domingo, 22 de setembro de 2024

O Presidente Marcelo e a Dualidade de Critérios

 


Meados de setembro de 2024. Temperaturas de trinta graus, de manhã eu já saio de casaquinho mas a humidade está muito baixo e faz vento. 

Os responsáveis enviam SMS a alertar os incendiários que esta é uma excelente altura para ir incendiar a mata. 

Trabalho junto ao Cais de Gaia. Na segunda-feira deparamo-nos com uma enorme fumarada, quase não se vê nada. Uma amiga envia-me um vídeo de Aveiro e na avenida central está está cheio de fumo. Nas notícias ficamos a saber que há grandes incêndios em Albergaria e Oliveira de Azeméis, mas também em Gaia e Gondomar. 

Os incêndios rapidamente tomam grandes proporções e, em Gondomar alastram com grande gravidade. Na quarta-feira, ao sair de casa já vejo as chamas ao longe e a entrar na estrada nacional N108 tenho a estrada cortada. Consigo chegar ao trabalho mas com o coração nas mãos. Como é que vou encontrar as casas, a minha e a dos meus pais quando chegar a casa?

Leio nas notícias que a noite em Melres foi horrível. Os responsáveis autárquicos queixam-se da falta de meios e não há aviões, mas com tanto fumo, se calhar também nem poderia atuar. Há incêndios por todo o lado, na zona norte e centro, e basta comparar o mapa dos eucaliptos com o mapa onde arde, é o mesmo. Arde o Cavaquistão ou o Eucaliptugal 

Houve muitos prejuízos, casas que arderam, feridos e mortos a lamentar.

Felizmente nesse mesmo dia as coisas acalmaram e, apesar do muito fumo, o incêndio foi extinto. 

Várias pessoas contactaram-me a saber se estava tudo bem, incluindo algumas com quem não falavam há imenso tempo.

Foi uma tragédia. Todos conhecemos as causas mas ano após ano nada se faz e tudo continuará a arder, para encher os bolsos a alguns, muito poucos, e para miséria de todos os portugueses, para miséria da nossa flora e fauna. 

Mas agora olho para o comportamento do nosso presidente da república e comparo as atitudes de 2017 com as que tomou agora. 


Em 2017 o "Estado falhou", era preciso rolarem cabeças, despediu a ministra da administração interna em direto. Mas agora, sete anos depois, em que a ministra nem sequer apareceu, nem se dignou a falar, e em que um primeiro-ministro mente descaradamente, e atira areia para os olhos das pessoas, falando de fantasmas, como se houvesse um plano orquestrado para prejudicar o país, quando o que os dados oficiais nos dizem que a maioria dos incêndios é resultado de negligência, já o nosso presidente-das-selfies nada faz e nada diz. 

Agora que o governo é da sua cor, e ele que tudo fez para os colocar lá, agora já está tudo bem. 

Não, Marcelo, não está tudo bem. Está tudo igual. A única coisa que está diferente é o teu comportamento, o teu e o da comunicação para com o este novo governo. Agora a comunicação está muito mansinha, quase amestrada perante todo o rol de irresponsabilidades que têm acontecido: assaltos aos computadores com os segredos do Estado do Ministério da Administração Interna, fuga de presos perigosos de uma cadeia de alta segurança, a falta de milhares de professores no início do ano letivo, o caos na saúde com urgências fechadas e as grávidas a terem os filhos na autoestrada...

Pensado bem, se calhar, os incêndios até deram jeito ao governo... 

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