Acabava de desligar o telemóvel e perguntava-me que tipo de pessoa seria este homem, que falava de uma maneira muito meiga, sensível até, atrapalhado com o gato, e que se iria encontrar comigo dentro de cinco ou dez minutos.
O Carlos é um homem bem parecido e arranjado, de barba de três dias, cabelo grisalho, e que, tal como eu, gosta bastante de conversar. Rapidamente fiquei a saber que é divorciado e está a está a mudar de casa, porque a namorada não quer ir viver para o T3 dele. Então vai ele morar para casa dela, que fica num local que tem uma praia que me é muito conhecida - se calhar este até podia ser o novo namorado dela! - e vai vender a sua casa.
Percebe-se que está apaixonado por ela, que, segundo ele, é bem mais nova que ele. Sente-se pela forma entusiasmada como falava deles. "Temos tanto em comum, gostamos das mesmas coisas, até das mesmas cores". E estão em sintonia também em relação aos filhos. E gostam de deixar a relação respirar. Cada um tem as suas coisas que gosta de fazer e os seus amigos, e tem a sua liberdade, e que desde que haja confiança e respeito não há problema.
Sobre a questão dos filhos confidenciou-me uma coisa interessante. Que saiu e foi para a cama com algumas mulheres divorciadas com filhos, mas que rapidamente estas lhe diziam que "os filhos estão sempre em primeiro lugar", e que então "fugia logo delas a sete pés"!
Disse-lhe precisamente que isso sempre me incomodou. Que o casal deve vir sempre em primeiro lugar, e que, infelizmente, vejo o inverso em muitos casais. Parece que a partir do momento que a cria nasce que as prioridades se invertem e que há quase uma espécie de competição entre todos.
E depois disse uma coisa muito interessante sobre as comparações. Sobre os outros acharem que nós, livres e desimpedidos, que nós é que temos uma vida boa por podermos sair e ir para a cama com quem nos apetecer.
"Mas queres trocar?" disse ao amigo que acabava de lhe dizer que ele é que tinha sorte.
"É que se queres trocar eu troco. Eu hoje durmo sozinho e amanhã e depois de amanhã também. Às vezes só me apetecia um abraço e não tenho. Nem tenho um filho que venha ter comigo ao fim do dia e me chame de papá... Queres trocar? Olha que eu troco já."
Antes de cada um ir à sua vida, desejei-lhe boa sorte. Disse-lhe que gostei muito daquele bocadinho. E dirigi~me para as escadas rolantes, sorrindo, e pensando... "pessoa interessante este Carlos".
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