sexta-feira, 24 de junho de 2016

E o invejoso sou eu!

Estou em crer que, por estes dias escrever sobre o Cristiano Ronaldo dará mais atenções na internet que publicar fotografias ou vídeos de gatinhos! É que se não é parece! E eu até cá já publiquei umas fotografias de um gato mas acho que nem assim resultou grande coisa! então 'bora lá escrever sobre o capitão da seleção portuguesa de futebol a ver o que sai daqui.

Falar-se, bem ou mal do Cristianinho gera logo opiniões muito inflamadas. E ai de quem lhe possa apontar qualquer coisa, pois vem logo de imediato um batalhão de ronaldetes defender o menino coitadinho e apelidar de "invejoso" quem quer que seja que lhe aponte qualquer coisa.

Eu não conheço o Cristiano como não conheço qualquer outro jogador ou atleta mais ou menos mediático ou qualquer outra figura pública. E eu sei perfeitamente que é muito complicado nós sabermos verdadeiramente alguma coisa de determinada pessoa que é figura pública, unicamente por aquilo que ela aparenta ser no circo mediático, porque as pessoas muitas vezes usam capas para se defenderem. Mas podemos sempre, como é lógico, simpatizar ou antipatizar com esta ou aquela tomada de posição.

E na verdade eu não tenho qualquer simpatia pelo Cristiano. Nenhuma. Dele espero unicamente que jogue bem quando representa o seu país, que também é o meu, e que é unicamente quando o vejo jogar. Espero que jogue e justifique o que toda a gente diz dele, que é o melhor do mundo, ainda que isso de ser o melhor jogador do mundo não exista. E não existe porque o futebol é um jogo coletivo, não é um jogo individual. Podemos dizer que um atleta que corre os cem metros é o melhor do mundo porque é o mais rápido, ou que outro é o melhor lançador do dardo porque é o que o atira mais longe. Esses sim são os melhores, mas nunca que podemos dizer que determinado jogador da bola é o melhor do mundo, tão simplesmente porque não joga sozinho! 

O futebol tem onze posições diferente em campo e cada jogador ocupa a sua. Não podemos dizer que um, que só faz essa posição específica, é melhor que todos os outros que jogam em dez posições diferentes! Um guarda-redes só pode ser o melhor guarda-redes do mundo, tal como um avançado nunca poderá ser o melhor guarda-redes do mundo. Um defesa-direito só pode ser o melhor defesa-direito do mundo, não pode ser também o melhor defesa-esquerdo do mundo!. Está clara esta ideia? 
Ah, mas ò Konigvs toda a gente diz que ele e o Messi são os melhores do mundo. Então mas estão todos errados e só tu é que estás certo? Evidentemente que estão errados. A terminologia que se deveria usar é a de "jogador mais valioso", mas nunca a de "o melhor", porque mais uma vez sublinho, o futebol não é um jogo individual mas sim um jogo coletivo. Se quiserem temos então, pelo menos, onze melhores jogadores do mundo.

Mas como dizia, do Cristiano eu só espero é que ele marque tantos golos pela seleção como pelos clubes por onde tem passado, e isso infelizmente nunca aconteceu. Ele nunca foi o melhor marcador de uma fase final de um Europeu ou Mundial, como foi, por exemplo, o Eusébio no Mundial de 1966 e que só disputou unicamente essa grande competição. 

Não, não gosto do Cristiano Ronaldo. Não gosto e teria tudo para gostar. Porque é a história de uma criança, filho de pai alcoólico e de uma família disfuncional, pobre, em que ele sai lá da ilha da Madeira, e vem aos dez anos para o continente jogar futebol num dos melhores clubes do país, e fruto de grande perseverança e vontade de vencer (e de um treinador que apostou num miúdo de 17 anos) aos dezoito anos sai de Portugal para representar aquele que tinha acabado de se sagrar campeão inglês.
E eu ainda me lembro dele, bem novo, com os dentes tortos, a jogar pela seleção portuguesa. E ainda me lembro também muito bem dele a chorar como uma criança, na final do Europeu de 2004 realizado em Portugal e a ser consolado pelo Scolari. Mas esse menino infelizmente perdeu-se. Aos poucos, ele começou a dar a saber cada vez mais da sua vida pessoal, e mesmo dentro dos relvados, pelo menos pela seleção, os seus comportamentos eram cada vez mais, inapropriados para um profissional da sua categoria, mas ainda assim fizeram dele, e muito mal, capitão, alguém que deve ter perfil de líder e um exemplo perante todos, coisa que definitivamente ele não é nem nunca foi.




Há uma célebre história que se conta, que no primeiro ano de Cristiano em Manchester, Sir Alex Ferguson o pôs a chorar. A cena passou-se em Lisboa num jogo contra o Benfica, na última jornada da Liga dos Campeões, em que o Mancherter United é derrotado e acaba fora das competições europeias. O Cristiano passou o jogo a tentar provar que era um grande jogador mas sempre de forma individualista o que tirou Ferguson do sério:
"Quem julgas que és? A jogar sozinho? Nunca serás um jogador de futebol se continuares assim", disse Ferguson para Ronaldo no balneário. Cristiano começou a chorar e os outros jogadores não disseram nada e deixaram-no sozinho. 

