domingo, 4 de junho de 2023

No Princípio era o Amor

 No princípio era o amor

Veio depois o Império do Ter

auxiliado pela Religião e pelo Poder 

O Amor viu-se vilmente escorraçado 

e mais tarde sacrilegamente crucificado

Da Morte ergueu-se vigoroso

quando mais parecia destruído

No fim é também o Amor 

Agora é ainda o Tempo

a luta de classes 

onde o Amor progride

sempre que é escorraçado 

por Homens da Religião e do Poder 

estupidamente ao serviço do Império do Ter

Pelo Amor assim maltratado 

Jamais hei-de chorar 

mas por quem assim o maltrata 

soluço dia e noite inconsolável

(Mário de Oliveira / Janeiro 1980)



- "Tornei-me, um dia - disse, a dada altura, Judite - propriedade e proprietária de um homem mediante um contrato de casamento. Como quase todos os jovens, educados nesta e por esta sociedade informada pelo capitalismo e pela Cristandade que ideologicamente a aguenta e justifica, também eu confundi Amor entre homem e mulher com posse de um pelo outro. Possuí e deixei-me possuir. E, com isso, reconheço, hoje, à luz do que este acontecimento nos vem inundando que, afinal, matei o Amor, no momento em que convictamente o afirmava. Dez anos somo já, em que fui propriedade privada de um homem em nome do Amor que é, de sua natureza, dom gratuito. Vivi para a casa, para o marido e para os filhos que nos nasceram. Como o capitalista explorador vive para a fábrica, para os negócios e para o lucro".  

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