sábado, 5 de dezembro de 2020

PERSEPOLIS


(1978) "Naquela época tinha uma vida tranquila e sem percalços. Uma vida de criança. Adorava batatas fritas com ketchup, o Bruce Lee era o meu herói preferido, calçava sapatilhas Adidas e tinhas duas grandes obsessões: poder um dia depilar as pernas e tornar-me o último profeta da galáxia"

Continuando ainda a saga de ir vendo os filmes daquela enorme compra que fiz (todos a 1€) o filme que verdadeiramente me surpreendeu ultimamente foi este Persepolis. 

Esta é a história de uma menina que cresce no Irão durante a Revolução islâmica mas é também a história autobiográfica de Marjane Satrapi (ilustradora e romancista) e a autora dos livros que deram depois este filme. A destemida Marjane de nove anos que é fã de Bruce Lee vê a esperança do povo iraniano ser destruída (com a queda da ditadura) quando os fundamentalistas religiosos tomam o poder, forçando as mulheres a usar o véu e prendendo milhares de pessoas.

Marjane é uma menina muito esperta e, apesar das proibições, consegue descobrir a cultura punk, os Abba ou os Iron Maiden. Mas quando o tio é cruelmente executado e as bombas começam a cair sobre Teerão durante a Guerra com o Iraque, o medo instala-se. Muito preocupados com o comportamento ousado de Marjane os pais acabam por tomar a difícil decisão de a enviar para uma escola na Áustria. 

Aí, sozinha, Marjane é alvo de discriminação e confundida com o fundamentalismo religioso, exactamente aquilo de que fugiu do seu país. Mas, com o tempo acaba por ser aceite. Quando termina o liceu, Marjane decide regressar ao Irão. Entretanto depois de regressar casa, porque nem sequer de mão dada pode andar na rua com o namorado (para um ano depois depois se divorciar, com o apoio da avó, figura importante no seu crescimento) e aos 24 anos percebe que não pode continuar a viver no seu país e acaba mesmo por emigrar para França...

Este é um filme de animação graficamente muito bonito. A história real é comovente, trágico mas ao mesmo tempo bem humorado e até divertido em alguns momentos. É um filme obrigatório para que as pessoas percebam que em qualquer país, por mais progressista que seja, a liberdade nunca está totalmente conquistada. E se permitimos que os extremistas religiosos tomem o poder, muito rapidmente podemos recuar séculos e entrar em novo período de obscurantismo. Acho até que é até um filme didático e que pode servir para ensinar aos mais novos que "quem adormece em democracia pode acordar em ditadura". 

Esta é uma grande história de vida que deu um livro e que posteriormente deu origem a este grande filme que ganhou vários prémios internacionais.

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