E sinceramente quando o vejo a jogar por Portugal é isso que me parece. Dez jogadores jogam para um lado, contra o adversário, e depois há o Cristiano Ronaldo a fazer um outro jogo, sabe-se lá contra quem. Talvez contra si mesmo. Tem de marcar os livres todos, mesmo que já seja o pior marcador de livres da história! Faz as suas fintas, atira-se para o chão, reclama com o árbitro, reclama com toda a gente. E levanta a cabeça e olha-se no plarcard eletrónico, sempre, muitas vezes, como se fosse uma espécie de Narciso, o deus grego, que olha o seu reflexo e é unicamente apaixonado por si mesmo. 
E isto só pode acontecer, porque na seleção nunca encontrou um Sir Alex Ferguson que lhe puxasse as orelhas e o colocasse no seu lugar devido. Na seleção ele deve ser só mais um no grupo, e não querer-se destacar sozinho. Mas na seleção são tudo facilidades, todos lhe prestam vassagem, e ele acha-se um deus grego, talvez ache mesmo que os outros dez não estão à sua altura, e depois dá no que tem dado sistematicamente. 

Mas a minha antipatia com pessoas como o Cristiano tem a ver com a postura. Como referi, ele é uma pessoa que veio do nada, e neste momento é o atleta mais bem pago do mundo. Ganha em dois ou três dias aquilo que a maioria das pessoas em Portugal demora uma vida para ganhar. Mas isso não é culpa dele, é culpa do sistema capitalista em que vivemos. Porque eu não aceito que alguém, só porque dá uns pontapés numa bola, (ou fizesse outra coisa qualquer) possa ganhar numa semana, tanto como a maioria das pessoas do mundo numa vida inteira. Tem de haver algo de muito errado nisto. Onde é que está a tão apregoada igualdade? Mas como disse, isto não é culpa dele.

Mas culpa tem na forma como se comporta. Ele é multimilionário, como são todos os grandes jogadores de futebol. E às vezes quem o defende, quase faz parecer que ele é o único jogador de futebol rico! E é lógico que tem de gastar o dinheiro, e gasta-o naquilo que entende. Era o que haveria de faltar se não o pudesse fazer. Mas se eu admiro a sua perseverança e ambição, no bom sentido da palavra, causa-me repulsa o ser humano em que se tornou, ou pelo menos na forma como se mostra publicamente. 

Lamento, mas eu não gosto de pessoas mal educadas, nem de gente arrogante, muito menos de narcisistas. E só alguém com uma personalidade narcísica poderia pagar a sua própria escultura, homenageando-se a si mesmo! E não aceito que me chamem invejoso por não gostar do Cristiano. Na verdade eu não tenho inveja, tenho pena. 

Por estes dias um jornalista inglês escrevia no El País:

"Por más que se rodee de Ferraris y de Rolls-Royces y de supermodelos no está en paz consigo mismo y, en el fondo, no es feliz."

"Debajo de ese cuerpo de Adonis superstar lo que hay es, efectivamente, un blando chiquillo malcriado. Tanta buena suerte ha tenido en la vida, y tanta mala también."

Tenho mesmo pena, pena por ele, por não estar a aproveitar nesta vida, o que a profissão lhe proporciona.

Eu acho que nunca invejei nada nem ninguém nesta vida, quanto muito gostaria de ter tido outras oportunidades que não pude ter. Aceito o que a vida me quis dar, mas já agora : 

"Nós somos ricos, não por aquilo que temos, mas por aquilo que não precisamos ter"

Não, não aceito que me digam que tenho inveja de maus exemplos.

Eu nasci sem nada, mas foi isso que me fez o que eu sou hoje. Não sou melhor nem pior que ninguém, mas noutras condições talvez não fosse a mesma pessoa, porque o meio onde crescemos influencia-nos sempre, para melhor ou pior. Poderia ser melhor ou pior, mas não seria necessariamente quem sou hoje. Não teria conhecido as mesmas pessoas que conheci, teria conhecido outras. Os meus pais nem dinheiro para uma bola de futebol tinham para me dar. Mas deram-me educação, e para saber educar, felizmente, não é preciso ter dinheiro nenhum.

Lamento mas eu admiro a simplicidade, a humildade, a modéstia e o saber estar. Má educação, arrogância e narcisismo não são coisas que invejaria se fosse invejoso. Se fosse, porque desse mal não sofro. Mas talvez quem ataque com unhas e dentes os outros, por não gostar desse tipo de exemplos, no fundo, talvez, só quereriam era estar no lugar dele. 
E depois o invejoso sou eu!

# Cobertura jornalística Mundial 2014


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