sábado, 4 de agosto de 2018

Os Mais Preciosos Tesouros

Por estes dias andava a remexer numa estante cheia de livros da escola, e peguei no livro de francês do nono ano. Na contracapa por dentro uma dedicatória da Aurélia.

Já lá vão tantos anos, quando nos encontramos no nono ano, e em que ficávamos juntos, na mesma carteira nas aulas de francês. E era só nas aulas de francês. 
A professora era muito elegante. Longilíea, cintura torneada, cabelos compridos ruivos e sardas na cara. Sempre de saia travada, pelo joelho tal como a Serenela Andrade usava nos anos noventa. 

No nono ano em francês aprendeu-se muito da cultura do país. As regiões e as cidades; os vinhos; os perfumes; os queijos bolarentos; a moda; a publicidade; os automóveis; etc.

A Aurélia era mais velha que eu. Lembro-me de no ano anterior andar no oitavo ano e tive de ir, durante algumas aulas e a mando da professora de Educação Visual, à turma do nono ano, para acabar, conjuntamente com outros  três ou quatro colegas os nossos trabalhos, que eram os melhores da turma e precisávamos de mais tempo. E então ficávamos lá, no fundo da sala a trabalhar enquanto a professora ia dando a aula. E lembro-me de ter ficado impressionado, afinal, eu estava ali, na turma dos mais velhos da escola, junto com aquela malta fixe, onde as raparigas tinham ainda mais formas, eram já autênticas mulheres. 

E quando apanhei a Aurélia no nono ano ela já era uma mulher feita. Branquinha, cabelos aloirados aos cachos bem abaixo dos ombros, de olhos azuis de um azul escuro como se fossem duas safiras e uma covinha no queixo. Corpo bem desenvolvido, com destaque para as mamas, cheias e bem largas, que certamente impediria que as mãos de um adolescente as apalpasse por completo. 

No início do ano letivo eu tinha quatorze anos, ela talvez já tivesse dezassete. Eu era relativamente bem comportado e bom aluno. E acho que nos dávamos muito bem eu e a Aurélia. Eu via nela a mulher bonita e fixe, ela talvez me olhasse como o miúdo bom aluno que por vezes também servia de apoio para ela esticar as pernas em cima das minhas. 


Quando somos adolescentes o tempo demora muito a passar. Um dia que seja parece que é uma semana. E naquele ano certamente muitas terão sido muitas as aventuras que eu a Aurélia passamos juntos naquele ano na aula de francês, nas outras salas todas bem como em todas as outras vivências escolares. 

Muitos anos se passaram. Duvido que a Aurélia ainda se lembre de mim e, se passasse por mim, certamente que não me reconheceria. Se eu passasse por ela creio que sim, que talvez ainda a reconhecesse até porque o tempo não apaga a cor dos olhos nem as covinhas no queixo. 

E se eu te visse certamente que te interpelaria e perguntava-te se ainda te lembras do rapaz do 9ºC que ficava ao teu lado, junto à janela, nas aulas de francês. Dir-te-ia também que tinhas toda a razão, os amigos são dos nossos mais preciosos tesouros. Já quanto ao Sol.... Bom, às vezes, mesmo sabendo que ele existe, não há nada que nos impeça de estar tristes...

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