Eu não sei se nesse tempo havia tempo para tristezas e melancolia. É claro que havia as festas e divertimentos da nobreza, e as festas e divertimentos do povo, mas de uma maneira geral tudo dava lugar a uma festa.
Não podemos ver o passado à luz dos nossos olhos atuais.
A terra era a principal fonte de riqueza. A quem é que pertenciam as terras? As terras pertenciam ao rei, à nobreza e ao clero. É claro que depois o povo onde é que para no meio disso tudo? O povo vai arrendar terras a esses senhores. Arrenda uma parcela de terreno e esse arrendamento é pago em géneros, é pago em dias de trabalho nas terras que pertencem ao senhor,e mais tarde, uma percentagem paga em dinheiro. Impostos. Muitos impostos. E o dízimo de tudo pago à Igreja. E o senhorio poderia cobrar os impostos que quisesse.
As mulheres trabalhavam?
As mulheres do povo trabalhavam. Esse é outro dos mitos. A mulher na Idade Média trabalhava lado a lado com o homem. Trabalhava na agricultura, trabalhava no comércio, e se fossem solteiras poderiam ter as suas lojas.
Nessa altura já havia contracetivos. Sempre à volta das mezinhas. E já havia forma de abortar. É claro que o aborto não era bem visto, mas o próprio livro do Pedro Hispano tem lá várias receitas
Era prática da época dar uma criança em amamentação a uma ama. Porquê? Porque teoricamente uma mulher em amamentação não engravida, e era normal amamentar uma criança durante três ou quatro anos. Ora, teoricamente, se uma mulher estivesse três ou quatro anos a amamentar o seu filho, eram três ou quatro anos de gravidezes perdidas.
Casamentos negociados a nível da Nobreza e da realeza. A nível do povo não. Nao eram negociados? Casava-se por amor? A nível do povo tudo era mais liberto, tudo era mais simples. É claro que o casamento válido, seria o casamento pela Igreja, mas de qualquer das formas podia-se casar dizendo só mais ou menos estas palavras:
"Queres casar comigo? Quero. Queres casar comigo? Também quero. E estamos casados". Sem testemunhas? Sim. Isso é melhor do que hoje!
Claro que era por amor. E repare que o casamento entre o nosso D. Fernando com a Dona Leonor Teles, começa por ser um casamento às escondidas. É um casamento a furto, porque a população não gostava da Dona Leonor Teles....
Ana Rodrigues Oliveira, autora do livro "O dia-a-dia em Portugal na Idade Média" no Programa Quinta Essência / Antena 2
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