segunda-feira, 29 de maio de 2017

Depressão: o confronto com o inevitável

O último programa "O Amor é" da Antena 1, que ouvi ontem, versou sobre um artigo que saiu a semana passada no El País, e que refere que dois milhões e meio de espanhóis sofrem de depressão, e que a depressão em 2030 será a primeira causa de incapacidade no mundo. Já o programa  caminhava para o fim, quando retive estas palavras do mestre, e que eu mesmo digo tantas vezes:

"O que não se pode esperar é que, seja qual for a pastilha, vá alterar essas condições, que estão a pôr-lhe a cabeça num torno, ou que modifiquem formas de funcionar que se tornaram em si reflexas e que fazem com que a sua vida não corra bem, e que você se prejudica a si mesma. Não pode pedir isso à pastilha. Em contrapartida,numa psicoterapia pode descobrir isso e pode modificar maneiras de funcionar. O que não é fácil. 

Porque, por exemplo, para essas pessoas (na maior parte das vezes) de uma forma inconsciente, por incrível que lhe possa parecer, a situação que, neste momento as atormenta é má, mas a resolução dessa situação é ainda mais ameaçadora. 

Vou-lhe dar um exemplo clássico (que mostra bem como estou num dia sem réstia de imaginação!) : se aquela pessoa está deprimida por a sua vida conjugal ou a sua relação estar de pantanas, e ela sofre forte e feio, mas se a pessoa, durante a psicoterapia, começa, consciente ou inconscientemente, a aperceber-se que a única maneira de resolver aquilo é a separação, a pessoa pode desaparecer da psicoterapia. Porque a hipótese da separação, é ainda mais aterradora do que a maneira como sofre. 
Ou por questões religiosas, ou porque na família nunca ninguém se divorciou, ou porque tem lá um medo, pânico, de ficar sozinha, ou por, uma miríade de razões: é mais ameaçador sair daquele estado, do que nele ficar, e esta pessoa pode, por exemplo, tornar-se deprimida crónica. 

Júlio Machado Vaz 

Para ouvir o programa: A depressão ainda é um tabu

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