Diz a Constituição que somos todos iguais. Pois, deveríamos, porque nem na morte somos iguais. Uns morrem e são enterrados como indigentes; outros a maioria, leva com um calhau bem pesado em cima; outros ainda constroem uma casa no cemitério porque não querem cá misturas; e por fim, no topo, a malta que vai para o Panteão por decreto político! Mas não esquecer ainda o outro Panteão: o da Igreja Católica-Pedófila! Ah pois é, o Panteão dos Cardeais, porque os cardeais não se podem misturar com a ralé! Nada disso! Cardeal só por ser cardeal vai logo para o Panteão!
E vem isto a propósito da proposta da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) ter proposto a transladação dos restos mortais de Zeca Afonso para o Panteão e da família, hoje, num comunicado, ter-se manifestado contra, visto que, essa nunca que seria a vontade do músico.
Esta proposta da SPA faz-me lembrar a posição da Igreja Católica em relação à bonecada. Lá na bíblia, aquele manual de maus costumes (como dizia o Saramago) lá que eles inventaram que é a "palavra de Deus", diz, expressamente que estão proibidos de adorar bonecos e imagens, contudo, a Igreja lava as suas mãos, e é ver as igrejas todas enfeitadas de bonecos de barro, e é ver agora no Verão, nas festinhas da terra, onde se mistura o profano com o religioso - vale tudo menos arrancar olhos! - e também as procissões estão cheias de adoradores de bonecos de barro que os carregam ao lombo.
E com Zeca Afonso foi a mesma coisa. O homem, que foi um senhor, um verdadeiro multi-resistente, que sempre recusou homenagens e condecorações, e querem agora, contra a sua vontade suprema, levá-lo para o Panteão! Que puta de ironia! E o que eu acho é que, o melhor panteão, onde muito poucos entrarão e o Zeca Afonso já há muito lá está, é no Panteão da Memória.
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