domingo, 14 de dezembro de 2025

Encontrar a Saída


No pântano onde não há vida
Um fedor pútrido apodrece a terra
Apenas as almas solitárias dos mortos
Vivem aqui, tão perto do fim

Uma ténue luz surge no nevoeiro
Brilha como uma estrela no céu
Chama a minha mente a seguir este fulgor
Encanta-me, e não sei porquê

Ignis Fatuus é a luz-guia que conduz os homens perdidos pela noite
Bruma sinistra e o mistério que governam este lugar ao redor
Ignis Fatuus é a única esperança neste pântano sombrio e morto
Deves seguir esta luz mágica para encontrar a saída arcana

Neste pântano, com esta coisa brilhante
Talvez tudo seja irreal
Devia ser mais cauteloso aqui
Nunca se sabe qual é a sua verdadeira vontade

Ignis Fatuus é a luz-guia que conduz os homens perdidos pela noite
Bruma sinistra e o mistério que governam este lugar ao redor
Ignis Fatuus é a única esperança neste pântano sombrio e morto

Deves seguir esta luz mágica para encontrar a saída arcana

GRYMHEART - Ignis Fatuus (2023)

A Raposa que Promete Guardar as Galinhas

 O candidato que se diz "anti-sistema", "que não é um político igual aos outros" porque "PS e PSD corrompem a classe política nos últimos 50 anos", é o político que, enquanto trabalhou como inspetor tributário ajudava empresas a fugir ao fisco. É o tal que, enquanto não era deputado criticava os outros deputados que não trabalhavam em regime de exclusividade mas quando se tornou deputado recebia por dois carrinhos. É o político que esteve 17 anos no PSD e que quis ser líder do partido que posteriormente, quando saiu, apelidou de "prostituta política",

Haver quem ache que um corrupto é que vai acabar com a corrupção é o mesmo que achar que um pedófilo é que seria a pessoa ideal para acabar com a pedofilia. Ou, achar que o melhor é pôr uma raposa a guardar o galinheiro







quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Não Façam dos Trabalhadores Estúpidos



Despenalizar o aborto nunca obrigou ninguém a abortar. 
Despenalizar as drogas não obrigou ninguém a drogar-se. 

Tal como se um jovem tiver um contrato de trabalho sem termo nada o obriga a trabalhar a vida toda na mesma empresa. Nada o prende, sai quando muito quiser.

Os direitos são direitos. Nunca obrigaram ninguém a nada.
Não façam dos trabalhadores estúpidos.



quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Se Precisares de Alguma Coisa, Telefona


Na segunda consulta de psicologia - a propósito, acho que deveria ter feito uma formação para saber como me comportar numa consulta de psicologia, porque cheguei lá, sentei-me, peguei na metralhadora e comecei a disparar durante uma hora e meia - lembrei-lhe que retive três coisas que me disse na consulta anterior:

- Que o mais normal seria que as coisas piorassem
- Que a relação que eu tinha com a minha mãe não era uma relação comum
- E que está estudado que a pessoa que está a passar por um processo de luto não deve ter grandes mudanças das suas rotinas (algo que não aconteceu, de todo, comigo).

Mas lá pelo meio comentei também uma frase que uma pessoa que conheci há pouco tempo e que também está a passar por uma situação difícil, e que me disse:

"As pessoas dizem-nos: se precisares de alguma coisa, telefona. Mas se não nos englobarem nas suas vidas, isso não vale absolutamente nada. Quando uma amiga me diz isso, eu respondo-lhe que se telefonasse sempre que precisasse, então estava sempre a ligar-lhe". 

Se genuinamente têm interesse em ajudar alguém que está a passar por uma fase complicada, então mexam-se. Façam alguma coisa. Telefonem vocês, combinem vocês, Convidem a pessoa para sair, para fazer qualquer coisa convosco. Incluam a pessoa nas vossas vidas. Porque ninguém vai simplesmente fazer-se convidado e aparecer na vossa casa do nada, porque ninguém tem esse à vontade. Ninguém quer ser um estorvo ou um incómodo. 

