terça-feira, 6 de agosto de 2024

Verde - Como a Cor do Diabo se Tornou a Cor dos Ambientalistas

O jornal francês Libération está a publicar diariamente uma série de reportagens bem interessantes sobre a história das cores nas lutas políticas e sociais. Depois de ter partilhado o nº1 que foi sobre o vermelho, o nº2 é sobre o verde:


"As cores impregnaram as lutas políticas e sociais. Hoje, o verde, cujo nome e tonalidade cativaram partidos e movimentos de defesa do ambiente.

Traçar a união entre o verde e a luta ecologista seria como contar a história de um velho casal, daqueles que já não se questionam e cuja solidez dos laços se materializa até no nome. E, no entanto, esta associação nem sempre foi evidente. "O verde ecologista é recente, surgido nos anos 60-70. Como o que parecia mais ameaçado era o mundo vegetal durante essa tomada de consciência, o verde tornou-se a cor dos movimentos ecologistas", observa o historiador especialista em cores Michel Pastoureau.

DESTINO

Sob o impulso do partido alemão Die Grünen, a cor tornou-se política, iniciando o começo de uma quase unidade internacional. Embora alguns prefiram optar pelo termo "ecologista", pelo menos quarenta partidos utilizam o denominativo "verde", começando por Europe Ecologie-les Verts (mas que passou a chamar-se les Ecologistes em outubro de 2023) ou The Green Party em vários países anglófonos. "No Reino Unido, o nome 'Ecology Party' estava associado a uma ciência com a qual o cidadão comum não se identificava necessariamente. A substituição por The Green Party correspondia, provavelmente, a uma vontade de tornar o partido mais popular", analisa a linguista Camille Biros no seu estudo sobre "As cores do discurso ambiental".

A tonalidade clorofila, antes de ser a da natureza, era a da mudança, do destino. Na Europa Ocidental, existe a ideia de que traz má sorte. "A razão principal é que era uma cor instável. Sabia-se como fabricá-la, tanto em pintura como em tintura, mas não se conseguia fixá-la. Havia, portanto, a ideia de que seria instável", explica o historiador, acrescentando que está associada a tudo o que não dura: "A juventude, a sorte, a felicidade." Na Idade Média, o verde também era a cor do diabo, dos demónios, dos feiticeiros. Desde o ano 1000, o Islão fez também do verde a sua cor.

CÓDIGO

Foi apenas "a partir da época romântica que a ideia de natureza começou a ser associada ao mundo vegetal e, portanto, ao verde", recorda Michel Pastoureau. Antes disso, a natureza era percepcionada como a soma dos quatro elementos fundamentais: a água, a terra, o ar e o fogo. Quatro cores deveriam, portanto, representá-la logicamente. Como recorda o jornal suíço Le Temps, o código de cores do primeiro Dia da Terra, que mobilizou milhões de americanos a 22 de abril de 1970, inclinava-se mais para o azul. Uma passagem breve.

Hoje, o verde quase rivaliza com o vermelho como a cor ideológica mais associada a um movimento. "Se alguém diz 'o verde é a minha cor preferida', pensa-se logo que é um ecologista. Isso não acontece com outras cores", observa Michel Pastoureau. Algo que alimenta sem esforço o tão falado greenwashing. "Nos últimos cinquenta anos, há cada vez mais logótipos verdes, uma boa maneira de se associar vagamente à defesa do planeta, sem ter de pôr a mão no bolso", acrescenta.

Mas estará o vibrante verde esmeralda, recuperado a todo o custo, a esmorecer? "A pertinência do verde para representar a causa ambiental é por vezes posta em causa […]. Perdeu o seu significado", escreve Camille Biros. Nos últimos anos, o azul tem-se imposto, o da água, do céu, uma referência a esta "planeta azul" tal como é vista da estratosfera. Um sinal de uma evolução na luta ecologista, em que "os problemas ambientais são menos pensados numa escala local" e onde "a preservação de todo o ecossistema da Terra" é central, acrescenta a linguista. A poluição do ar e a questão da água ocupam um lugar cada vez mais importante. Se o verde ainda predomina, as empresas já estão preparadas para recuperar a sua simbologia, como ilustra a gama Bluemotion da Volkswagen, promovida pelo fabricante automóvel como menos emissora de CO2. Um prenúncio de bluewashing?

Marlène Thomas | Libération 5 de agosto de 2024

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