domingo, 1 de novembro de 2015

Nunca me deixes

Não sei porquê, mas apesar de me considerar uma pessoa relativamente bem informada - mesmo vivendo numa caverna sem televisão - há muito que deixei de saber que filmes estão em cartaz, que grandes filmes têm saído e que se calhar teria gostado, ou que filmes toda a gente anda a ver e que certamente eu não iria, a menos me convidassem, e nunca se recusa a simpatia de um convite para ir ao cinema. 

Talvez também porque, por diferentes motivos, as pessoas estejam a ir menos ao cinema, e se não vão não se comenta tanto, até porque agora se podem ver os filmes de outras formas, no conforto de casa, e de forma bem mais económica, revendo quantas vezes se quiser, e sem ser preciso recorrer aos antigos video-clubes, em que se tinha de devolver o filme dentro de determinado tempo. 

E talvez, digo eu, mas talvez porque se consome agora muito mais filmes, uns atrás dos outros, as pessoas tenham deixado de comentar, de mostrar essa emoção aos outros, de terem visto um grande filme, e quem diz um grande filme, diz um grande disco. Ninguém comenta que viu no dia anterior um grande filme em casa. Isso não é um acontecimento. Seria um acontecimento se tivesse ido ao cinema, e ao contar, os outros saberiam que a pessoa tinha ido ao cinema. Agora em casa? Qual a graça disso? E porque hoje em dia tudo se descarrega rapidamente, e atrás de um filme ou de um grande disco, vem logo outro e outro, nessa ânsia desenfreada de consumir. Mas conhecer, chega-se a conhecer e valorizar verdadeiramente alguma coisa? Eu acho que não. 

E depois, hoje em dia ninguém vai ao cinema, até porque o cinema não está propriamente barato. Chegamos ao cúmulo de ter agora peças de teatro, com atores de carne e osso em palco, mais baratas que ir ver uma projeção de um filme numa sala de cinema. E ainda por cima no cinema criou-se o hábito - consumista pois está claro - de assistir ao filme comendo pipocas e bebendo refrigerantes, o que logicamente, irá inflacionar o gasto ainda mais. Em dez anos anos, um bilhete de cinema mais do que duplicou de preço, mas os salários, esse não duplicaram bem pelo contrário.




E assim por mero acaso, passava agora os olhos pela capa de um filme, que só saiu há cinco anos, mas que me passou completamente ao lado. Acho que foi o título que me chamou agora a atenção. Talvez porque eu mesmo esteja a viver tempos, não de olhar para o presente e o futuro, mas de olhar para trás e recordar o que tem sido a minha vida. E porque relembre que, por mais esforço que tenha sempre feito em tentar manter junto de mim as pessoas com quem criei laços fortes e de quem sempre quis sempre ser cuidador, mas elas sempre me tenham fugido como areia seca por entre os dedos. 


Um dia destes vejo este filme. Mas não tem de ser já hoje ou amanhã, ou esta semana ou na seguinte. Não temos de viver nessa urgência de querer saciar todas as vontades no minuto seguinte. Pelo menos a mim basta-me saber que há por aí um filme que tenho interesse em ver, e sei que um dia destes vou ver: "Nunca me deixes (Never let me go)"

3 comentários:

  1. Saudades tuas. Muitas.
    Saudades das nossas conversas.
    Beijos
    X

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    1. Olá X,

      Eu não mudei de número nem de e-mail e continuo por aqui nos blogues. Se tinhas saudades só dependia de ti saciá-las. Já eu, infelizmente, nunca mais te consegui contactar... e isso deixou-me um bocado triste como compreenderás. Se me queres falar, contacta-me, não fiques escondida no teu casulo!
      Fico à tua espera.
      Beijo

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    2. Pega no telemóvel e liga-me. Ou é preciso escrever um post a pedir?! Contacta-me por favor.

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