quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Starlet Trip 2023: Mais de 2 Mil Km Numa Semana a Conduzir um Chaço de 27 Anos


Pá, e se eu levasse o novo chaço velho, de 27 anos, nas férias para fazer mais de dois mil quilómetros e visitar cerca de vinte cidades? Vamos a isso!

No dia anterior fui ao cinema ver O Colar de São Cajó. Tinha estreado no início de agosto, mas fui adiando e, ou era agora, ou não era mais, porque o filme já estava a sair de cartaz e no grande Porto já só estava disponível na Maia. E, de facto, percebi que o cinema tem agora, como se diz, muito mais adeptos. Estavam comigo quatro pessoas na sala!

Saí relativamente cedo de casa e com a mala cheia de tralha! Primeira paragem Pateira e depois segui para Viseu e, entre outras coisas visitei o Museu Grão Vasco, Parque Aquilino Ribeiro, Mata do Fontelo, mas só um bocadinho porque aquilo é imenso! (ficará para outra oportunidade para ver mais em detalhe)


No segundo dia andei por Belmonte e Trancoso a seguir as pisadas dos judeus sefarditas... De manhã por Belmonte e visitei uma porrada de coisas com um bilhete único: Castelo de Belmonte, Museu Judaico e judiaria, Museu das Descobertas (estamos na terra de Pedro Álvares Cabral), Ecomuseu e quando cheguei ainda passei pela Torre Centum Cellas que, no entanto, já sabia que estava em obras, mas que, ao vivo pode ser só impressão minha, mas parece bem mais pequena que nas fotografias.

Depois de Almoço Rumei a Trancoso. Passei pelo Centro de Interpretação Judaica, Casa do Bandarra, Casa do Gato Preto, Casa de Judá. No Centro de Interpretação Judaica deram-me a indicação duma necrópole que ficava a 7Km, em Moreira de Rei, e que por lá haveria festa e "sardinha doce" (seja isso lá o que for). Lá chegado a edilidade ali estava, de microfone na mão, a fazer um qualquer discurso. Inaugurava-se o posto de turismo local. Várias pessoas de livros na mão, talvez para autografar. Minutos depois, no posto de turismo, chega uma simpática senhora, que parecia ter ali caído de paraquedas e quase não sabia indicar a tal necrópole. Apontou e lá segui nessa direção para ver a maior necrópole da Península Ibérica. 


O terceiro dia sofreu uma pequena alteração, porque, em vez de ir a Vilar Formoso tive que saltar para a Guarda visto que o museu junto da fronteira está fechado ao domingo. Fica também para outra oportunidade. Na Guarda uma pequena caminhada pela judiaria, mas antes, no posto de turismo, uma discussão sobre religião que estava a ficar um pouco quente com as minhas opiniões polémicas! 

Deixei a Guarda e rumei a Castelo Branco, quase exclusivamente só para visitar o Jardim do Paço Episcopal, jardim que, já por diversas vezes estive para visitar mas, por este ou por aquele motivo acabou por não acontecer. Depois farei uma publicação no Bucólico-Anónimo. 


Muitos quilómetros me esperavam pela frente. Saí de Almeida, parei na Guarda, acabava de visitar o Jardim do Paço Episcopal mas o destino era Elvas. Mas antes ainda queria parar em Nisa e haveria também de parar em Portalegre. 

Em Nisa fiz uma pequena visita de médico. Localidade que, pelo menos aquela hora, quase parecia deserta e não se avistava viva alma. 


Em Portalegre só deu mesmo tempo para uma paragem estratégica para esticar as pernas e ver o movimento na cidade à medida que a noite ia chegando. Este é o plátano do Rossio, na avenida da Liberdade:


Já caía a noite quando cheguei a Elvas. Instalei-me e fui jantar à Praça da República com vista para a Igreja. Mas o que mais me surpreendeu foi chegar a uma cidade que tem um enorme parque de estacionamento Público e gratuito! Já eu em Gondomar, seja para ir às Finanças, à Segurança Social ou à Biblioteca tenho que pagar. Considero abjeta a forma como se está a privatizar todo espaço público, porque, infelizmente, o dinheiro que deixamos nos parquímetros não vai para o Estado para ser investido na causa pública, no bem de todos, não!, vai sim para o bolso dum empresário.

Voltando a Elvas, na manhã seguinte acordei, quase tive que vender o cu para pagar a torrada que comi ao pequeno-almoço e depois fui caminhar pelo centro histórico.


