarros, por quem estava à espera, haveriam de chegar, bem atrasados. Até haveriam de ir primeiro para o lado errado da lagoa! E eu, que não sou motorista, não conhecia o local, nem tenho GPS no carro, nem telemóvel com internet, e tinha simplesmente tirado umas anotações num papel quadriculado que estava em cima banco ao meu lado, cheguei lá, sem um único erro! Quando os dois autocarros chegaram, já há muito que eu tinha pegado na máquina fotográfica, e tinha ido fotografar as Brumas da Pateira de Fermentelos. Pelo menos foi isso que me fez lembrar quando saí fora do carro, de calções pretos, acima dos joelhos, e de camisola de cavas, também ela preta. Que todo aquele imenso nevoeiro sobre a lagoa, ou lago (para sermos inclusivos!) me fazia lembrar o filme As brumas de Avalon... O livro, esse, tenho para aí na estante, mas só li umas quantas páginas quando estive internado no hospital, talvez na última vez, há seis anos, não tenho a certeza, mas acho que sim.
Pateira de Fermentelos (maior lagoa da Península Ibérica) |
E fiquei mesmo muito irritado. "Cem euros para o lixo" destilei. Pouco tempo antes tinha-me ido mudar. Tinha ido à casa de banho, que tresandava a mijo, para trocar as botas de caminhada, que quando as tirei encheram o chão de areia, e os calções de desporto, pelas novas sapatilhas pretas, da Sanjo, e por uns calções verdes, com uma espécie de padrão pixelizado camuflado. E tinha-me ido refrescar e lavar, tentando tirar o imenso cheiro a suor frutos dos 14Km de caminhada e dos quase trinta graus de temperatura, para pouco depois, já estar bem pior, todo cagado, de mãos e braços completamente pretos, depois da aventura de tentar substituir o pneu rebentado. (A propósito as chaves que vêm nos carros para desapertar os parafusos são mesmo uma valente merda. Depois de duas porcas desenroscadas, já a chave estava toda moída).
Às vezes parece mesmo que há dias em que não podemos sair de casa. Como dizia o Murphy, parece que se há algo que pode correr mal, correrá mesmo mal e da pior forma. Tantos acontecimentos encadeados, parecendo que foram estrategicamente pensados, de forma ardilosa, só para me estragar o fim-de-semana. Mas depois, mais calmamente, acabei por refletir que não me podia deixar levar por aquele acontecimento negativo. Coisas boas aconteceram este fim-de-semana. Porquê fixar-me só num ponto negativo? E depois ainda pensei: e se todos aqueles acontecimentos, foram só uma forma de alguém me proteger - foste tu minha Anja-da-Guarda boazona?! - proteger de algo bem mais grave e que me poderia ter acontecido, se não tivesse ficado ali todo aquele tempo...
Não sei! mas vamos acreditar que sim!
Não sei! mas vamos acreditar que sim!
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