Foi hoje a enterrar Mário Soares, uma espécie de Eusébio da política portuguesa. Das minhas memórias mais presentes que tenho de Mário Soares, as eleições presidenciais de 1986 são as que estão mais vivas. Expressões como "Pra Frente Portugal" (e "para trás mija a burra"!) da campanha de Freitas do Amaral, ou "Soares é Fixe" ficaram para sempre gravadas na memória. Ao contrário dos dias de hoje, nessa altura, independentemente das convicções ideológicas de cada um, os políticos batiam-se por ideais e tinham carisma: Soares, Cunhal e Amaral. Eram tempos em que, ao contrário do que acontece hoje, quem quisesse saber o resultado das eleições, tinha de ficar acordado a noite inteira. E contra todas as expectativas, primeiro passando à segunda volta, e depois, ganhando mesmo as eleições, Soares tornava-se o primeiro Presidente da República civil depois de cinquenta anos de ditadura.
Vinte anos mais tarde, em 2006, Soares, no meio de grandes divisões socialistas, e apesar de ter mais de oitenta anos, avança mesmo com a terceira candidatura às eleições presidenciais.
Imagem roubada da net |
Agora que reflito, não me lembro de conversar muito sobre política com a namorada da altura. Mas como seria normal conversamos sobre as eleições. Ainda me lembro até, que cinco antes ela votara em Jorge Sampaio (que se seguiu a Soares) enquanto que eu votei no historiador Fernando Rosas. Mas em 2006 ela decidiu escolher o candidato-poeta Manuel Alegre e quase estranhava que eu pensasse em votar em Mário Soares. Eu ainda sei o que lhe disse:
"O meu voto será a minha homenagem ao político que foi e a tudo aquilo que lhe devemos".
Soares seria só o terceiro mais votado. Eu nunca me arrependi do meu voto. Com mais de oitenta anos, Mário Soares tinha um pensamento mais moderno que muitos jovens. E todas estas semanas que esteve internado, em coma, à espera que a morte o fosse buscar, conseguiu ser mais ativo que o vegetal que haveria de ganhar as eleições.
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