quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Estarão todas as relações condenadas?

Depois de reencontrar um casal que já não via há bastante tempo, dei por mim a refletir se passados uns quantos anos, todas as relações se transformam naquilo que eu observei. É verdade que também podemos sempre ver a evolução das coisas que se passaram connosco, nas nossas próprias relações, e devemos sempre retirar daí ensinamentos para o futuro, mas quando somos parte interessada é sempre diferente porque nunca temos a mesma distância e a mesma imparcialidade de quem vê as coisas de fora. Enquanto que, quando olhamos de fora, para as outras pessoas, conseguimos sempre ver o quanto as coisas mudaram - ainda mais se não estivermos com elas durante bastante tempo como foi o caso - e ver como há pequenas coisas que mudaram. De repente, uns anos sem estar com estas pessoas, e quando as reencontramos, essas pequenas coisas saltam logo coisas à vista porque são demasiado evidentes.

As constantes implicações, algum desdém, o deitar o outro abaixo, a constante competição, como querendo mostrar que eu-é-que-tenho-razão, e as coisas acontecem por-tua-culpa. E nada disto  era visível no passado. A própria linguagem não verbal muda. A forma como se comunica com o corpo. As mãos dadas, o caminhar abraçado, ou por outro lado o caminhar cada um para seu lado, desligados. Até nos afetos, um beijo de quando em vez, os pequenos carinhos, o olhar cúmplice e as conversas telepáticas em que parece bastar olhar nos olhos do outro para se saber o que ele está a pensar. De repente ainda é evidente a cumplicidade, mas as coisas são já substancialmente diferentes do que eram antes. 

E o que é que afinal acontece para que as coisas mudem e as pessoas chegarem a este estado de coisas? É que sinceramente não me pareceu  uma coisa muito saudável. Parece-me cansativo e desgastante. E até frustrante. 

E isto deixou-me um pouco triste.
Há quem diga que eu sou um romântico. "Tu não és deste mundo" diziam-me recentemente. Talvez não seja mesmo deste mundo, pois eu ainda sou da opinião, que quando nos entregamos a alguém, e sentimos "aquilo", isso é para toda a vida.


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E são estas relações que conhecemos há mais tempo, em que as pessoas estão juntas há mais anos, são esses exemplos que nos levam a acreditar que sim, que é possível as coisas darem certo "para sempre". Em tempos também eu fui esse exemplo para os outros. Depois as coisas acabam e toda a gente fica como que em choque, pois mais um casal "perfeito" deixou de o ser. 

E foi por isso que não gostei de ver o que vi, porque nós queremos que esses exemplos sobrevivam. 
Eu não sou nenhum especialista em relações, se o fosse certamente não seria o único solteiro da minha rua. Ou talvez seja mesmo especialista - olhando por outra perspetiva - por nunca me ter casado! Ou na verdade, talvez uma coisa não tenha nada a ver com a outra, até porque numa relação, nós só temos o poder de decisão de 50%, e isso é muito pouco, para que, mesmo um especialista consiga levar as coisas a bom porto. 

Mas eu gostaria de acreditar que se hoje iniciasse uma relação, e daqui por dez anos ainda estivéssemos juntos, quero acreditar que as coisas não estariam assim. Nós achamos que connosco é sempre diferente não é?
Mas eu gostaria de acreditar que continuaria a passear de mão dada tranquilamente, sempre juntos, e não como um casal Taliban, em que andam separados por dez metros de distância. Quero acreditar que nunca deixaria de ser carinhoso, e que nem deixaria de surpreender a outra pessoa, com um abraço apertado, vindo sabe-se lá de onde. E essencialmente gostaria de acreditar que o brilho dos meus olhos nunca se desvaneceria sempre que olhasse profundamente nos olhos da tal pessoa.

Talvez seja por eu querer ainda acreditar nestas coisas que eu não seja mesmo deste mundo. Talvez seja por isso, por ser de outro mundo que continuo sozinho. Ou talvez seja só porque hoje em dia todas as relações estão condenadas. 

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