sábado, 6 de dezembro de 2025

Canção do Desenrasque

Ela queixou-se dos muitos impostos que nós solteiros e sem filhos pagamos. Eu, como todos os seguidores fantasma deste blog sabem, quero sacar mais 15 dias de férias. Então cantei-lhe logo "A canção de Desenrasque"!

Tu vives sozinha e sozinho vivo 

E há impostos pra poupar 

Porque não fazer o IRS unidos

 Porque não vamos ficar 

Na aventura dos adquiridos?

Cada Povo Tem o Chico-Esperto que Merece

A credibilidade de uma pessoa fica bem demonstrada quando, apesar de ter muito dinheiro, vai a tribunal mentir sobre uma mera peça de roupa. Aconteceu com o Luís Montenegro quando foi a tribunal tentar sacar uns euritos a um estudante que o atingiu com tinta num protesto contra as alterações climáticas. 

E isto revela bem uma personalidade de um chico-esperto, medíocre e desprezível. E, infelizmente, foi um ser chico-esperto desprezível que os eleitores portugueses preferiram colocar ao leme do país. 


Na oposição o agente imobiliário que tem 55 casas e que, nas horas vagas do golfe faz de conta que é o primeiro-ministro de Portugal, dizia na oposição que o António Costa não era sério e que deveria baixar o ISP para pôr os combustíveis mais baratos. Há um ano no governo e o que faz o Luís? Aumenta sistematicamente os impostos sobre os combustíveis!

O que é que o Luís está a fazer:

"A descida desta semana era a mais substancial dos últimos meses, com uma redução de sete cêntimos no gasóleo e 3,5 cêntimos na gasolina. Mas sexta-feira à noite, uma portaria publicada em ‘Diário da República’ - reduzindo o desconto no ISP - refreava o entusiasmo dos automobilistas: o gasóleo desce apenas quatro cêntimos e a gasolina 1,5.

Já em agosto do ano passado, o Governo de Luís Montenegro aproveitou uma descida dos preços dos combustíveis para atualizar a referida taxa, tendo aplicado mais duas vezes a mesma fórmula em setembro. Segundo a associação do setor, a decisão provocou uma subida de preço de 7,5 cêntimos no gasóleo e 6,9 cêntimos na gasolina". (2 de Dezembro de 2025)



Mas que é que o Luís disse quando estava na oposição?


"Desde a primeira hora que o Governo socialista não tem sido sério na gestão do preço dos combustíveis”, afirmou. Luís Montenegro lembra que “o Governo ganha muito dinheiro”, entre outras coisas, “na parcela de IVA que atua sobre o preço do produto e sobre o preço do imposto associado”.
Nesse sentido, e uma vez que o Governo recusou a proposta do PSD de reduzir transitoriamente o IVA dos combustíveis e da energia para 6%, o líder do PSD entende que o Governo deve “descer o ISP em função do nível de receita que está a arrecadar a mais por efeito do IVA”.

Sejam sérios e façam aquilo que prometeram, é só ter um mecanismo automático. Não é preciso estar a inventar portarias e despachos. As pessoas estão a sofrer há muito tempo os efeitos da inflação, são muitas semanas consecutivas [de aumentos de preços]” (retirado do próprio site do PSD)

Não foi uma, não foram duas, foram CINCO VEZES que o Luís aumentou os impostos dos combustíveis. Como digo, cada povo tem o Chico-Esperto que merece. 

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Conversa com uma Leoa



No filme Only Lovers Left Alive, que fui ao cinema ver com uma amiga por quem lhe treme as virilhas pelo Tom Hildston, os humanos estavam tão contaminados que os vampiros tinham extrema dificuldade em encontrar sangue de qualidade. E arranjaram um contacto no hospital que lhes fornecia sangue de qualidade do tipo O negativo.

Lembrei-me disto porque hoje em dia, cada vez mais é difícil arranjar carne que saiba a carne. Parece que não sabe a nada. Ou pão que saiba a pão, fruta que saiba a fruta (excluindo a que apanho das minhas árvores).

Gostava de perguntar a uma leoa se na savana a carne também é de péssima qualidade e não sabe a nada, ou se isso só nos talhos humanos! Será que uma leoa também tem de meter montes de condimentos e especiarias na carne de uma gazela para lhe saber a alguma coisa? ou, pelo contrário, a carne na savana é saborosa?

