terça-feira, 24 de junho de 2025

Porque Hoje é São João

Se houvesse alguma consciência ambiental, que não há, os balões de São João e os martelinhos de plástico já tinham sido banidos há muito tempo.

(2018) "O ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, afirmou na manhã desta segunda-feira (3) ter surgido novas suspeitas que podem explicar as causas do incêndio no Museu Nacional do Rio, na Quinta da Boa Vista, zona norte do Rio. Uma delas é a queda de um balão no teto do edifício. Ele afirma ter recebido o relato de um diretor do museu". 



domingo, 22 de junho de 2025

A Alma Lorpa

 Valter Hugo Mãe, hoje, no Jornal de Notícias:


"Estamos a assistir à derrocada moral da sociedade e o Governo, presidente da República e tribunais estão a assobiar para o lado, como se não tivessem dado conta. A ilegalização do partido fascista que hoje tem montanhas de cadeiras na Assembleia da República era elementar desde o primeiro instante. Todas as alocuções, gestos, saudações nazis, incitação à violência e racismo são contrários à Constituição. Estamos a deixar passar. Não podemos ser tolerantes com os intolerantes. Nesse caso, a tolerância não faz sentido. Estamos a jogar limpo com alguém que está a jogar sujo. Sabemos que o lado de lá está a fazer batota e nem sequer estamos a fazer cumprir as regras que estão estabelecidas. Não sei se estamos a ficar com a alma lorpa...


A entrevista pode ser lida na íntegra aqui.

Uma Era de Extermínio

Capa da revista "New York" (e de seguida excertos sobre o genocídio em curso na Palestina que todos fazem de conta que não está a existir):

«Desde os horrores da Segunda Guerra Mundial, o mundo tem tentado evitar, mesmo em tempos de guerra, o que é moralmente inconcebível: o assassinato deliberado de não combatentes, a destruição de propriedades civis, a negação de ajuda humanitária. Israel de Netanyahu, com o apoio de duas administrações norte-americanas, terá provavelmente cometido centenas, talvez milhares, de crimes de guerra em Gaza, desafiando de forma descarada o corpo de leis que, embora aplicado de forma imperfeita ao longo das décadas, visava proteger a santidade da vida humana. No seu lugar, emergiu uma era de brutalidade sem controlo.»


Os Crimes de Guerra à Vista de Todos

New York Magazine, 16 de junho de 2025
Por Suzy Hansen

Em Gaza, crianças estão a ser massacradas, as zonas seguras tornaram-se campos de extermínio, e as normas destinadas a proteger civis estão praticamente destruídas. (...)

Em dezembro, Israel já tinha matado 20.000 pessoas, segundo o ministério da Saúde de Gaza, incluindo 8.000 crianças, 60 jornalistas e 130 trabalhadores humanitários. Surgiram fotos de prisioneiros nus, amarrados e empilhados na parte de trás de camiões. Foi nessa altura que a África do Sul apresentou o seu processo de genocídio contra Israel no Tribunal Internacional de Justiça. Pouco depois, o TIJ concluiu que havia méritos plausíveis no caso e ordenou que Israel tomasse medidas para evitar o genocídio (...)

Em março de 2024, surgiram notícias de que recém-nascidos estavam a morrer de desnutrição. Em abril, soube-se que Israel recorria a inteligência artificial, muitas vezes falível, para identificar alvos no terreno, e que estava a privar Gaza de alimentos. Os EUA, incapazes de convencer os seus parceiros israelitas a agir com humanidade, começaram a lançar comida do ar e, eventualmente, construíram um cais para transportar ajuda - que acabou por ser arrastado pelo mar.

Em maio, o Tribunal Penal Internacional anunciou pedidos de mandados de captura para os líderes do Hamas e de Israel. Em julho, Israel largou oito bombas de 2.000 libras na zona costeira sul de Al-Mawasi, supostamente uma zona segura. As armas mataram 90 pessoas e feriram 300, segundo o ministério da Saúde de Gaza.

Havia sempre mais. Nesse verão, médicos regressaram de Gaza a relatar que snipers estavam a disparar contra bebés na cabeça. “Nenhum bebé é alvejado duas vezes por engano,” disse o cirurgião ortopédico Mark Perlmutter, da Carolina do Norte. Em 30 anos a trabalhar em zonas de conflito, nunca tinha visto crianças “incineradas” ou “esfrangalhadas” como as de Gaza. 

