sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Sobreviver aos sites de vendas em Portugal

Há muitos anos que faço compras na Internet. Terei chegado aos sites de leilões poucos anos depois de ter descoberto a própria Internet, ali pelo fim do milénio passado. Em Portugal aparecia o Miau, o primeiro site de leilões, em que qualquer pessoa podia colocar à venda qualquer coisa que tivesse em casa e se quisesse desfazer. O site possibilitava que o artigo pudesse ser visto por interessados, e em troca cobrava uma comissão de venda.

A confiança das pessoas em tal plataforma começava desde logo no registo. Qualquer pessoa que se registava só podia ativar a sua conta depois de receber um código que vinha pelo correio, comprovando que morava efetivamente na morada fornecida. E depois a confiança para comprar baseava-se na reputação dos vendedores que ia sendo criada porque cada comprador, no final da transação, descrevia o quão satisfeito tinha ficado com a negociação. 

Internacionalmente tudo começou com o Ebay, e depois, muitos outros sites proliferaram como cogumelos em cada país, tal como o Miau havia feito em Portugal, na tentativa de ter o sucesso e retorno financeiro que o pioneiro conseguiu ao longo destes anos.

Mas se hoje estamos habituados à facilidade e à, ainda que aparente, segurança de fazer transferências bancárias com o Paypal ou com o português MBNet, no início do milénio esqueçam lá isso! Para quem não tinha cartão de crédito, ou tinha mas não queria dar os seus dados, as alternativas eram poucas. Ir ao banco fazer uma transferência internacional era impensável, pois as comissões cobradas eram altíssimas. Restava então uma solução, se calhar com esta distância olhada com muita desconfiança, que era, enviar o dinheiro escondido por carta. E eu usei inúmeras vezes esse método, e correu sempre bem, apesar de claro, implicar a demora do envio. Mas o que interessava era que o vendedor recebesse o seu dinheiro, e na volta, eu recebesse a encomenda.


A minha reputação de arriscar em compras na Internet era tanta, que inclusive, chegaram a apelidar-me carinhosamente de "cigano cibernético"! E isto porque nesses tempos, além de comprar artigos para mim, cheguei a comprar imensa coisa em sites estrangeiros que depois acabava por revender no equivalente português com uma boa margem de lucro como convinha.

A maior compra que fiz, creio ter sido um computador portátil, que comprei para mim. Na altura, um computador portátil era caríssimo, rondava os 1500/2000€ e acabei mesmo por vencer um leilão no Ebay, em que comprei um portátil IBM recondicionado, igual a novo, por cerca de 200€. Claro que ainda paguei os devidos direitos alfandegários, mas com todas essas despesas a coisa deve ter ficado ainda por menos de 300€, cerca de um décimo da compra de um equipamento novo em Portugal.

As coisas corriam bem para toda a gente, e o Miau imbuído da ganância de querer matar a galinha dos ovos de ouro, resolve começar a cobrar, tal como já o Ebay fazia, taxas de colocação dos anúncios, e de imediato colocou um travão nas pessoas. É que a partir de determinado momento, as pessoas poderiam estar a pagar para nada, pois ninguém poderia garantir que determinado artigo, muitas vezes até específico, poderia ser vendido no prazo de colocação do anúncio. Podem-me dizer que o Ebay continua a fazê-lo. Sim é verdade, mas não para todos os valores, e depois não esquecer que este site é global e permite imensas visitas de interessados de todo o mundo, ao passo que qualquer plataforma portuguesa permite unicamente meia dúzia de visualizações.

Se durante vários anos o Miau teve o monopólio dos leilões em Portugal, o maior concorrente chegou em 2007. O Leilões.net, era basicamente uma cópia do Ebay para português, mas sem as comissões abusivas do Miau mas também sem o mesmo rigor diga-se. E rapidamente surgem também muitos outros sites de classificados, sem a vertente  de leilão, como o OLX, Standvirtual ou Custo Justo só para citar os mais conhecidos, mas orientados exclusivamente para o negócio em mãos. E é fruto de ter dado vários tiros nos pés, e de não se ter adaptado ao mercado concorrencial que o Miau acaba mesmo por fechar portas em setembro deste ano.