Diz-se agora que a geração que tem agora 20 anos nunca saberá o que era um mundo sem internet e sem telemóveis. É verdade, mas também nunca saberá o que é pão saboroso, carne saborosa ou um bolo-rei com brinde e fava e a saber a bolo-rei.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Obrigado, Mariana

Mariana Mortágua entalou banqueiros em comissões de inquérito e isso terá sido o seu grande pecado. Assustou os grandes capitalistas - ela sim abalou, e de que maneira, o sistema! E é jovem, bonita, competente, ainda por cima homossexual. E é extremamente inteligente. E isso, infelizmente, é proibido em Portugal. Daí que tenha sido alvo de uma campanha absolutamente vergonha, caluniosa, nunca antes vista na democracia portuguesa. Ironicamente, ou de forma quase simbólica, foi eleita coordenadora do Bloco de Esquerda a 28 de Maio. 

Mas é triste ver os competentes saírem e observar, impotente, os medíocres a governar o país, roubando os pobres para dar aos ricos. Mariana Mortágua, que estou convicto, teria dado uma extraordinária ministra das finanças ou excelente primeira-ministra, abandona a coordenação do Bloco de Esquerda, e eu decidi transcrever algumas palavras sobre ela, de um homem que cedo me habituei a admirar, ainda quando era líder do Partido Socialista Revolucionário.

Da minha parte, aqui fica o meu singelo obrigado a Mariana Mortágua e toda a luta que travou na defesa dos que menos têm. 



A Filosofia Metaleira - e o Porquê dos Metaleiros Serem Pessoas Pacíficas e Felizes

 Deixo aqui um artigo publicado ontem no El País sobre a filosofia do Heavy Metal. E, já agora, no fim, e porque vem a propósito, adicionei um documentário que já tinha visto no Youtube há uns tempos, sobre o porquê dos metaleiros serem das pessoas mais felizes e pacíficas e estar cientificamente provado que o heavy metal tem um impacto positivo na saúde mental. 


"As chaves da filosofia metaleira: cepticismo, intensidade e honestidade brutal

O rock mais duro é também uma ferramenta para canalizar a rebeldia e para nos lembrar que devemos manter-nos fiéis a nós próprios

Em 1987, os Bruque cantaram “o heavy metal não é violência”. Agora, tantos anos depois, algumas vozes perguntam-se se esse tipo de música - um ruído infernal para muitos - esconde uma missão luminosa nas suas entranhas. Uma coisa é verdade: quando chega a hora de viver, perante a paisagem desolada de dificuldades, miséria e morte sem resposta, milhões de pessoas encontram sossego na fúria de um riff de guitarra. “O metal é uma transgressão existencial - explica ao telefone o sociólogo e filósofo Hartmut Rosa, autor de Cantam os anjos, rugem os monstros: uma breve sociologia do heavy metal. Entra na escuridão abismal, liberta os monstros e carrega dentro de si um anseio de redenção. Com a sua música procura-se activamente uma experiência genuína e profunda.”

É uma rocha a que agarrar num mar de disparates. “É mais do que música, é uma forma de olhar o mundo com lucidez e rebeldia, de encontrar sentido e irmandade no meio do caos”, reflecte por e-mail David Alayon, consultor e responsável pelo podcast Heavy Mental juntamente com o humorista Miguel Miguel e o engenheiro Javier Recuenco. “A forma como um metaleiro olha o mundo parte de uma mistura de cepticismo, intensidade e honestidade brutal. Não se trata de negar a escuridão, mas de a encarar de frente, transformá-la em força e converter a dor, a raiva ou o desespero em algo criativo e colectivo.

Alguns relacionam as letras do metal com o pensamento existencialista. A jornalista Flor Guzzanti escreve na revista Rock-Art que aquilo que Black Sabbath ou Judas Priest exprimem através da distorção não é assim tão diferente do que Camus e Sartre escreveram: o confronto com o absurdo, a alienação e a liberdade. Descartar o metal é descartar a filosofia feita de som. Alayon concorda. “Partilhamos uma visão existencialista, aceitando que o mundo é duro e que a única coisa autêntica é manter-te fiel a ti mesmo e aos teus.” E vem à cabeça a voz do recentemente falecido Ozzy Osbourne a cantar Electric Funeral, que incita a não nos deixarmos prender numa cela em chamas.