“Em cada 70 pessoas que entram no hospital por hora, 40 são crianças. Nunca vi nada assim.” As crianças diziam ao pessoal médico que estavam à espera da morte. Surgiram siglas e expressões: WCNSF, para “criança ferida, sem família sobrevivente,” e a “zona das crianças mortas.” Unni Krishnan, da Plan International, contou que percebeu que Gaza era diferente quando um médico lhe disse, numa chamada, que tinha de operar o próprio filho.


Em novembro, a médica americana Tanya Haj-Hassan testemunhou nas Nações Unidas que “tudo o que é necessário para sustentar a vida está sob ataque” e que Gaza é o “prólogo para o fim da humanidade.” Transmitiu o testemunho de um enfermeiro chamado Saeed, que foi detido e torturado pelas forças israelitas:

Estamos a ser enterrados, a cada minuto estamos a ser enterrados, a cada minuto desaparecemos, a cada minuto somos raptados, estamos a viver coisas que a mente humana nem consegue compreender. Morremos e não há ninguém para nos enterrar. Peço que partilhem a minha história, toda a minha história, com o meu nome. Quero que o mundo inteiro saiba que sou um ser humano... sou um ser humano criado por Deus.

(...)  Hoje, Gaza é mais assustadora do que nunca, como escreveu Abu Toha, porque uma nova fase da exterminação da vida palestiniana começou. A 18 de março, o governo israelita rompeu unilateralmente o cessar-fogo e lançou tantos bombardeamentos que matou 436 pessoas numa única noite, incluindo 183 crianças e 94 mulheres, segundo o ministério da Saúde de Gaza. Israel impôs um cerco total durante 77 dias, impedindo qualquer entrada de comida, combustível e ajuda médica — o mais longo dos seus muitos atos de privação — o que significou “nem um grão de trigo, nem uma gota de água, nem medicamentos, nem vacinas para crianças,” contou-me Juliette Touma, diretora de comunicação da UNRWA. Os israelitas cortaram a eletricidade, inutilizando máquinas médicas vitais e as plantas de dessalinização numa área onde a água é salobra e imprópria para consumo. Praticamente toda a terra agrícola foi destruída, tal como a indústria pesqueira, o sistema de esgotos, quase todas as escolas e mais de 90% da habitação, obrigando as pessoas a viver em tendas, no chão dos hospitais ou em edifícios colapsados. Os 2,2 milhões de habitantes de Gaza, encurralados e incapazes de fugir, estão em risco de fome provocada pelo homem. “À medida que a ajuda desapareceu, os portões do horror voltaram a abrir-se,” disse o Secretário-Geral da ONU, António Guterres. “Gaza é um campo de extermínio — e os civis estão presos num ciclo interminável de morte.” 

Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, Israel matou quase 56.000 palestinianos desde 7 de Outubro, incluindo 15.613 crianças, 8.304 mulheres e 3.839 idosos, e feriu 116.991 — muitos desses ferimentos, como amputações, são graves e com impacto para toda a vida. O projecto Costs of War estima que todos esses números sejam muito superiores, tal como indicam peritos médicos: numa carta dirigida ao Presidente Biden em Outubro de 2024, um grupo de médicos norte-americanos sugeriu que o número real de mortos poderá estar mais próximo dos 118.000. A revista médica britânica The Lancet estimou que o número cumulativo, incluindo mortes indirectas e desaparecidos, poderá ultrapassar os 186.000 — e isto foi em Julho de 2024, há quase um ano. Uma das razões pelas quais é difícil determinar o número exacto é o facto de milhares de pessoas estarem provavelmente soterradas sob os escombros; numa área com o tamanho de Filadélfia (...)

Pela sua força aniquiladora e ambição, a campanha israelita é única entre os conflitos modernos. Na verdade, o termo crime de guerra nem é adequado ao que está a acontecer em Gaza, pois sugere que existe uma guerra e que há alguns crimes dentro dela. Gaza é diferente — o número de crimes de guerra é virtualmente incalculável, e o que se passa não é propriamente uma guerra, mas sim o bombardeamento incessante de um lado sobre o outro. “Se o que estamos a ver na Faixa de Gaza for o futuro da guerra,” disse Pierre Krähenbühl da Cruz Vermelha em Abril, “então todos devíamos estar muito preocupados - aterrorizados.” (...)

