"Não fiques triste. Olha que eu acredito que os pais ficam nos filhos. É como se os pais não morressem. Porque tiveram filhos. Percebes?"
Mal Viver - João Canijo
"A ditadura perfeita terá a aparência da democracia, uma prisão sem muros na qual os prisioneiros não sonharão sequer com a fuga. Um sistema de escravatura onde, graças ao consumo e ao divertimento, os escravos terão amor à sua escravidão."
"Não fiques triste. Olha que eu acredito que os pais ficam nos filhos. É como se os pais não morressem. Porque tiveram filhos. Percebes?"
Mal Viver - João Canijo
Ontem, o Tribunal Constitucional decretou que a lei dos estrangeiros que o governo do Luís queria fazer é inconstitucional (como se fosse preciso ser jurista para o saber), mas, o senhor Marcelo, que foi professor de direito constitucional, não quis vetar para assumir a responsabilidade e preferiu esperar e enviar para o Tribunal Constitucional.
Logo de imediato os fascistas estrebucharam, até me fizeram lembrar o Passos Coelho a barafustar que era preciso escolher melhor os juízes do Constitucional! Passos Coelho, o Grande, que prometia em campanha eleitoral acabar com a austeridade e que a oposição mentia quando afirmava que ele se preparava para aumentar os impostos e cortar salários, o grande primeiro-ministro que reclamava contra a dívida e que, no final do seu mandato, deixou ainda mais país para o país o pagar!
Há 14 anos a crise económica mundial e a vinda do FMI foi a desculpa perfeita. Só que desta herdaram, pela primeira em democracia, um superavit e, um ano depois, já estão, de novo, a atacar os mais pobres, os trabalhadores, e as mulheres, com uma cartilha completamente reacionária.
Só no último mês:
Ser Pobre Não é Crime e o Rendimento Mínimo foi a Melhor Coisa que se Fez em Portugal nos Últimos Trinta Anos
E é curioso que foi preciso, no dia anterior ter ido treinar, para ficar a saber que por lá andava a arder, primeiro porque vi o monte a arder, e depois o colega que ia treinar, escrever no grupo do Whatsapp, que não ia treinar porque tinha ficado de prevenção.
E no dia seguinte, enquanto almoçava no tasco, fiquei a saber, porque na televisão mostrava o incêndios entre Penafiel e Gondomar.
De imediato a simpática senhora que serve às mesas diz:
"Era meter os do rendimento mínimo a apagar incêndios".
E logo me ferveu o sangue!
O Rendimento Mínimo, criado por Guterres (que depois a direita como nada sabe fazer nada mudou o nome para Rendimento Social de Inserção) foi a melhor coisa que se fez em Portugal depois de António Arnaut (também do Partido Socialista) ter criado o Serviço Nacional de Saúde.
Mas não sei porquê, nunca foi um apoio muito popular, pelo contrário! O Estado pode gastar milhões de euros seja lá no que for, por exemplo, num palco para a vinda do Papa, mas se dá 155€ a um pobre, que não dá sequer para se alimentar convenientemente durante um mês, ui que é o fim do mundo!
E é verdade, o rendimento mínimo são 155€, não são, como o outro acólito mentiroso passa a vida a dizer, que são mil euros e dá para ter um BMW à porta. É que cada pessoa que recebe o rendimento não é o Macaco que tem um Pinto da Costa que, apesar de declarar o salário mínimo, consegue construir uma casa de dois milhões de euros!
Mas, para esta senhora pobre - porque se vivesse bem não andava a servir à mesas - ser mais pobre do que ela, e, infelizmente, precisar de ajuda do Estado, é crime.
Para muitas pessoas, receber o rendimento mínimo é como se fosse um crime! E então têm que ser punidos!
Tenho horror a Pobre!, dizia Caco Antibes!
Que os mais ricos, tenham horror aos pobres, e até calcem botas e vistam calças de ganga quando visitam um bairro social, até aceito, que outros pobres criticam os apoios a outros pobres, mais pobres do que eles, acho verdadeiramente aberrante.
Eu nasci numa família, que, fruto das circunstâncias era muito pobre. Não passei fome, mas comi muita sopa e a minha mãe teve de trabalhar muito, porque, ao contrário do meu pai, quis pôr-me a estudar.
E sempre tive apoio escolar. Se calhar, para estas pessoas, também deveria ter ido apagar incêndios! Ou, sei lá, varrer as ruas! Para me punir por eu ser pobre! Afinal eu tive culpa de ter nascido numa família extremamente pobre, que precisou inclusive da ajuda da família para poder ter um abrigo.
Sim, foi o esforço da minha mãe, mas o Estado deve existir para diminuir as desigualdades e não aumentá-las e perpetuá-las. Senão para que serve um governo?
Pequenos apoios, tal como, por exemplo, os que Lula da Silva implementou no Brasil, conseguem tirar milhões de pessoas da pobreza. E depois é lamentável que sejam os próprios pobres a criticar os apoios que se dão a outros pobres como eles.
E, nem de propósito, deixo aqui uma análise de uma longa entrevista que saiu no Jornal de Negócios na semana passada à historiadora Josephine Quinn:
“É do interesse dos ricos e poderosos que os pobres e menos poderosos se ataquem entre si”
Os nacionalismos crescentes e os discurso anti-imigração apoiam-se nesse pressuposto?(Josephine Quinn)