quarta-feira, 20 de maio de 2015

Paradoxos da higiene

Por estes dias, comentava no trabalho que não gostava de ler no computador, e nunca que nunca iria aderir a ler a livros em formato ficheiro para ler em bugigangas eletrónicas. Eu gosto de pegar no livro, cheirá-lo, senti-lo, gosto de folhear, não gosto de ler num monitor. Mas rapidamente  uma colega contra-argumentou que não gostava dos livros, pois são uma fonte de porcaria, afinal toda a gente pega neles, e era ver a cara dela toda impressionada enquanto proferia tais palavras. 

Hoje, enquanto esperava numa sala de espera, sentei-me num lugar vago, junto a uma mulher que estava de máscara na boca. Os preconceitos são tantos, que as pessoas quando vêem alguém de máscara, não percebem que é a pessoa a proteger-se dos outros, e não porque tenha uma doença trasmissível! Sentei-me, saquei do meu livro, e comecei a ler tranquilamente, enquanto os números de chamada iam passando, muito len-ta-mente-te. 

Esta senhora de máscara, estava sentada junto de outra mulher. Enquanto estava embrenhado na minha leitura, pouco ia prestando atenção ao que as senhoras conversavam, mas a conversa foi começando a animar, e estando ali encostado a elas, era quase impossível não ouvir a conversa-de-gaija, e logo eu que gosto de retirar alguma coisa do convívio em sociedade!

Mal ouvi "Ai a barba e o bigode... ui, que nojo. São pêlos não é? Acumula muita sujidade", comecei logo a franzir o sobrolho. Com que então estas senhoras, já com idade para terem juízo, têm nojo dos pêlos dos homens... Os pêlos acumulam sujidade... interessante. Mas e os cabelos caralho? Sim, os pêlos da cabeça, a que damos o nome de cabelos, e que por norma, tal como estas duas senhoras, os tinham bem compridos? Será que os cabelos são diferentes? Não acumulam "sujidade"? 

É muito interessante reparar que, de repente, muita gentinha tem nojo em relação a muitas coisas, mas depois, paradoxalmente, não têm nojo das coisas mais nojentas que existem!


Qual é a coisa mais nojenta que existe? É o dinheiro! Sim, o dinheiro, que anda de mão em mão. As notas que podem ter sido pegadas pela mão de alguém que foi mijar ou cagar, não lavou as mãos e depois pegou nas notas, que passaram por milhares de mãos, até chegar às mãos desta senhora que usava máscara na cara, e que tem nojo de homens com barba!

Eu, "ainda sou do tempo" do que "não mata engorda", mas hoje vejo muita gente muito complexada e paranóica com o excesso de limpeza, Tudo tem de ser limpo e relimpo até ao infinito. Tudo tem "bactérias" e mais não sei o quê. Esquecendo-se esta gente paranóica, que é convivendo com as bactérias, que nos tornamos imunes a elas. Nunca como hoje se vêem criancinhas alérgicas a tudo e mais alguma coisa - porquê? Porque vivem numa redoma, fechadas, isoladas do mundo exterior. 

Em breve chegará o tempo, em que para se foder, inventarão um preservativo gigante, em que as pessoas não se tocam, porque tudo que são fluídos é porco, tudo tem sujidade, tudo tem de se passar álcool com algodão, porque o "algodão não engana".  Dar um beijo com língua é porco, num beijo transmitem-se oitenta milhões de bactérias! 

É tudo muito higiénico hoje em dia, mas curiosamente nunca vi ninguém passar álcool nas notas e nas moedas. Nem conheço ninguém que seja alérgico ou tenha nojo ao dinheiro. Curioso não é?

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