Dia de reunião familiar. Ninguém visita ninguém espontaneamente porque quer, porque se lembra e porque gosta dos outros. Os únicos laços que existem são os da obrigatoriedade do sangue. É o que liga as pessoas. Há coisas positivas e outras menos boas nestas reuniões familiares. Desde logo a mais positiva é termos a possibilidade de socializar enquanto as pessoas estão vivas e não nos encontrarmos só nos funerais. Quanto às menos boas, bom, também temos que fazer algumas concessões.
Mas há cedências e cedências. Dispensei a missa em honra dos nossos ascendentes desaparecidos. Enquanto isso fui dar uma volta junto ao rio, olhar os patos, ver hibiscos em flor e ouvir falar francês e alemão. Quando ao longe vi as pessoas sair da igreja, fui-me aproximando. E já com os meus pais prestes a entrar para dentro do carro, uma prima aproxima-se e antes de me entrar porta adentro e me vir cumprimentar diz:
- Fôda-se, nem conheces ninguém, caralho!
- Olá!!! Bem, tu estás cada vez mais loira!
- E tu ainda não viste em baixo!
À tarde, a mesma prima, que tem a mesma doença que eu, haveria de dizer uma outra frase, que apesar de ter o seu quê de Lapaliciano, não deixou de dizer uma grande verdade:
- Se os nossos avós não tivessem pinado, não estava aqui ninguém!
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