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Eloísa de Castro - A Filosofia Heavy Metal - FiloMetal (2)

O El País voltou ao tema do Heavy Metal e da Filosofia, desta vez na revista de domingo, com uma entrevista a Eloísa de Castro que "escreve, canta, pinta, faz teatro e filosofa". E que "através do metal, traz para a actualidade a sabedoria das pensadoras históricas esquecidas que mais a inspiram. Assim, criou um novo género musical: o filometal".

Aqui fica a entrevista na íntegra e, no final, deixo o último álbum da artista que está na sua conta de Youtube.


"O olhar torvo de Camilo José Cela parece pousar sobre esta jovem de cabelo ruivo que posa com um vestido gótico, sob o qual se entrevê um corpo tatuado. Os saltos dourados ecoam sobre o soalho de madeira solene da Galeria de Retratos do Ateneo de Madrid, com rostos de ilustres senhores a observarem a filósofa, ensaísta, cantora de heavy metal e pintora Eloísa de Castro (Madrid, 28 anos). 

Entre os quadros, o da filósofa rebelde María Zambrano, a única mulher rodeada por 28 homens. Ela é um farol intelectual para De Castro. “Acaso não sou livre para sentir? Acaso não sou luz para viver?”, entoa a artista, de sangue burgalês, na sua canção María Zambrano, Ordo Amoris. De Castro recolhe o legado intelectual da pensadora malaguenha para o transportar para um gineceu musical, onde reúne pensadoras ignoradas pelos seus contemporâneos e esquecidas pela história. Fá-lo através do heavy metal, um género difícil para o profano, mas utilizado como veículo para a filosofia ou a ética, a mitologia ou a história. O seu é um exercício contra a corrente em tempos de altifalantes a cuspirem versos sobre quem tem o carro ou o cu maior.

O heavy seduziu essa criança com os seus casacos de cabedal e cabelos compridos. Também explorou o seu lado científico, pois encontrou o seu gineceu quando pediu que lhe oferecessem um microscópio e um telescópio. “Em pequena queria ser Rosendo e Einstein ao mesmo tempo”, comenta. Dois pro-homens peculiares. 

Não tinha referências femininas. Aos oito anos perguntou à mãe: “Sou um rapaz?”, pois os seus gostos pareciam masculinos: fascinava-a o metalero Leo Jiménez, vocalista dos Saratoga e grande figura do metal espanhol. “Não, és uma rapariga, com gostos que também são de raparigas”. E então conheceu Doro, diminutivo de Dorothee Pesch, a rainha do metal. E tudo se acelerou. 

“Convido os jovens a experimentar, a serem chonis, rappers, para depois escolherem o seu género e não verem o metal como algo satânico. Infelizmente fizeram-me bullying no secundário por gostar disto. Somos luz dentro da nossa escuridão e procuramos levar cultura às pessoas, não a maldade”, aponta.

@elodecastrofficial

Aquela adolescente foi percebendo pouco a pouco que também há mulheres na música sombria, embora demasiadas vezes enfiadas em espartilhos de couro sexualizados. “Pode ser uma ferramenta de expressão, desde que seja escolha delas. Eu gosto de ser mais elegante, não tão provocadora”, diz a filósofa, que hoje enverga um vestido comprido do qual sobressai a tinta da sua pele. Os nomes do irmão e da mãe, tatuados em grego antigo nas coxas. Num braço, o ícone do seu livro Antiética do Narcisista. Também um dragão, um símbolo, junto a uma chave inglesa em memória do seu avô Manolo e, no alto do peito, o núcleo da questão: a palavra Filometal. “É o meu bebé, a fusão entre filosofia e heavy metal, divulgando filosofia e ciência de teses exclusivamente femininas”, recorda.

