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domingo, 6 de setembro de 2020

Em Defesa da Liberdade de Ser Mau Cidadão

O tema fraturante da semana veio diretamente do túmulo de Ramsés Cavaco Silva. A notícia era que Cavaco, Passos Coelho e bispos pedem objeção de consciência para as Aulas de Cidadania. Quando soube fiquei intrigado porque eu nem sequer sabia que hoje em dia se tem esta aula na escola, afinal, há muitos anos que deixei de estudar e não tenho filhos para saber o que por lá se passa. Então fui ver o que é que poderia estar mal, para esta gente tão ilustre da direita assinar um manifesto pelo fim destas aulas. 



Ora bem, estou aqui no site da Direção Geral e o que é que diz aqui? Que as áreas temáticas são as seguintes:

- Dimensão Europeia da Educação
- Educação Ambiental
- Educação do Consumidor
- Educação Financeira
- Educação Intercultural
- Educação para a Segurança e a Paz
- Educação para a Igualdade de Género
- Educação para o Risco
- Educação para o Desenvolvimento
- Educação para o Empreendedorismo
- Educação para o Voluntariado
- Educação para os Direitos Humanos
- Educação para os Média
- Educação Rodoviária
- Educação para a Saúde e Sexualidade

Olhando para isto eu diria que se fosse pai tudo isto me parece muito bem. Quem me dera, se calhar, que no tempo tempo a escola tivesse tempo para me ensinar coisas além do Português e da Matemática e das outras disciplinas todas. Mas se prestarmos atenção, o que salta logo à vista é que quatorze das quinze áreas temáticas começam todas por "Educação" e parece-me que é isto que incomoda muito conservadores e Igreja. 

Ser conservador é querer conservar. Que tudo seja como sempre foi. Mas quando os conservadores querem acabar com as aulas de cidadania já não estão a conservar, estão a querer destruir o que de bem se fez. Nesse momento já deixaram de ser conservadores e passaram a ser reacionários.

No fundo o que conservadores e Igreja querem é que o povo seja ignorante, porque um povo ignorante à partida mais facilmente é manipulável. O que esta gente quer é o regresso à instrução primária (que Passos e Portas trouxeram de novo o exame, coisa única em toda a Europa) e uma enxada para trabalhar. Querem que as pessoas tenham poucos estudos, mas é para outros, os pobres, aqueles que a Cristas para visitar tinha que vestir umas calças de ganga, porque os filhos deles, esses têm que ir para a universidade, nem que seja privada, porque quem pode pagar é sempre gente de bem. 


Enquanto isso nesta mesma semana e no Portugal da Idade Média do século XXI um padre católico de Alcobaça no Jornal Alcoa incita a que se queimem livros! Pois, certamente que até deveria ser proibido aos pobres saber ler e escrever e a missa deveria ainda ser dita em Latim para ninguém perceber absolutamente nada e não ousar questionar o que está escrito! Ah, e a Inquisição deveria voltar, e deveriam queimar na fogueira toda essa gente maluca que se põe a ler livros!



A "liberdade de escolha" que há um ser objetor de consciência nas aulas de cidadania é a liberdade que há em ser mau cidadão

domingo, 7 de julho de 2019

As Marcas da Inquisição na Sociedade Portuguesa dos Dias de Hoje

Talvez isto responda à pergunta: por que é que em Portugal somos tão mansinhos e pouco contestatários com o poder, mesmo quando ele nos fode valentemente?

"A Inquisição criou um forte conformismo social. Nós sabemos, não é só Portugal, mas em geral, as sociedades que tiveram inquisições, são países onde o conformismo social é muito forte, e onde a crítica aberta ao poder, às autoridades nem sempre é fácil." 



"A inquisição foi sem dúvida um tribunal muito duro, arbitrário, bárbaro, mas também era um tribunal que era liderado por homens que estavam bastante convencidos de serem os detentores da fé e os detentores da verdade. E para entender o seu funcionamento, os seus debates internos que saem dos papeis da inquisição, é preciso partir daqui. Para entender por que é que este tribunal foi o tribunal que vincou o primeiro racismo em Portugal, criando uma sociedade segregadora anti judaica, com uma ideia de uma impuridade do sangue que se traduz numa impuridade da fé."

"Há uma figura que nós chamamos o fundador, que não foi o primeiro inquisidor geral (porque foi o segundo) mas foi o Cardeal Infante Dom Henrique, que era o irmão do rei. Portugal teve esta característica, muito singular, de ter como inquisidor geral, durante quarenta anos, o irmão do rei, o que não se passava nas outras inquisições, e que permitiu com o seu poder, que derivava também com a sua posição na corte e na monarquia de proteger e dotar de poder esta instituição. Permitir que ela se moldasse tão poderosa como a consideramos.

Giuseppe Marcocci, autor do livro "História da Inquisição Portuguesa 1536-1821" no programa "Quinta Essência" da Antena 2. O Programa pode ser ouvido aqui