Numa altura em que, e depois de se ter passado a mensagem errada que, em pleno verão tínhamos que regressar o mais rapidamente às nossas vidas normais, e chorava-se pelos ingleses porque não vinham para cá, e num tempo em que regressaram as festas e festinhas, os espetáculos com milhares de pessoas, as feiras do livro (que segundo Marcelo "deviam ter quatro vezes mais pessoas" o futebol, as touradas e os espetáculos, as excursões e passeios de autocarro, mas pior os ajuntamentos nas ruas, as festas de família, os casamentos de centenas de pessoas, basicamente tudo voltou ao normal e só havia um perigo muito sério daquela gente que come criancinhas ao pequeno-almoço: a Festa do Avante! Esse é que era o perigo, já os comícios do CHEGA com centenas de pessoas sem máscara não incomodou ninguém, nem a DGS nem Rui Rio ou a bastonária dos enfermeiros que esteve presente no congresso, nem o próprio Marcelo. Não incomodou, ao contrário da festa comunista que, à semelhança do 1º de Maio foi um exemplo de organização como não se viu igual em Portugal.
E, como dizia, numa altura em que, todos os especialistas já tinham alertado, porque é matemática, que Outubro a pandemia poderia ser muito pior que em Abril, eis que o senhor primeiro-ministro se lembra de dizer que vai fazer uma lei para ser votada no parlamento a obrigar o uso da aplicação STAY AWAY COVID-19!
Bom, para começar estes são os telemóveis cá de casa:
E eu vou-vos contar uma coisa. Eu até já tenho um telecrã e tudo! Sim, comprei uma dessas mini-televisões com internet na mão a 31 de Julho, porque já sabem, a seguir entrava a gosto! É verdade. Eu tenho andado um pouco afastado aqui dos meus queridos diários e não tenho tenho contado muita coisa. Mas este telecrã é um simples ponto de acesso à internet. O meu telemóvel, está está o cartão SIM que permite efetuar chamadas continua a ser o mesmo: o Nokia 5800 que se vê na imagem. Mas continuando. Eu até já tenho uma bugiganga eletrónica e posso-vos assegurar que mal saiu a aplicação portuguesa eu instalei-a.
Logo muito se falou muito da privacidade. Mas o que eu gostava de saber é, como é que se pode vir falar de falta de privacidade de uma aplicação que é totalmente anónima? Depois também não deixa de ser muito curioso que as mesmas pessoas que vêm falar em privacidade dizem-nos em redes sociais como o Facebook e usam ferramentas como Google ou outras aplicações como Instagram, ou outras aplicações russas e chinesas que sabe-se lá, como já se provou com o escândalo do Facebook e a Cambridge Analytica, o que fazem com os dados pessoais das pessoas. Como é que alguém que usa todas essas redes sociais, vem depois dizer que não instala a aplicação por causa de questões de "privacidade"? Inventem outra desculpa, essa só faz de vós completamente idiotas.
E a aplicação STAYAWAY COVID-19, como é que funciona?
Bom, isso é que é importante saber, e não foi devidamente informado ou as pessoas não se informaram devidamente. O próprio Rui Rio, por exemplo, cometeu uma enorme gafe no Twitter, quando o conselheiro de estado Lobo Xavier fez um teste positivo, e ele afirmou que a aplicação o deveria ter avisado imediatamente e não avisou! Mas isso não é assim que funciona!
A aplicação funciona da seguinte forma:
Contudo, apesar de eu mesmo ter instalado a aplicação, que não meu caso de pouco servirá porque eu acho que não estou com ninguém mais de quinze minutos e a menos de dois metros, sou liminarmente contra a obrigatoriedade da instalação na aplicação, porque facilmente se percebe que é inconstitucional.
E este é o melhor exemplo do que é na verdade o tão falado "politicamente correto". Recomendar a instalação da aplicação? Sim. Fazer uma lei a obrigar? Não! E não há nada de errado em agir corretamente na política, bem pelo contrário.
A lei é completamente inconstitucional porque nem toda a gente sequer tem telemóvel! Olhem, sabem quem por exemplo não tem telemóvel? O Sobrinho Simões, o médico talvez maior especialista de cancros em Portugal. Sabem quem, por exemplo, não tem um smartphone? O constitucionalista Jorge Miranda, que na rádio, depois de afirmar que essa lei é inconstitucional disse que tem um telemóvel "muito simples" para sua própria proteção. Portanto, há pessoas que nem sequer têm telemóvel, outras não possuem um equipamento onde possam instalar a aplicação ou nem sequer sabem mexer devidamente no equipamento.
Mas disse-se uma coisa ainda pior! Permitir que a polícia peça os smartphones e verifique a instalação da aplicação. E isto deixa-me incrédulo! Em tempos de pandemia, em vez de se colocar as polícias todas na rua, a verificar se os restaurantes estão a cumprir as regras do distanciamento, se nas ruas as pessoas cumprem as regras e não há ajuntamentos, não!, vamos permitir que as polícias andem por aí, livremente, qual regime militar, a pedir os equipamentos às pessoas a ver se têm ou não a dita aplicação! Mais, colocando os próprios polícias e pessoas em risco, não fossem os telemóveis a coisa mais suja que os humanos usam e uma fonte de verdadeiro contágio!
Tudo isto acabou por ter o efeito contrário ao pretendido. A ideia da aplicação que até poderia ser boa, ainda que não seja uma aplicação que vai travar a pandemia, apenas coloca a pessoa de sobreaviso a ter cuidado com os outros porque esteve em contacto com alguém infetado, acaba por gerar uma onda de indignação, e causa verdadeiros anti-corpos contra a dita aplicação.
Ainda assim, dou algum desconto porque vivemos tempos muito complicados. E se a mim é muito fácil estar aqui a criticar à posteriori, quando na Europa estarmos bem longe de ser os piores, bem mais difícil será para os responsáveis tomar medidas. Ainda assim continuo incrédulo como é que alguém se foi lembrar duma coisa destas.
Esta " obrigatoriedades" de instalar uma app, tem tanto de estapafúrdio como de assustador, mas serviu para testar a o valor que damos às conquistas da democracia, e creio que não passamos no teste, apesar de todas a vozes de alerta que logo se fizeram ouvir.
ResponderEliminarO pânico dos nossos dirigentes, nasces da consciência que tem, do mau sistema de ensino que tem prestado durante anos.
Ainda assim, temos conseguido muito, com o pouco que recebemos.
O que vejo, somos um povo educado, consciente e respeitador. Algumas exceções não contariam o geral.
Sim, somos relativamente obedientes, mas passamos do ciclo do pânico, de esgotar papel higiénico, para o ciclo da irresponsabilidade. E a mensagem também não ajudou grande coisa. Mas isto não foi só problema nosso, foi um problema geral de quase toda a Europa e agora pagamos a fatura ainda que nunca, nem de longe nem de perto, tenhamos sido dos piores.
EliminarPor cá um nokia muito parecido a esse alcatel, subscrevo na integra este texto, quem pode falar de privacidade usando redes sociais, e, sobretudo postando a vida toda nelas? Para além da falta de coerência aberrante, creio que hoje estamos numa espiral de negação, sobretudo dos factos, é a era do eu acho que.
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