domingo, 10 de junho de 2018

Da Infantilização das Crianças

"Hoje em dia, e vou dizer uma coisa que não sei se será muito bem vista, mas eu acho que se infantiliza demais as crianças até muito tarde. Por outro lado dá-se-lhes muita responsabilidade muito cedo. Que é que eu quero dizer com isto? As crianças são dependentes em tudo ou quase tudo dos pais, quase até irem para a faculdade. Arrumar o quarto, levantarem-se, pôr a mesa, fazer comida, coisas básicas do nosso crescimento. Aquelas dores de crescimento que todos temos que ter, eu acho que os pais hoje em dia parece que querem retirar essas dores de crescer mas eu acho que se não vierem no tempo que têm que vir (não sei qual será) elas vêm mais tarde. Mas vêm sempre.

E eu acho que essa infantilização depois reflete-se também na escola. Os meninos chegam à escola hoje em dia, à escola primária, e quando vão à casa de banho, os professores têm que os ir ajudar a limpar o rabito quando eles vão fazer cocó. E isto, eu não tenho memória, da minha escola primária, o meu professor ou a minha professora me irem limpar o cocó. E isto a mim faz-me um pouco de confusão. E depois isto vai passando até à idade do 5º ano quando eles já saem da escola primária, daquele protetorado, da professora que eles até tratam por tu, "olha, ó professora, tu e coisa e tal..." e vão para um admirável mundo novo, que deixa de ser um admirável mundo novo porque eles estão por conta própria quase. Mas, eles estão no admirável mundo novo, mas sem saber exatamente onde é que estão. Eu acho que não conseguem de facto dizer onde é que está Portugal no mapa porque essas informações não lhes foram dadas. 



Há pouca informação que foi dada às crianças para elas crescerem. É-lhes dado muita informação tecnológica, e coisas do ter. Ter. Ter coisas. Ter coisas. Ter. A filosofia do ter tira-me um bocadinho fora do sério. Mas às vezes coisas banais... Eu tenho um sobrinho que está na escola primária, e eu dei-lhe este Natal uma coisinha, um jogo, que não era tecnológico, onde ele tinha de ir lá com uma canetazinha, e ligava-se uma luz se ele dava a resposta certa. E isto incluía corpo humano, geografia, sei lá, etc, essas coisas todas que fazem parte de nós nos acrescentarmos enquanto pessoas desde pequeninos. E, se por um lado infantilizamos muito as crianças nesta coisa de aprenderem, de se aprenderem também, por outro lado queremos que elas tenham uma vida ocupada de horários como os adultos. Eu acho que isto é um contrassenso absoluto. 

Susana China no programa Encontros Imediatos / Antena 1

2 comentários:

  1. Ah... concordo. Embora não tenha filhos, eu acho que os pais estão indo por caminhos errados. O que provocará apenas um sofrimento futuro.

    Beijos, querido!
    Blog: *** Caos ***

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    1. Olá minha querida :)
      Esta foi a resposta de uma cantora (que também é professora) a uma pergunta acerca dos resultados conhecidos dos exames, em que se ficou a saber que 45 por cento dos alunos do 5º ano (terão 11 anos) não localizam portugal no mapa da Europa com auxílio da Rosa dos Ventos.
      Mas em boa verdade eu acho que os resultados não seriam muito diferentes se colocassem a questão aos adultos!
      (e estranhamente não ando a receber as notificações de comentários no blogue...)
      Boa semana, Beijo

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