De seguida atravessei a fronteira e enchi o pequeno depósito do Toyota Starlet 1.5D na GALP. E não deixa de ser curioso, em Portugal, a GALP que era uma empresa pública antes de ter sido privatizada pelo PS, é das mais caras, ironicamente, já do lado espanhol é das mais baratas. Abasteci a 1,70€, cerca de 20 cêntimos mais barato do que a média em Portugal.

Cheguei a Badajoz e arranjar estacionamento foi mais difícil do que pensava, mas, com calma lá arranjei estacionamento na rua e de borla. 

Nesta primeira cidade espanhola passei pelo Parque de Castela e Puerta de Palmas, visitei o espetacular MUBA (Museu de Belas Artes), o Museu Arqueológico (um bocadinho de forma apressada porque fechavam às 15h) e passeei pela Plaza Alta de Badajoz... 

E de Badajoz fui para Mérida. E a verdade é que, já nem me lembrava que Augusta Emerita era, no tempo dos romanos a capital da Lusitânia, que incluía quase todo o território atual de Portugal, ali abaixo do rio Douro. 


Em Mérida comecei por parar perto de um parque onde se pode ver o Acueducto de los Milagros, um aqueduto romano construído no século I. Muito fácil de encontrar, aliás, acho que foi o aqueduto que me encontrou a mim!, vi-o e dirigi-me para o parque. Depois de me esticar na erva do parque dirigi-me ao Museu Nacional Romano onde paguei 3€ pela entrada. 


Em Mérida comprei também um bilhete por 16€ que permite a visita a uma data de coisas romanas: Teatro, Anfiteatro, Alcazaba, Casa del Mitreo, Columbarios Cripta de Santa Eulália e Circo Casa del Anfiteatro, Templo de Diana, Área Arqueológica de Moreira, Templo de Culto Imperial.  

E, se em Elvas fui xulado ao pequeno-almoço, já em Mérida estive no Cafe Joplin, um espaço todo decorado com artistas do rock (o nome vem de Janis Joplin) comi umas belas tostadas com queijo e sumos e foi bem barato.


Depois de um dia em Mérida rumei a Sevilha para uma viagem de cerca de duas horas em autoestrada gratuita (como gratuitas foram todas as autoestradas que utilizei em Espanha). E quase no início de Outubro apanhei 37º de temperaturas. 

O quartel general ficou situado em Dos Hermanas, a sul do centro de Sevilha e a cerca de 15min do parque Maria Luísa, relativamente perto do centro da cidade e onde estrategicamente tinha pensado deixar o carro porque, com alguma paciência, arranja-se estacionamento gratuito na rua. 

Cheguei a Sevilha depois de almoço e com fome. O telecrã indicou-me que havia um centro comercial perto do alojamento e tratei de para lá me deslocar. Mas só vi roupa e calçado (a bons preços diga-se. Os gajos ganham mais do que nós e ainda têm as coisas mais baratas). A única coisa que havia era Mac Donalds e Burger King. E pronto, como a barriga vazia não se olha ao fast food, lá entrei no Burger King como um selvagem que acaba de chegar à cidade, na companhia de outra selvagem, diga-se! 

A menina foi simpática e teve toda a paciência para me ouvir e até me aconselhou na escolha. E depois explicou-me como é que, com o código de barras da fatura, lá encostava na maquineta e enchia o copo com a bebida. Maravilhoso admirável mundo novo!

O alojamento foi outra experiência, daquelas que, por norma, as pessoas pagam para viver. Mas eu só paguei mesmo os 90€ por duas noites. Situado no meio do nada, onde não há restaurantes e onde se chega por uma estrada toda esburacada e em pouco mais do que terra batida. O edifício parece uma antiga quinta, bastante espaçoso, com um grande parque, salas com beliches e nas traseiras pareceu-me ver bacias com roupa para lavar. 

Chamei-lhe "A Sanzala"! E, nem de propósito, a responsável era uma preta, já com uns quilitos a mais mas com paciência de menos. Espetava-me o telecrã junto à cara, como quem diz "fala para aí que isto traduz a ver se percebo o que tu dizes" e parecia preferir que eu falasse em inglês, ainda que eu percebesse quase tudo que ela dizia. E era tudo muito em cima do joelho, apontado no papel o meu nome e a identificação. Tudo ao contrário dos novos alojamentos em que muitas vezes nem sequer contactamos com humanos e temos que fazer uma verdadeira caça ao tesouro para conseguir o código que irá abrir a porta. A responsável da "Sanzala" lá me explicou que se chegasse depois das 22h tinha que pagar 5€ pela chave, que depois me seriam devolvidos, mas mais à frente mostrou-me um esquema em como era possível abrir o portão do parque e esgueirar-me para a habitation.

