- E quanto ao dinheiro? continuou Pete. - Acha que eu deva recebê-lo, sabendo de onde vem e a quem pertence?
- Todo o dinheiro é assaz imundo - disse Mister Propter - e não me consta que o do pobre Jo seja sensivelmente mais imundo que o de outro qualquer. Talvez você o ache, mas isso porque vê, pela primeira vez, o dinheiro na sua fonte - fonte pessoal e humana. Você é como uma dessas crianças acostumadas a receber o leite em garrafas esterilizadas, de um camião branco e reluzente. Quando vão ao campo vêem ser extraído de um animal enorme, gordo, malcheiroso, ficam horripiladas, enojadas. O mesmo se dá com o dinheiro. Você está acostumado a recebê-lo detrás de uma grade de bronze, ao balcão de um Banco monumental todo de mármore. Agora veio para o campo; mora no estábulo com o animal que segrega o dinheiro que recebe. E o processo não lhe parece primar pela delicadeza ou pela higiene. Mas, mesmo enquanto você não sabia, esse processo realizava-se. Se não estivesse a trabalhar para Jo Stoyle, provavelmente trabalharia para alguma universidade ou colégio. Mas, de onde sai o dinheiro das universidade e colégios? Dos ricos. Em outras palavras: de gente como Jo Stoyle. De modo que seria a mesma imundície servida em recipientes esterilizados e distribuída por cavalheiros de beca e capelo.
- Então o senhor acha bem que eu continue a ser o que sou?
- Sim - respondeu Mister Propter - entendendo-se por isto que não é escandalosamente pior que qualquer outra coisa.
"Também o cisne morre" / Aldous Huxley (1939)
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