Ontem à noite, depois de jantar, apanhei na RTP uma reportagem que pretendia dar uma ideia de como se vive a sexualidade em Portugal nas diferentes idades, e que abordou até junto de uma investigadora que se dedica a estudar estas coisas "chatas" do sexo, quais os fatores recentes que contribuíram para uma mudança de comportamentos. Explicou a senhora que identificou três fatores: O "25 de abril", as telenovelas brasileiras e a Internet. Mas quase nada do que foi mostrado ao longo da reportagem me surpreendeu, nem mesmo o facto de em 1960 só 1,1% dos casamentos dar em divórcio, ao passo que em 2012 subiu para os 73,4%!
O que me chamou realmente a atenção, foi quando a jornalista, vestindo a pele de Carrie Bradshaw do Sexo e a Cidade deixa a pergunta: "Mas haverá quem faça da traição uma forma de manter o casamento?"
E então entrevista uma senhora que, com a cara oculta por uma planta e voz modificada, e já com idade para ter juízo e saber bem o que quer - também se não é depois dos cinquenta nunca mais seria! - começa logo por esclarecer muito bem as coisas para que não hajam dúvidas nos telespetadores: "Eu amo o meu marido. Mas amo-o a sério!" Claro que ama, aliás, quem sou eu para julgar quem quer que seja, ainda para mais uma pessoa que desconheço, mas quis-me parecer que a senhora ao afirmar o que disse, quer antes de mais convencer-se disso a si mesma, para que continue tudo bem na sua cabeça. Aliás, não deixou de ser até caricato que, depois ter ter afirmado solenemente que o ama, seguidamente explica todas as razões do seu descontentamento para o trair! Mas ama-o a "sério". Claro.
E de seguida abordou-se um desses sites que se dedicam a permitir o contacto entre pessoas casadas que querem dar umas trancadas mas sem ninguém saber, como aliás convém para manter as aparências da boa moral e dos bons costumes. E a tal senhora que ama o marido "a sério", acaba por confessar que se apaixonou por uma pessoa que conheceu no tal site. E isto não deixa de ser curioso, pois recentemente conheci dois casos em que me disseram "Ah, eles conheceram-se num site de sexo, deram umas trancadas e depois começaram a namorar". E isto deixa-me realmente a pensar.
Depois a senhora, volta a meter os pés pelas mãos referindo que "todas" aquelas pessoas que estão naquele site "não precisam pagar para ter sexo", quando a jornalista anteriormente tinha dito que os homens pagam 30€/mês para poderem estar no site! Pequeno detalhe sem importância!
No fundo este site é um excelente modelo de negócio e um enorme exemplo de empreendedorismo! Então é assim, no fundo o site contrata mulheres de borla, como esta senhora que ama o marido a sério e depois prostituem-nas junto dos homens que querem dar umas trancadas, ganhando dinheiro agindo como se fossem verdadeiros chulos e elas uma verdadeiras putas! Mas é tudo virtual, muito bem engendrado! Sublinho que foi muito bem engendrado só é pena, e parece que ninguém reparou ainda no pormenor, de violar claramente o princípio da igualdade consagrado na Constituição Portuguesa. E, neste caso, o violar por acaso até se aplica na perfeição!
Foi dito que o site nasceu na Holanda, não sei se a representante em Portugal alguma vez leu a Constituição Portuguesa, mas ela é muito clara quando fala no princípio da Igualdade:
"Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual."
Acho que é por demais evidente que neste caso, as pessoas registadas do site que têm um pénis são descriminadas em favor das que têm uma vagina.