Um homem simpático que por ali andava, creio que mais novo do que eu, talvez de algum país da América do Sul, e que esclarecia que não era empregado mas que vivia por ali (companheiro da responsável da Sanzala?), mais do que uma vez falou-me da sorte que eu tinha, pois tinha ficado na melhor habitation porque tinha wc privativo e televisão. E é verdade, pelo menos a televisão era um enorme luxo que deu imenso jeito para ficar sempre desligada enquanto lá estive!

O quarto tinha enormes janelas, como imagino que todas as fazendas de escravos tenham. Eu pus-me logo à vontade, ainda não estava nu como um selvagem mas quase, e percebi que acendendo a luz do quarto, e ainda para mais porque estava no rés-do-chão se iria ver tudo para dentro. E então preparei-me para começar a fechar a persiana, eis que alguém de fora que estava ali encostado me surpreende, falando e disponibilizando-se que me ajudar! A coisa ficou ainda um pouco mais estranha quando o ouvi descontraidamente a peidar-se ruidosamente enquanto fumava!

A Sanzala era uma enorme fazenda, um enorme casarão que poderia ter sido uma fazenda de antigos escravos. Tinha uma cozinha enorme, espaçosa, comunitária, ótima para eu fazer o pequeno-almoço e aquecer a lanhasa que tinha trazido do hipermercado, no tal hipermercado em que um senhor a quem perguntei onde estava o queijo não percebeu porque para "queso" vai uma diferença do caralho e exclamou: "Ah, cheese"! Sim, em Espanha devo ter passado por ser de muitas nacionalidades diferentes, quer-me é parecer que nenhum espanhol « diria que eu afinal era... português!

Dois dias em Sevilha não dá para grande coisa numa cidade que tem mais habitantes do que Lisboa e que em qualquer recanto tem algo para ver. Há por isso que fazer escolhas. 

Andei pelo enorme parque Maria Luísa onde até visitei um museu de artes e costumes, e vi a imponente Plaza de España, andei pelos enormes jardins do Real Alcazar, caminhei junto ao rio e vi a Torre del Oro, visitei o Palácio Condessa Lebrija e claro, dei uma vista de olhos à catedral e à torre a que chamam Giralda. E ainda por aquela construção contemporânea a que deram o nome de Setas de Sevilha, e ainda visitei um centro de flamenco mas achei que não valorizaria ir ao espetáculo... Pelo meio ainda alimentei patos e gansos com aquelas bolachas feitas de esferovite que comprei para petiscar mas que são simplesmente horríveis. Só mesmo as aves e os meus colega de trabalho é gostam daquilo!

Plaza de España:

Parque Maria Luísa:


Palacio Condessa Lebrija:


Catedral e Giralda, Palacio, As Setas e Torre del Oro:

Real Alcazar:


Depois de Sevilha comecei a dirigir-me para sul para reentrar em Portugal por Vila Real de Santo António. Atestei o depósito em Ayamonte e passei por Faro para rever o Palácio de Estoi mas naquele dia o privado que abriu a pestana e que gere aquele espaço não deixava visitar. Revisitei a capela dos ossos de Silves e, ao fim da tarde, fui fazer aquele passeiozinho turístico de barco até às grutas de Benagil.  

Depois subi até Évora, onde visitei a Capela dos Ossos e o Templo Romano. E a viagem já estava no último dia e só haveria de fazer mais uma parecem, no castelo de Porto de Mós, antes de regressar à minha caverna.

Évora:


Antes de chegar ainda carreguei na mala do Stalet uma porta para o carro, porque a do lado do condutor está um bocado podre! Lá tive que retirar os sacos para fora e tentar conseguir acondicioná-la da melhor maneira, a ver se cabia, mas veio e chegou inteira! 

Foram 2100Km em sete dias. Um bom teste ao chaço que está comigo há um ano, e que quando cheguei passou os 300 mil Km. Sempre que andei em auto-estrada, e foram muitos quilómetros, nunca devo ter passado os 100Km/h porque há que saber o carro que temos. E não raras vezes ia a conduzir e botava um olho na estrada e outro no indicador de temperatura do quadrante!

Tirando um ou outro pormenor, o importante é que correu tudo bem. 


2 comentários:

  1. Respostas
    1. Sim, acho que foi uma aventura épica?! Mas cá entre nós, eu detesto cada vez mais o turismo. Detesto turistas, detesto este turismo de massas que é absolutamente contra tudo aquilo que se defende quando se fala de sustentabilidade. E também detesto passar-me por turista... Detesto montanhas de gente, detesto bichas, detesto as cidades todas iguais, que mais parecem parques temáticos, com as mesmas letrinhas em todo o lado, a servir as mesmas comidas em todo o lado...

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