Na mesma semana em que, estupidamente, decidi colocar o teu nome lá na rede social onde as pessoas colocam fotografias de si mesmas a olhar para o chão ou em frente de espelhos, um passarinho entrou-me sala adentro e confirmou-me o que há muito suspeitava. Estás separada.
Sim, não sei que me passou pela cabeça para colocar o teu nome. Sempre que me lembro disso apetece-me ir buscar o cilício e malhar com ele forte e feio nas costas para não voltar a cometer tamanha estupidez. O pior é que tu estavas mesmo lá. Felizmente que a tua conta está privada e só vi a foto de perfil com os três nomes com que sempre assinaste. Entrei em choque. E espero mesmo esquecer-me desse vislumbre atual e manter na memória a imagem da pessoa que conheci há mais de vinte anos.
Foi uns dias depois de ter comprado uma estante preta, toda modernaça, e vê lá tu que é o primeiro móvel IKEA que comprei para minha casa (aquela que eu sempre dizia que era a nossa casa) e logicamente que foi uma estante usada (como nova) e a um excelente preço, porque, como já não te lembrarás, eu não brinco com essas coisas de gastar dinheiro, e, depois de a ter montado (parecia que tinha voltado atrás no tempo para montar os Legos que não tive em criança) entrou-me um passarinho preto, de tons azulados na sala e, no meio de todas as pilhas de tralhas que estavam por lá dispostas, ao ver uma pequena moldura, com várias fotografias tuas e com uma minha no meio, disse-me, assim do nada, que estavas separada. Nada que eu já não suspeitasse há anos, afinal, tu mesma me confidenciaste. Ele não iria ficar contigo para sempre como eu ficaria...
Sorrio cinicamente quando penso que, tantos anos depois, estamos ambos na Casa da Partida. Não me invade nenhum sentimento de regozijo ao saber disso. Pelo contrário. Tenho pena. A sério. Não por nós, mas por ti. Tinhas obrigação de saber que o Karma é muito fodido.
Sorrio cinicamente quando penso que, tantos anos depois, estamos ambos na Casa da Partida. Não me invade nenhum sentimento de regozijo ao saber disso. Pelo contrário. Tenho pena. A sério. Não por nós, mas por ti. Tinhas obrigação de saber que o Karma é muito fodido.
E ontem tinha ido ao carro buscar uma esferográfica para escrever umas coisas com a minha camarada de trabalho, quando olhei para a caneta e lhe disse que a tinha recebido numa entrevista de emprego há uns bons anos. Éramos uns nove candidatos para uma só vaga. E como é que eu poderia ter ficado com a vaga? Até o meu ex-chefe (com melhor currículo) estava lá!
E não é que hoje, estávamos os dois, lado a lado a trabalhar, quando o senhor administrador, que tinha entrado com alguém de fora da empresa, me chama.... Olho, ainda à distância, e... é o Carlos!!
O que é que estava ali a fazer o Carlos?, o meu primeiro formador da anterior empresa onde trabalhei até ter encerrado portas? Estava lá, precisamente, de camisola vestida com o nome da empresa para a qual eu tinha concorrido e eram nove candidatos, e onde também tinha estado o meu ex-chefe, que era ele, e que por ali entrou hoje, um dia depois! Então foi mesmo ele que ficou com a vaga!
Claro que não fiz vista grossa, cumprimentei-o efusivamente, tendo-me até alheado do que o senhor administrador me havia pedido. Não foi por mal!
E devo ter repetido umas duzentas vezes "que engraçado"....
- Tens falado com alguém que trabalhou lá na empresa?
Não, não estou no Facebook e afins, não tenho falado com ninguém.
Como te compreendo!
Mexer na merda implica sempre um cheiro nauseabundo. Seria impossível remexer no passado e não ficar a pensar nele. Como é que se chamava a última empresa onde trabalhaste nos últimos meses que estivemos juntos? Não me conseguia lembrar... Mesmo tendo sido eu a ter visto o anúncio no Expresso e a incentivar-te que enviasses, de novo, para lá o currículo, para que para lá regressasses... Mas como é que se chamava a merda da empresa? De vez em quando temos brancas.... O Freud é que explicava isso bem. Deves saber melhor que eu, afinal, tu é que és de psicologia. Mas é sabido que por vezes apagamos mesmo certas informações. Não acho que tenha sido o caso, mas pronto, queria-me lembrar da merda do nome da empresa! Mas nada que com a internet hoje em dia não se descubra, não é? E de novo o choque. Eu sempre digo que nós andamos sempre à volta uns dos outros, mas estar a trabalhar a cinco minutos dessa empresa é um bocado coincidência demais, não?
E para finalizar em grande a semana, o reencontro com o João.
"Eu sento-me como quiser"!
Como assim, não estou ver. Relembra-me...
Quando tu não estavas corretamente sentado, e passa uma empregada e diz-te que não é assim que se senta e tu: "eu sento-me como quiser", e o pessoal todo a olhar... Hei....
A sério, já não me lembrava como era tão rebelde!
De tarde quando me ligavas, falavas que o passado tinha regressado - também a ti?, perguntei!
Foi muito bom o reencontro que aconteceu há meia dúzia de minutos. Histórias semelhantes. Relações que acabam de forma semelhante. Olhar o passado com os olhos de quem já cá está há algum tempo. O que correu mal... como poderia ter sido tão diferente... ou tão igual. As mesmas histórias repetidas até à exaustão, porque se calhar todas as histórias de amor são iguais.
Mas todos os dias voltamos à Casa da Partida. Todos os dias são novas oportunidades. Quanto ao passado, bom, é melhor não invocá-lo, porque ele pode mesmo decidir aparecer.
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