O que trouxe muita atenção para Gaza é o facto de se tratar de um exército altamente sofisticado apoiado pelos Estados Unidos, que bombardeia e provoca fome à vontade. A indignação prende-se com a natureza implacável e completamente unilateral do conflito.”

sábado, 21 de junho de 2025

A Riqueza Obscena

"Para contar de 1 a um milhão sem parar é preciso 11 dias. 

Para contar a fortuna de Musk sem parar levaria mais de 13 mil anos. 

Quem é que precisa de tanto dinheiro"?

(1a página da revista The New Republic)


"No início deste ano, soube que Elon Musk, Jeff Bezos e Mark Zuckerberg valiam agora todos bem mais de 200 mil milhões de dólares. A notícia que li referia que, nos três casos, as suas fortunas tinham pelo menos duplicado na última década, e a de Musk aumentara até dez vezes.

Este é um aumento incompreensível. Passar, por exemplo, de 30 mil milhões para 300 mil milhões não é o mesmo que passar de 30 para 300 dólares, ou de 30 mil para 300 mil. Sim, todos são aumentos por um factor de 10. Mas ter 300 dólares significa que pode oferecer um bom jantar a si e a um convidado. Ter 300 mil permite comprar um bom barco. Ter 300 mil milhões significa que poderia comprar vários países pequenos.

A desigualdade de riqueza neste país atingiu proporções obscenas e claramente antidemocráticas. Nem sempre foi assim. Na verdade, nunca foi assim. Há cinquenta anos, J. Paul Getty era o homem mais rico do país, com 6 mil milhões de dólares. Hoje, mesmo ajustando à inflação, os mais ricos dos Estados Unidos mal considerariam convidar Getty para jantar.

Nesta edição especial, examinamos como é que isto aconteceu, o que pensam os americanos sobre esta realidade, e como poderá eventualmente ser revertida. O jornalista Timothy Noah apresenta o relato sombrio e épico de como chegámos até aqui. A cineasta e escritora Abigail Disney (neta de Roy, irmão de Walt) faz um apelo emocionado ao aumento dos impostos sobre ela e os seus pares. O veterano jornalista Joe Conason analisa a corrupção de Trump, argumentando que esse tipo de autoenriquecimento é característico dos regimes autoritários. E, por fim, encomendámos uma sondagem exclusiva, analisada pelo editor executivo Ryan Kearney, sobre o grau de consciência dos americanos em relação à desigualdade de riqueza (muito elevado) e o quanto gostariam de ver isso mudar (bastante).

As palavras de Louis Brandeis continuam a ser verdadeiras: “Podemos ter democracia neste país, ou podemos ter uma grande riqueza concentrada nas mãos de poucos, mas não podemos ter as duas coisas.” De formas que Brandeis nunca poderia ter imaginado, podemos estar prestes a descobrir qual das duas prevalecerá. 

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Onde Estão os Patriotas que Queiram Trabalhar?

A minha amiga está a cuidar da tia que regressou a casa depois de umas semanas de internamento e está bastante doente. Ela precisa de alguém que ajude a tia com as máquinas e que dê um jeito na limpeza da casa das 8 às 5h da tarde. Entrevistou umas trinta pessoas, mas só apareceram duas portuguesas, que queriam 1500€ para ser damas de companhia, para limpar torceram o nariz e teriam que ser precisos uns dois mil euros! 

E depois disse-me que gostaria de saber junto do senhor André Ventura onde é que arranja portugueses que queiram trabalhar, porque só lhe apareceram estrangeiras e acabou, claro, por contratar uma brasileira.

Dias depois perguntei-lhe: 
Então, que tal a senhora que contrataste?
"Olha, acho que vou ter que a despedir". 
- Então, o que é que se passou? 
"Trabalha depressa demais, acho que amanhã já não tenho nada que lhe dar a fazer"!



domingo, 15 de junho de 2025

O Terceiro Cagalhão

"Não consegues mudar as massas. Elas serão sempre as mesmas: estúpidas, vorazes e desmemoriadas."
(Goebbels)

Revista Adbusters