Os dados económicos estão excelentes. O desemprego está historicamente baixo e o governo de António Costa diminui o défice e o Estado português teve pela primeira vez lucro! Tal como nos Estados Unidos a economia sob a administração Biden ia muito bem. Mas então porquê tanta raiva e ódio, porque é que os Estados Unidos acabaram de votar o regresso à Idade das Trevas, e porque é que em Portugal, mais de um milhão de portugueses votaram num partido racista e xenófobo, para o qual o principal problema de Portugal são os ciganos e os imigrantes (pobres)?
Dizem que a economia vai bem, mas, no fundo, a economia é como aquela coisa do frango do Pitigrilli.
1% dos milionários come o dinheiro todo, então, teremos todos comido, em média, igual percentagem do crescimento económico cada um. Só que não. Uns compram casas de milhões, e têm uma em cada país, os outros têm que emigrar para conseguir juntar dinheiro para, eventualmente, algum dia no futuro terem dinheiro para ter um sítio onde dormir.
Eu acompanho o drama da minha colega de trabalho. Tem 25 anos, quer casar e comprar casa. Mas, apesar de ter trabalho, e, muitas vezes ainda trabalhar aos fim-de-semana, e do namorado também ter trabalho e de ambos ganharem bem mais do que o salário mínimo por mês, estão desanimados por estar muito difícil comprar uma casa para viver. E, se não fosse a questão do namorado ter-se despedido para trabalhar e ajudar no negócio dos pais, dizia-me a minha colega, já teriam emigrado.
Dizem todos os indicadores que a economia vai muito bem, obrigado, mas depois é o caos que se vê na saúde - ainda esta semana morreram dez pessoas por falta de assistência do INEM - são as crianças que continuam sem professores, e, brevemente não haverá professores em todas as disciplinas, e pior, os jovens não têm perspectivas de vida. Há sérias dificuldades.
Os pobres hoje em dia não são aqueles de antigamente que iam pedir esmola para a porta da igreja (conhecidos por "pé rapado" no Brasil, obrigados a rapar a lama dos pés). Os pobres hoje em dia são todos aqueles que trabalham, têm carro, iPhone e até vão de férias mas ganham menos de 1500€ por mês.
E é por isso que raiva e ódio. A culpa não é das políticas neoliberais. Vêm os novos fascistas a que chamam populistas e tentam meter na cabeça oca das pessoas que o problema não é 1% da população ficar com tudo e outros todos ficarem sem nada. Nada disso. O problema é dos ciganos, dos imigrantes, o problema é sempre outro qualquer que não a verdadeira causa.
Insatisfeitas com o estado de coisas a que o neoliberalismo em todo o mundo chegou, porque os problemas são os mesmos em todo o lado, as pessoas, em vez de fortalecerem políticas que redistribuem a riqueza, não, viram-se para os fascistas, como os taberneiros do CH, que simplesmente os querem esmagar!
Os imigrantes que deveriam ser proibidos de vir para Portugal são os ricos que chegam aqui e compram casas e que inflacionam os preços e que depois os jovens portugueses, tal como a minha colega de trabalho, que querem comprar uma casa nunca terão essa possibilidade ou ficarão super endividados para o resto da vida.
O problema não são os pobres coitados que vêm para aqui à procura da uma vida melhor, quase sempre explorados, lotados em barrações ou garagens, para fazer aquilo que por cá já ninguém quer fazer.
Mas, infelizmente, são os mais jovens que mais votam na extema-direita, muitos com as mesmas dificuldades da colega de trabalho, que votam também no IL e no PSD (e até no PS que em oito anos também não fez muito para travar o estado de coisas a que chegamos). Votam nos partidos que permitem os vistos dourados, que permitem que a habitação, que é um direito constitucional, seja afinal um negócio e não dá perspectivas de a milhares de jovens deste país.
Então, que se fodam todos. As pessoas queixam-se mas têm aquilo no qual votaram.
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