Dois desconhecidos, de cavernas distantes cruzaram-se na internet.
Sem nada saberem, sequer como o outro era ou como se chamava.
Ela tinha 22 anos e ele tinha 32.
Começaram a conversar e a querer saber do outro.
Ela era muito misteriosa, defensiva mas também muito protetora e amiga.
Ele achou-a muito madura para a idade que ela tinha.
Ela falava-lhe do mundo dos ponteiros dela e ele falava-lhe do mundo das conexões do trabalho dele.
Ele falava dela para os amigos próximos e todos queriam saber daquela figura misteriosa que ninguém sabia quem era. Eles queriam-se muito sem querer mais nada, e isso bastava.
Ela tinha 22 anos e ele tinha 32.
Tinham passado dois anos do maior desgosto de amor da vida dele...
Passado pouco tempo começaram a falar ao telefone.
E aos poucos passou a ser todos os dias da semana.
Todos os dias, e, enquanto ela apanhava os diversos transportes, ele fazia-lhe companhia.
Ele era muito tranquilo, nunca a pressionava mas, aos poucos, parecia-lhe que algo não estava bem.
No fundo talvez já soubesse, mas não queria acreditar.
Ela tinha 22 anos e ele tinha 32.
Ela tinha namorado e não lhe disse.
Ela agora tem 39 anos e ele tem 49.
Ninguém sabe, mas foi ela que, há muitos anos, o incentivou a começar um blog.
E anos depois de tantos anos de silêncio ela vasculhou no blog dele.
Como que à procura de um sinal.
E algures viu que, recentemente, ele tinha falado dela.
Significava que ele não a havia esquecido.
Mas sentia-se culpada e com medo.
Entretanto, pé ante pé, voltaram a corresponder-se e a falar.
Mas, agora, como que por magia, até podiam ver-se.
Afinal, ele agora até tem um smartphone e tudo.
Estão mais velhos.
E em momentos diferentes das suas vidas.
Ela está a solidificar-se; ele ficou destruído.
Ela agora tem 39 anos e ele tem 49.
Ela tem namorado e disse-lhe.

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