Para Andrés Carmona, autor de Filosofía y heavy metal , o universo sónico da cultura heavy (na sua vertente proto-heavy, thrash, death, grunge, e também hard rock - embora a definição e os limites deixemos para os puristas) é uma boa ferramenta de aprendizagem filosófica. “Ainda que não nos apercebamos, andamos o dia todo a pensar no bom, no justo, no belo. Não podemos não filosofar, e a música ajuda”, explica por telefone. Carmona, professor de Filosofia num liceu de Ciudad Real, usa a canção Gaia, dos Mägo de Oz, para apresentar aos alunos Lynn Margulis e a sua teoria sobre o peso da cooperação na evolução, e explica o conceito de liberdade utilizando Ama, ama y ensancha el alma, uma canção dos Extremoduro que contém versos como “hay que dejar el camino social alquitranado / prefiero ser un indio que un importante abogado” (do poeta Manolo Chinato).


Num artigo da revista Crawdaddy, William Burroughs escreveu que o rock era uma tentativa de sair deste universo morto e sem alma e devolver magia ao mundo. Se assim é, a sua vertente mais heavy procura uma catarse colectiva através da experiência física. A música tem o poder de transformar e, no caso do heavy, “algumas bandas actuam como uma unidade de ressonância que move o público, que quer ser chamado em busca de contacto e transformação junto com outras pessoas”, segundo Hartmut Rosa. Porque, enquanto o presente e o futuro se dirigem para as abstrações do digital, na cultura heavy o ritual físico é fundamental. Há a viagem, o vestuário, o encontro prévio, a explosão da música ao vivo vivida em comunidade e o seu caloroso reencontro quando voltamos a ouvir essas mesmas canções a sós. “Num concerto combinam-se sentimentos, emoções, cantar um tema com outras pessoas ao mesmo tempo. E há também o disco, em vinil ou em CD, a importância das capas, das letras… Não gosto de listas de reprodução”, ri-se o sociólogo alemão.

Na parafernália heavy metal há luz e trevas, há anjos e demónios, infernos e céus, fadas e monstros - uma encenação alimentada por uma imaginação que joga com certa ironia romântica, que leva as coisas meio a brincar, meio a sério. Mas há uma certeza: seja na Alemanha, em Espanha, na Noruega, no Japão, no Irão, na Argentina ou na Austrália, para a irmandade metaleira a música é fundamental. Segundo um estudo do psicólogo Nico Rose — autor de Hard, heavy & happy, um best-seller na Alemanha -, quase 40% dos 6 mil inquiridos concordaram que o metal os afastou de pensamentos negros, com a sensação de que “lhes tinha salvo a vida pelo menos uma vez”.

O embrião do heavy metal está em Birmingham, um dos epicentros da revolução industrial inglesa (e com uma riquíssima tradição musical nos anos sessenta do século passado). Os seus maiores representantes no início dos anos setenta - Black Sabbath, com Ozzy Osbourne à cabeça, ou Judas Priest - vinham da classe trabalhadora ou eram quase marginalizados. E outros grupos, como Saxon, Iron Maiden, Slayer, Anthrax ou Metallica, também. Talvez por isso as suas canções sejam hinos contra a ordem social, o controlo ou a falta de liberdade, e os seus seguidores constituam uma imensa “comunidade de marginalizados voluntários que encontram nos riffs, nos concertos e na estética do metal uma forma de pertença sem submissão. Ninguém te exige que acredites em nada, apenas que sintas e resistas”, segundo Alayon.

Mas será que essa comunidade aceita todas as pessoas por igual? Há quem considere que o universo heavy é sexista e heteronormativo até ao paroxismo. No entanto, faz mais de 25 anos que Rob Halford, vocalista dos Judas Priest — considerado o Deus do Metal — se assumiu abertamente como gay, e figuras como Girlschool, Thundermother, Doro Pesch ou Arch Enemy desmentem essa uniformidade masculina. Mas ainda há trabalho pela frente. Como reflecte Guzzanti, “hoje, os colectivos feministas reclamam espaços em festivais, fanzines e plataformas online, afirmando que a resistência deve ser interseccional. A sobrevivência do metal depende de abraçar esta inclusividade”.

Nietzsche dizia que a vida sem música é um erro, uma fadiga, um exílio. É preciso continuar a procurar - e talvez não seja má ideia fazê-lo através da crueza metaleira. “É preciso aguentar sem medo a dança sobre a fenda existencial: este parece-me ser o feito do heavy metal”, sentencia Hartmut Rosa. Como cantam os AC/DC, for those about to rock (we salute you): A todos os que vão rockar… saudamos-vos.

EL PAÍS – 30 Nov 2025 – por Mar Padilla