Nos dias de hoje, eu continuo a comprar e vender em sites portugueses, tanto de supostos leilões, como nos de classificados. Supostos leilões, porque colocar um artigo com valor fixo à venda não é nenhum leilão. Um leilão é colocar algo à venda por um valor bastante baixo, e ver depois o valor subir fruto das diversas licitações de quem está interessado.

Arrisco-me mesmo até a dizer que, infelizmente, os sites de leilões em Portugal morreram. O Leilões.net acabou por se fundir com o Coisas e ficar numa coisa sem nenhuma utilidade para quem vende, pois há muito que as visualizações dos anúncios desapareceram.

Agora o que está a dar nos últimos anos, são os sites de classificados, que devem faturar muito bem, tal é a publicidade gasta, tanto na Internet, como a paga a peso de ouro na televisão. É o que está a dar mas infelizmente fomos de cavalo para burro.

Desde logo porque orienta as vendas exclusivamente para o domínio local, uma vez que não garante qualquer segurança no registo dos utilizadores nem disponibiliza um histórico da reputação dos vendedores. Logo, sem reputação, podemos estar a comprar a uma qualquer pessoa mal intencionada que encontra ali um bom sítio para, livremente, fazer os seus esquemas.

Depois as vendas na Internet generalizaram-se e isso nem sempre é bom, visto a ignorância no nosso país impera. Neste tipo de sites chego a ter dezenas de contactos de pessoas, supostamente interessadas em comprar o que tenho para vender, mas depois concluir o negócio que é bom, nada. Encontra-se de tudo. Gente que quer que eu envie o artigo e só pagar depois - era bom não era? -  gente a quem dou o NIB para pagamento e depois nunca mais dizem nada - tenho um artigo que sem exagero já o vendi umas dez vezes e continua a ser meu! - gente a fazer todo um rol de perguntas idiotas, outros que querem que me desloque dezenas de quilómetros para entregar o artigo em mãos. Tive até um sujeito que me disse que pagava com "notas"! Esta foi original, deve andar a ver muitos filmes americanos, mas no fundo não sei como é que pensa que as pessoas me costumam pagar, pois, para já, não aceito pagamentos em géneros!

Mas se para vender é um martírio até encontrar um comprador minimamente decente, para comprar, que é o do interesse das próprias pessoas para fazerem dinheiro, enganam-se se pensam que é mais fácil!
Desde logo porque, ou as pessoas são verdadeiramente ignorantes, algo que não acredito de todo, ou então querem fazer dos outros parvos. E vem isto a propósito dos preços praticados. Quando se fala em sites de vendas de usados, as pessoas pensarão desde logo em comprar algo em bom estado e a um preço vantajoso certo? Errado! Não faltam artigos usados, vendidos a preços bem mais caros que novos!

Mas se muita gente não tem a mínima noção do preço que está a pedir, depois quando encontramos um artigo a um preço que consideramos justo ainda temos de levar com a incompetência de quem vende. Ainda há meses tentei comprar um equipamento de jardim, e só mesmo à terceira tentativa é que consegui! O primeiro disse-me que ia ver por quanto ficavam os portes de envio - e ainda deve estar nos CTT até hoje! - e a segunda pessoa, dias depois de termos acertado o negócio, envia-me um e-mail dizendo que tinha acabado de vender o artigo a uma pessoa de família!

Em Portugal é esta realidade que existe, temos estes sites com este tipo de oferta, que estão mais preocupados em fazer milhões do que propriamente interessados em prestar um bom serviço. É certo que ainda é possível concreteziar bons negócios e conhecer muita gente séria, mas é também preciso ter uma enorme dose de paciência e cautela, até porque, basta fazer uma pequena pesquisa para encontrar muitos relatos de fraudes.

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