Passaram agora vinte anos. Foi no Outono de 1996.
Eu vivia na era da cassete, mais ou menos pirata, e do Walkman inventado pela Sony que permitia meter-se lá uma cassete, de 60 ou 90 minutos e ouvir as músicas que lá metêssemos. E quando um lado chegava ao fim, abria-se a tampa da cassete e virava-se de lado. Mas eu ainda tive um Walkman muito à frente, que surgiu com a opção de Auto-Reverse (marcha-atrás automática) e então quando o lado A chegava ao fim, o aparelho, de forma automática, invertia o sentido de rotação do motor e reproduzia o lado B.
Já quase toda a gente tinha aparelhagens com leitores de CD e Discman (leitores de CD portáteis) menos eu. Estes novos discos de som digital faziam furor e em breve muita gente deixaria a cassete pirata e começaria a vender o CD pirata, muitas vezes com umas capas ranhosas a um conto de reis.
Por essa altura no meu Walkman rodava um album que tinha saído uns dois meses antes e rodava e rodava sem parar. Foi certamente o álbum que mais devo ter ouvido de sempre. Tratava-se do segundo álbum da banda inglesa Cradle of Filth: Dusk... and her embrace.
Ninguém tinha internet, mas nessa altura eu andava bem mais informado que agora. Lia o Bliz (que era um jornal semanal) comprava fanzines, e ia a lojas de música ouvir o que saía de novo, sem falar nos colegas que arranjavam uma nova cena qualquer e passavam aos outros. Nessa altura ainda estávamos muito longe de ouvir falar em partilha ilegal de música, tão simplesmente porque ainda não existia internet nas casas das pessoas.
E depois de ter tido conhecimento que tinha saído uma edição extremamente limitada do Dusk...and her embrace, tratei de tentar arranjá-la... sim, mesmo não tendo onde reproduzir o disco! Mas não esquecer que eu já o andava a ouvir, numa cassete com a cópia do disco normal.
Por essa altura, em plena baixa do Porto, quase em frente ao Via Catarina, existia a Roma Megastore com vários andares só de música e jogos lá mais em cima. Quando surgiu foi uma loucura naquela loja, só que, a uma loucura aparece logo outra, a Virgin Megastore no Via Catarina, que também haveria de fechar portas poucos anos depois, porque surgiu a loucura da pirataria digital e as pessoas deixaram de comprar discos.
Mas foi na Roma Megastore que comprei essa edição especial, muito rara com duas músicas de bónus. Lá na loja creio que já só tinham uns três exemplares, e um foi para mim. Este caixãozinho especial custou-me três contos e quinhentos, mais ou menos o mesmo preço que uma outra edição especial mas não tão limitada (que nunca tive), e pouco mais cara que a edição normal em caixa de plástico.
Mas este não foi o primeiro caixãozinho que comprei. Até hoje haveria de comprar mais três. Dois consegui-os para depois vender a bom preço, um a trinta e outro a vinte contos (sim, valorizou muito!) mas mais tarde, ainda haveria de comprar um outro para oferecer, autografado e tudo. Por motivos românticos claro. Ofereci-lhe um caixãozinho autografado por um dos guitarristas e tudo.
Podia ter ficado com ele para mim e dar-lhe o que tinha, sem autógrafo. Mas não. O meu, aquele que comprei na Roma Megastore por três contos e quinhentos haveria de ficar sempre comigo, afinal foi o meu primeiro CD.
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