Disseram-me que, se não aparecesse com um corpete, uma banda e mais decote, não teria hipótese nenhuma. Eu respondi: ‘Estão a confundir-me com outra pessoa’. Uma mulher que canta, escreve letras e lidera o seu próprio projecto mete medo. Todas as pessoas a quem se pode pedir conselho são homens. Alguns estão bem, mas a outros não lhes agrada que se iguale o seu poder. Se o filometal fosse feito por um rapaz da minha idade, agora estaria a rebentar”, diz a autora, que nas suas obras fala sobre o narcisismo da sociedade e os seus artifícios. Questionada sobre se teme afogar-se no seu reflexo, confessa que a sua psicóloga lhe receita regularmente um: “Não te esqueças de quem és”. Assim consegue aterrar e continuar a criar.

O seu disco de filometal Gineceu (2022) - que terá uma versão em teatro musical em Viagem ao Gineceu, que se apresentará a 27 de Março no Ateneo de Madrid - vai-lhe trazendo ganhos, alguns económicos e muitos morais, como ter conseguido que a sua avó compreendesse o filometal e a incentivasse a nunca se submeter. “A filosofia deve abrir caminho, tal como o heavy metal, através de um palco, lida, ao vivo. Nas redes sociais há muitos divulgadores. Gosto muito da Bea Jordán, tem uma onda muito choni! A filosofia tem de estar na rua, e deve-se debater como se debate A Ilha das Tentações”, ri-se. “Seria espetacular uma Operación Triunfo de filósofas! Levaria a Bea Jordán, a Alba Moreno [uma física divulgadora com estética choni], a La Zowi - estou apaixonada pela La Zowi —, a [a bióloga molecular e candidata a astronauta] Sara García e a Inés Chamil, divulgadora de heavy”.

“Defende o teu direito a pensar, porque até pensar de forma errada é melhor do que não pensar”

“Defende o teu direito a pensar, porque até pensar de forma errada é melhor do que não pensar”, insiste De Castro, que está convencida de que hoje em dia não se pensa, limita-se a seguir a massa. “Em tempos cinzentos, de crise, com pouco acesso à habitação e tudo o resto, os jovens precisam de uma aurora, como falava Zambrano, para nos consciencializarmos de que virá um futuro melhor. A história diz que depois do negro vem a luz”, confia. A artista critica, em tom de brincadeira, o filósofo Immanuel Kant por ter distinguido entre ciências e letras, como se as humanidades fossem inferiores. “As humanidades e a ciência não se entendem uma sem a outra; a filosofia é a mãe da ciência. É valiosíssimo estudar o cancro, mas precisas de ética, de saber ser um bom cidadão, de entender de política, de ter o teu momento artístico. Um bom cientista deve ter uma boa base humanística e vice-versa”.

- Uma mulher que escreve, canta, pinta, faz teatro e filosofa é um homem do Renascimento?

- O Renascimento foi uma boa época. Sem o desmerecer, isto é um remix do Renascimento, é também modernidade. Deveríamos dizer que somos pessoas do Renascimento, agora que estamos a incluir absolutamente tudo.

EL PAÍS, 7 de Dezembro de 2025 Por Juan Navarro | Fotografia de Lupe de la Vallina


Para Sempre Completamente Sozinho


"Olho para o céu
o sol desvaneceu-se
o luar brilha sobre mim
os deuses tocam as suas sinfonias
Sinto-me tão perdido que caio de joelhos
Penso nos tempos que já foram

Não consigo encontrar as palavras certas para dizer
Não sei como dizer adeus

Aqui… aqui estou… a vida é luminosa…
…Não há tristeza… nada nos pode deter…
…Mostrou-nos a esperança… anjo da minha floresta…
…Vi a minha perfeição… na minha própria alma… a morte é injusta… isso é dor real…
…Recordo-te… estou quase morto…
…Eu… eu perdi a minha esperança…
…A minha… a minha vontade de viver…
…O meu último adeus… para sempre… completamente sozinho…

Nos meus olhos não vês orgulho
Nos meus olhos não vês luz
Nos meus olhos vês uma lágrima
Nos meus olhos vês o meu medo
Nos meus olhos vês o meu amor
Nos meus olhos não vês aflição
Nos meus olhos vês o meu ódio
Nos meus olhos vês o meu destino

Para sempre completamente sozinho

All Alone | Sins of Thy Beloved (1997)