terça-feira, 30 de dezembro de 2025

Ainda Há Esperança na Humanidade

A psicóloga quis conversar comigo na véspera da consoada de Natal porque seria o primeiro Natal que eu passaria sem a minha mãe. Falei-lhe de natais da minha infância, das saudades das mesmas conversas do meu avô e do madeiro que punha a arder. expliquei-lhe que sempre odiei esta época de excessos, de hipocrisia e consumismo. Uma época em que todos se lembram dos outros e até oferecem prendas a quem não gostam, e até os sem abrigo podem comer nestes para que depois se esqueçam deles no resto do ano. Se tivesse que passar este dia sozinho, acho que iria ser um dia como todos os outros em que estou sozinho, provavelmente a comer as mesmas coisas que cozinho no resto dos dias. Mas, felizmente, tive alguns convites para passar a consoada, ainda que, como esperado, nenhum de familiares. 

Depois de há dois anos ter esperado cerca de duas horas numa pastelaria, tendo inclusivamente de subir umas escadas em caracol do prédio e ficar numa sala andando aos passinhos muito pequeninos, e ter trazido um bolo-rei para casa que estava completamente recesso (aconteceu o mesmo a um colega de trabalho) e ter prometido que nunca mais compraria um bolo-rei, eis senão quando sou convidado para passar a ceia de Natal em casa da família de uma amiga... 

Ó diabo, pensei, tenho de comprar umas coisas para levar!

E, por recomendação, tentei encomendar ainda on-line nesta pastelaria do centro do Porto, mas já não aceitavam encomendas. Consegui uma cunha, porque esta pastelaria fica mesmo perto de casa da pessoa que me aconselhou a comprar lá, e então, às 9h da manhã do dia de consoada ainda iriam ter alguns bolo-rei para vender na loja. E foi assim que ainda consegui comprar um, que veio conjuntamente com um bolo Gaspar ("O Gaspar [26€/kg] é uma criação nossa. Usamos a nossa massa de bolo-rei, sem fruta cristalizada mas com uma selecção muito criteriosa de frutos secos, à qual adicionamos o nosso doce de ovo e apontamentos de chila - ingredientes que o tornam num bolo muito interessante e muito rico”) e ainda comprei mais uns doces conventuais. 


E a avaliação não poderia ser melhor, é um bolo-rei a saber a bolo-rei da minha infancia. Ou seja, ainda há esperança na humanidade. E o Gaspar também é uma delícia. 

P.S: O que não consigo entender é esta recente paranoia pelas pastelarias. Há quinze ou vinte anos eu simplesmente saía do trabalho, na Areosa, e no dia 24 de dezembro, passava numa pastelaria da baixa do Porto e poderia trazer para casa o que me apetecesse. Hoje em dia é o fim do mundo.... 



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